segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Governadores “pegam carona” em políticas públicas federais, avalia especialista





Os eleitores não diferenciam políticas federais e estaduais, ou seja, não sabem creditar uma ação à pessoa pública ou gestão responsável. Desta forma, governadores costumam “pegar carona” nos bons resultados da economia nacional – ou até mesmo mundial. A lógica é simples: se o Brasil vai bem, o governador tem maior chance de reeleição, mesmo sem ter contribuído para a taxa de crescimento. A cada ponto percentual na redução do desemprego, por exemplo, o governador tem cerca de 2,44% a mais de votos na eleição seguinte. A constatação é do economista da Procuradoria Geral da República (PGR) José Jorge Gabriel. Para ele, na hora de votar, os eleitores brasileiros são orientados pela expansão da economia nacional e recompensam os políticos com base em resultados reais.

Os cidadãos, de acordo com José Jorge, têm capacidade muito restrita de avaliação dos governadores estaduais e, como não conseguem diferenciar muito bem o que se deve ao governador, o recompensam, por meio de mais votos na eleição seguinte, no caso da economia ir bem, ou o penalizam, não votando mais nele, caso a economia vá mal.

Os eleitores atribuem resultados positivos aos governadores que, muitas vezes, não são de responsabilidade deles, melhorando, assim, a imagem do político junto à sociedade. “Se a taxa de desemprego cai, por exemplo, os resultados mostram que os governadores ganham mais votos nas reeleições. Se a taxa de pessoas pobres do estado aumenta, o governador perde votos”, avalia José Jorge. A pesquisa desenvolvida centrou-se nas eleições para governadores, já que, segundo ele, há escassez de informações de dados econômicos em nível municipal.

No entanto, os governadores também colhem frutos negativos. “Se a taxa de pessoas pobres do Brasil como um todo aumenta, isso também repercute para o governador de um estado. Apesar de não ter responsabilidade sobre todo o território nacional, o governador vai de ‘carona’ com o presidente da República”, explica. Em sua tese de mestrado "Democracia, mercado e racionalidade: um estudo sobre o eleitor no Brasil", defendida na Universidade de Brasília (UnB) este ano, o economista analisou o período eleitoral de 1994 a 2006 e comparou os resultados com o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) per capita, as taxas de desemprego, de segurança, pobreza e saneamento. O economista trabalhou com dados agregados, ou seja, com resultados médios para o Brasil, nos pleitos estaduais em quatro momentos eleitorais.

Para o economista, a repercussão desse comportamento do eleitor é negativa para a democracia. “É ruim no sentido de que não cria um ‘vínculo’ entre o que o governador realmente faz e como o eleitor o avalia o”, afirma. “Logicamente, existem muitos outros fatores pelos quais o eleitor vota em um político, tais como empatia, ideologia, etc. Mas é consenso que esse tipo de ‘voto retrospectivo’ deveria ser responsável por grande parte dos votos dos eleitores”, completa.

O economista também aponta que o eleitor comum não age para proteger seus interesses, como faz no privado, em âmbito político. Há, sim, uma disparidade entre o comportamento do indivíduo enquanto consumidor e eleitor. A pessoa que vota quase não se interessa em fiscalizar o dinheiro público, enquanto um cliente se preocupa excessivamente com o próprio dinheiro.

A conduta diferenciada nestas duas situações, segundo José Jorge, alimenta a desconfiança quanto à eficiência do cidadão em tomar decisões políticas. “A maior parte dos economistas concorda que as decisões que os consumidores e empresários tomam são as mais eficientes, no sentido de aproveitar da melhor forma os recursos que possuem; não desperdiçam dinheiro”, frisa. “Já quando se trata de eleitores e políticos, entretanto, a maior parte dos economistas acredita que as decisões que eles tomam acarretam em desperdício de recursos”, pondera.


A explicação para a mudança de comportamento é a de que os eleitores não possuem informação suficiente sobre o comportamento dos políticos, nem têm a preocupação de se informarem. “Os eleitores não são diretamente afetados pelas decisões que os políticos tomam como são afetados por decisões próprias na esfera privada”, ressalta. “O efeito de uma política pública, na maioria dos casos, é apenas indireto. E os custos de uma política pública errada são repartidos por todos, ao contrário do que acontece com erros na esfera privada”, constata.

Para José Jorge Gabriel, o eleitor vota ideologicamente ou emocionalmente. Desta forma, o voto fica dissociado do desempenho que o político teve, como a análise do trabalho que realizou. “Não se informando a respeito do político, o eleitor não cria o vínculo necessário ao bom funcionamento da democracia”, observa. Jorge ressalta ainda que ao não votar conscientemente, o eleitor oferece subsídios para um problema ainda maior. “Ao não controlar o político por meio do voto, votando de acordo com o que ele ‘produziu’, o político acaba usando o aparato estatal em benefício próprio, ao invés de usar esse aparato em benefício da sociedade”, alerta.

Sobre as eleições do próximo ano, o economista acredita que o “efeito carona” deve se repetir, mas lembra que a economia ir bem é apenas um dentre diversos fatores que o eleitor leva em consideração na hora de escolher um político. “Existe um vínculo partidário também entre os governadores e o presidente, mas ele não é predominante, ou seja, na média todos os governadores se beneficiam quando a economia vai bem”, conclui.

Veja a íntegra do estudo.

Amanda Costa
Do Contas Abertas

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