domingo, 10 de março de 2013

Assange e Yoani: dois pesos e duas medidas da imprensa alienígena

 

Por Davis Sena Filho Blog Palavra Livre

Até o momento a imprensa comercial e privada, seja por intermédio de seus editoriais ou por meio de seus chefes de redação, colunistas ou blogueiros, que chamam ridiculamente seus patrões de colegas ou coleguinhas, não gritou, não esperneou, não xingou e não se estrebuchou por causa da perseguição do governo estadunidense ao fundador do sítio Wikileaks, Julian Assange, bem como não protestou contra a censura ao seu portal.

Nada que me comovesse ou me surpreendesse. Esperar discernimento e isenção de jornalistas que consideram seus patrões como colegas é a mesma coisa que esperar uma boa ação do capeta ou de jornais e revistas, a exemplo da "Folha", do "Estadão", do "Zero Hora", de "O Globo", de "Época" e da Última Flor do Fáscio — a ardilosa e inconsequente"Veja".

Enquanto isso, a blogueira cubana, Yoani Sánchez, é recebida pela mídia de direita brasileira como se fosse a salvação da lavoura quando se trata de criticar Cuba e o regime socialista. São dois pesos e duas medidas. Enquanto Yoani realiza se périplo pelo mundo a atacar seu próprio país, o australiano Assange perdeu sua liberdade e o direito de falar por ser ameaçado pelos governos da Inglaterra e dos EUA, países esses que se consideram os defensores da democracia e da liberdade de imprensa e de expressão.

Yoani deitou falação e mostrou para o que veio: atacar o governo cubano e defender o establishment, o qual ela serve, representa e por ele é financiada, sem, contudo, demonstrar qualquer constrangimento. Foi recebida com palmas pelos representantes da direita partidária brasileira ao tempo que ovacionada pelos editores, colunistas, blogueiros e comentaristas da imprensa conservadora e de negócios privados, que abriram-lhe as páginas de suas publicações, bem como franquearam sua imagem aos espaços televisivos.

A blogueira cubana é acusada de ser financiada pelo governo dos Estados Unidos para fazer propaganda contra Cuba. Grandes jornais e revistas também a financiam, e sua viagem, que começou no Brasil, vai durar 80 dias, sendo que dez países vão ser visitados. Todavia, o que chama atenção de seus críticos é o blog de Yoani Sánchez. O blog da cubana é diferenciado em relação à maioria dos blogs, mesmo os grandes.

No espaço, pode-se ler textos em 21 idiomas, inclusive o espanhol. Para se ter uma ideia melhor de tal blog, nem o sítio da ONU oferece tantas traduções aos leitores. Além do mais, o baronato encastelado na conservadoríssima Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), proprietário de organizações de comunicação e de jornais premiaram o blog de Yoani Sánchez, o que lhe rendeu prêmios em forma de dinheiro. Por seu turno, o Wikileaks, de Julian Assange, aquele que está asilado em Londres e se sair pode ser preso ou morto e ninguém faz nada, publicou documentos revelando encontros e relações entre a blogueira e o governo yankee. Yoani é acusada também de se envolver com a CIA.

Esses fatos e realidades são inacreditáveis ao tempo que verossímeis. E ninguém, mas ninguém mesmo da imprensa de mercado não comenta sobre as diferenças de tratamento a Yoani Sánchez e Julian Assange, tanto por parte de governos quanto pelo sistema midiático hegemônico. O Wikileaks divulgou os bastidores sujos e levianos da diplomacia (do porrete) estadunidense e por isso foi censurado e seu criador preso e depois asilado. Ninguém da imprensa alienígena contestou e protestou. A imprensa historicamente golpista se calou e apenas informa sobre os acontecimentos, mas não protesta, não critica e não faz editorial em prol de Julian Assange, que perdeu a liberdade, pois asilado na Embaixada do Equador em Londres. Enquanto o tratamento dado à Yoani Sánchez...

A oligarquia midiática não protesta sobre essa perseguição ao australiano como protesta e se estrebucha quando o governo brasileiro diz que quer discutir a comunicação e a informação, quando quer regulamentar o setor (nossas leis são de 1962, por isto estão defasadas) e quando fala em criar o Conselho Federal de Jornalismo, órgão que, para mim, deveria existir há muito tempo, como acontece em outras categorias profissionais e empresariais e segmentos da economia, que têm seus conselhos, e, o mais importante, seus marcos regulatórios.

Não. Neca de pitibiribas. Nada de protesto. Somente se sentem indignados e se comportam dessa forma quando o Governo chama a sociedade brasileira, de forma democrática, para discutir sobre os rumos do setor de comunicação, além de procurar debater sobre a liberdade de expressão, a liberdade de imprensa, a liberdade de imprimir e as concessões públicas, dentre outras questões, que foram discutidas, de forma séria, nas plenárias da 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), realizada no fim de 2009, em Brasília.

A Confecom ouviu a sociedade, elaborou documento que vai ser analisado pelo Congresso, que um dia vai ter de dar uma solução para a questão das mídias. Mas existe um problema: os megaempresários de comunicação, os "donos" das diferentes mídias, dos oligopólios midiáticos, boicotaram a Confecom e boicotam e combatem qualquer ação que vise regulamentar o setor, por intermédio de marco regulatório que seja aprovado pelo Congresso, que é o poder onde a sociedade brasileira é representada, porque ela votou e institucionalizou seus representantes, que são reconhecidos pela Constituição.

Esta é a questão, o resto é dissimulação e mentira da imprensa burguesa, empresarial e privada, a mais atrasada do mundo, onde atuam os empresários mais conservadores deste País, realidade esta comprovada nas últimas eleições, quando suas empresas (muitas delas são concessões públicas) agiram ilegalmente como partidos políticos de direita e que apoiaram, evidentemente, o candidato tucano José Serra.

Agora os empresários e seus asseclas de redação se calam sobre o Wikileaks, porque não convêm a eles defender a liberdade de imprensa e de expressão que esses empresários tanto clamam quando se trata de defender seus interesses econômicos e políticos. Eles se calaram porque são porta-vozes do sistema capitalista, dos governos estadunidenses, dos bancos, das entidades empresarias industriais e rurais e de agências de segurança, investigação e espionagem como a CIA, por exemplo.

Por isso eles se calaram, como o fizeram na ditadura militar. A Folha, então, era "sócia"do DOI/CODI. E a TV Globo foi irmã siamesa de todos cinco governos dos generais presidentes. É filha autêntica dessa era. Lamentável, mas ter de aturar a imprensa brasileira é dose para mamute ou, quiçá, mastodonte. Somente no Brasil, País importante e poderoso, ainda existe uma imprensa privada que quer eternizar sua condição de senhora feudal ou de governadora de capitania hereditária.

Obviamente, com o contínuo fortalecimento do estado democrático de direito no Brasil, um dia essa realidade vai ter fim. Bem, vamos esperar para ver como esse processo vai acabar e como a imprensa burguesa vai se comportar doravante, apesar deu eu saber que sua posição vai ser a de sempre compor com os grupos conservadores da sociedade e ter como porta-voz do pensamento reacionário suas próprias empresas de comunicação. Que o digam os casos emblemáticos de Julian Assange e Yoani Sánchez. Dois pesos e duas medidas. É isso aí.

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