Por
Davis Sena Filho — Blog Palavra
Livre
Até o momento a imprensa comercial e
privada, seja por intermédio de seus editoriais ou por meio de seus chefes de
redação, colunistas ou blogueiros, que chamam ridiculamente seus patrões de
colegas ou coleguinhas, não gritou, não esperneou, não xingou e não se
estrebuchou por causa da perseguição do governo estadunidense ao fundador do
sítio Wikileaks, Julian Assange, bem como não protestou contra a censura ao seu
portal.
Nada que
me comovesse ou me surpreendesse. Esperar discernimento e isenção de jornalistas
que consideram seus patrões como colegas é a mesma coisa que esperar uma boa
ação do capeta ou de jornais e revistas, a exemplo da "Folha", do "Estadão", do
"Zero Hora", de "O Globo", de "Época" e da Última Flor do Fáscio — a ardilosa e
inconsequente"Veja".
Enquanto
isso, a blogueira cubana, Yoani Sánchez, é recebida pela mídia de direita
brasileira como se fosse a salvação da lavoura quando se trata de criticar Cuba
e o regime socialista. São dois pesos e duas medidas. Enquanto Yoani realiza se
périplo pelo mundo a atacar seu próprio país, o australiano Assange perdeu sua
liberdade e o direito de falar por ser ameaçado pelos governos da Inglaterra e
dos EUA, países esses que se consideram os defensores da democracia e da
liberdade de imprensa e de expressão.
Yoani
deitou falação e mostrou para o que veio: atacar o governo cubano e defender o
establishment, o qual ela serve, representa e por ele é financiada, sem,
contudo, demonstrar qualquer constrangimento. Foi recebida com palmas pelos
representantes da direita partidária brasileira ao tempo que ovacionada pelos
editores, colunistas, blogueiros e comentaristas da imprensa conservadora e de
negócios privados, que abriram-lhe as páginas de suas publicações, bem como
franquearam sua imagem aos espaços televisivos.
A
blogueira cubana é acusada de ser financiada pelo governo dos Estados Unidos
para fazer propaganda contra Cuba. Grandes jornais e revistas também a
financiam, e sua viagem, que começou no Brasil, vai durar 80 dias, sendo que dez
países vão ser visitados. Todavia, o que chama atenção de seus críticos é o blog
de Yoani Sánchez. O blog da cubana é diferenciado em relação à maioria dos
blogs, mesmo os grandes.
No
espaço, pode-se ler textos em 21 idiomas, inclusive o espanhol. Para se ter uma
ideia melhor de tal blog, nem o sítio da ONU oferece tantas traduções aos
leitores. Além do mais, o baronato encastelado na conservadoríssima Sociedade
Interamericana de Imprensa (SIP), proprietário de organizações de comunicação e
de jornais premiaram o blog de Yoani Sánchez, o que lhe rendeu prêmios em forma
de dinheiro. Por seu turno, o Wikileaks, de Julian Assange, aquele que está
asilado em Londres e se sair pode ser preso ou morto e ninguém faz nada,
publicou documentos revelando encontros e relações entre a blogueira e o governo
yankee. Yoani é acusada também de se envolver com a CIA.
Esses
fatos e realidades são inacreditáveis ao tempo que verossímeis. E ninguém, mas
ninguém mesmo da imprensa de mercado não comenta sobre as diferenças de
tratamento a Yoani Sánchez e Julian Assange, tanto por parte de governos quanto
pelo sistema midiático hegemônico. O Wikileaks divulgou os bastidores sujos e
levianos da diplomacia (do porrete) estadunidense e por isso foi censurado e seu
criador preso e depois asilado. Ninguém da imprensa alienígena contestou e
protestou. A imprensa historicamente golpista se calou e apenas informa sobre os
acontecimentos, mas não protesta, não critica e não faz editorial em prol de
Julian Assange, que perdeu a liberdade, pois asilado na Embaixada do Equador em
Londres. Enquanto o tratamento dado à Yoani Sánchez...
A
oligarquia midiática não protesta sobre essa perseguição ao australiano como
protesta e se estrebucha quando o governo brasileiro diz que quer discutir a
comunicação e a informação, quando quer regulamentar o setor (nossas leis são de
1962, por isto estão defasadas) e quando fala em criar o Conselho Federal de
Jornalismo, órgão que, para mim, deveria existir há muito tempo, como acontece
em outras categorias profissionais e empresariais e segmentos da economia, que
têm seus conselhos, e, o mais importante, seus marcos
regulatórios.
Não. Neca
de pitibiribas. Nada de protesto. Somente se sentem indignados e se comportam
dessa forma quando o Governo chama a sociedade brasileira, de forma democrática,
para discutir sobre os rumos do setor de comunicação, além de procurar debater
sobre a liberdade de expressão, a liberdade de imprensa, a liberdade de imprimir
e as concessões públicas, dentre outras questões, que foram discutidas, de forma
séria, nas plenárias da 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom),
realizada no fim de 2009, em Brasília.
A
Confecom ouviu a sociedade, elaborou documento que vai ser analisado pelo
Congresso, que um dia vai ter de dar uma solução para a questão das mídias. Mas
existe um problema: os megaempresários de comunicação, os "donos" das diferentes
mídias, dos oligopólios midiáticos, boicotaram a Confecom e boicotam e combatem
qualquer ação que vise regulamentar o setor, por intermédio de marco regulatório
que seja aprovado pelo Congresso, que é o poder onde a sociedade brasileira é
representada, porque ela votou e institucionalizou seus representantes, que são
reconhecidos pela Constituição.
Esta é a
questão, o resto é dissimulação e mentira da imprensa burguesa, empresarial e
privada, a mais atrasada do mundo, onde atuam os empresários mais conservadores
deste País, realidade esta comprovada nas últimas eleições, quando suas empresas
(muitas delas são concessões públicas) agiram ilegalmente como partidos
políticos de direita e que apoiaram, evidentemente, o candidato tucano José
Serra.
Agora os
empresários e seus asseclas de redação se calam sobre o Wikileaks, porque não
convêm a eles defender a liberdade de imprensa e de expressão que esses
empresários tanto clamam quando se trata de defender seus interesses econômicos
e políticos. Eles se calaram porque são porta-vozes do sistema capitalista, dos
governos estadunidenses, dos bancos, das entidades empresarias industriais e
rurais e de agências de segurança, investigação e espionagem como a CIA, por
exemplo.
Por isso eles se calaram, como o fizeram na ditadura militar. A Folha, então,
era "sócia"do DOI/CODI. E a TV Globo foi irmã siamesa de todos cinco governos
dos generais presidentes. É filha autêntica dessa era. Lamentável, mas ter de
aturar a imprensa brasileira é dose para mamute ou, quiçá, mastodonte. Somente
no Brasil, País importante e poderoso, ainda existe uma imprensa privada que
quer eternizar sua condição de senhora feudal ou de governadora de capitania
hereditária.
Obviamente, com o contínuo fortalecimento do estado
democrático de direito no Brasil, um dia essa realidade vai ter fim. Bem, vamos
esperar para ver como esse processo vai acabar e como a imprensa burguesa vai se
comportar doravante, apesar deu eu saber que sua posição vai ser a de sempre
compor com os grupos conservadores da sociedade e ter como porta-voz do
pensamento reacionário suas próprias empresas de comunicação. Que o digam os
casos emblemáticos de Julian Assange e Yoani Sánchez. Dois pesos e duas medidas.
É isso aí.
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