Dezembro está sendo um mês de emoções intensas no Rio Grande do Sul. Quando ninguém mais esperava novos lances na definição do tabuleiro, dois fatos aparentemente desconexos alteraram a cena política.
De um lado, a luta interna no PMDB para definir um candidato para 2010 teve um desfecho favorável a José Fogaça. De outro, uma pesquisa divulgada pelo Instituto Methodus indicou a vitória do ministro Tarso Genro em todos os cenários, no primeiro e no segundo turno.
O PMDB diante do óbvio
Até final de novembro, Fogaça vinha negando a candidatura. Pretendia deixar a sua saída da prefeitura de Porto Alegre para o prazo limite, de olho nos louros que um conjunto de obras e iniciativas (a maioria com recursos do governo federal, como as da Copa) poderiam lhe trazer. Mas Fogaça não aguentou a pressão. O xeque-mate que obrigou-o a sair da moita veio do próprio PMDB. O anúncio de Germano Rigotto dizendo não ser candidato a governador em nenhuma hipótese acabou “deixando o partido sob o risco de uma anomia”, nas palavras do próprio candidato.
Ou seja, o PMDB gaúcho, atravessado por um debate surdo entre o lulismo e os tucanos, deparou-se com o óbvio: a necessidade de ter um candidato em torno ao qual construir sua política para 2010. Teria sido o próprio senador Simon, presidente do PMDB no estado, que teria convencido o prefeito de Porto Alegre. A indefinição já começava a ser vista pelas bases como insegurança da cúpula e muitos, principalmente os prefeitos do interior, já ameaçavam engrossar as fileiras do ministro Tarso Genro, de olho nos cofres federais.
A pesquisa e suas limitações
Pesquisas a esta altura são apenas termômetro. Mas é exatamente isso que deve ter apavorado os peemedebistas. Pela pesquisa, o governo Yeda Crusius, até agora sustentado e blindado pelo PMDB, inclusive, é um governo reprovado por 64,6% dos gaúchos. E por maior que seja o esforço para tentar reconstruir sua imagem, Yeda não pára de produzir negatividades. A mais recente, depois de afrontar brigadianos e professores com um projeto na Assembleia que desmonta as carreiras e está levando os professores a uma greve, foi a revelação de que sua filha, sem renda para tal, também teria comprado uma casa. Ao mesmo tempo que esta percepção se torna irreversível, apesar da ampla e total cobertura da mídia, o governo Lula soma 67,2% de aprovação. A diferença, no caso do presidente, é que Lula sofre no Rio Grando do Sul uma campanha sistemática e cotidiana contra o seu governo, capitaneada pela mídia gaúcha.
Neste quadro desastroso para os tucanos e confortável para os petistas, o ministro Tarso Genro, que largou na frente e é pre-candidato a governador desde o primeiro semestre do ano, aparece em primeiro lugar em todos os cenários possíveis. Na menção espontânea, o ministro tem 11,1% dos votos e o prefeito de Porto Alegre tem 6,0%. A rigor, Fogaça empata com três outros nomes (Olívio Dutra, PT, 5,9%; Rigotto, PMDB, 5,8%; Yeda Crusius, PSDB, 5,2%) e, assim como seu adversário, encontra dificuldades para traçar um caminho seguro até as urnas em 2010.
Mas se Tarso aparece bem (com 32,9% contra 25,7% de José Fogaça no primeiro turno) e, pelas pesquisas de hoje, tendencialmente é o vencedor (ganha em todos os cenários de segundo turno, inclusive contra Fogaça, por 48,5% a 39,6%) a decisão do PMDB de fardar-se para entrar em campo acelerou o processo de definição das alianças.
A noiva em disputa
Pesquisas e pressão nos bastidores: estes foram os ingredientes para Fogaça mudar seu posicionamento. A pressão veio de todos os lados, mas principalmente do PDT.
Com o anúncio da candidatura de Fogaça, o PDT praticamente já assumiu a prefeitura de Porto Alegre. É um dezembro de café frio para o prefeito e tinindo para o vice, José Fortunatti, que deverá governar os próximos dois anos. Na lógica do senador Simon, o anúncio do nome de Fogaça tornaria natural o apoio do PDT à candidatura do atual prefeito a governador em 2010. Mas, passados alguns dias, de novo tudo pode acontecer, inclusive o PDT governar Porto Alegre e figurar na vice de Tarso Genro.
O PDT promete reunir-se dia 17 e definir sua posição. Internamente, haveria três possibilidades. Candidatura própria, Tarso Genro ou José Fogaça. Nesta semana que antecede o Natal, o líder do governo Lula na Câmara e um dos coordenadores da campanha do ministro Tarso, deputado Henrique Fontana, anunciava a intenção de apresentar ao PDT gaúcho uma proposta irrecusável. CartaCapital.
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