13/03/2009
Rodrigo Martins
O Ministério Público paulista ofereceu, na quarta-feira 11, denúncia à Justiça de Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo, contra quatro policiais militares acusados de executar Antonio Carlos da Silva, de 31 anos. Carlinhos, como era conhecido, tinha deficiência mental e teve o corpo encontrado com a cabeça decapitada em outubro de 2008, numa avenida do bairro da Lagoa. Os soldados Moisés Alves dos Santos, Rodolfo da Silva Vieira, Joaquim Aleixo Neto e Anderson dos Santos Salles, do 37º Batalhão da Polícia Militar, são apontados como os autores do crime.
O promotor Marcos de Matos, responsável pelo caso, qualificou a ação como “típica de um grupo de extermínio”. Outros cinco policiais foram indiciados pela Polícia Civil por envolvimento no homicídio, mas a Promotoria entendeu que ainda não havia indícios concretos da participação deles no crime. “As investigações continuam. Se aparecerem novas provas, outros poderão ser denunciados”, afirmou à CartaCapital. “Estou aguardando a conclusão de um outro inquérito, no qual há PMs acusados de serem os autores de um duplo homicídio, com características semelhantes a deste caso. As vítimas também tiveram a cabeça decapitada.”
Um relatório da Polícia Civil, entregue no último dia 6 de março, conclui que há um grupo de extermínio da Polícia Militar de São Paulo, integrado por ao menos quinze policiais e um comerciante, suspeitos de envolvimento na morte de doze indivíduos no ano passado. Dessas vítimas, sete foram assassinadas a tiros e cinco tiveram a cabeça decapitada a golpes de machado, provavelmente para dificultar a identificação dos cadáveres.
O documento, assinado pelo investigador chefe da Seccional de Taboão da Serra, Ivan Jerônimo da Silva, compara a atuação dos PMs paulistas com o famoso “Esquadão da Morte”, grupo de policiais que começou a agir no Estado da Guanabara (hoje Rio de Janeiro) na década de 60 e se disseminou por vários estados brasileiros. Uma das organizações mais famosas era a “Scuderia Detetive Le Cocq”, que reuniu policiais do alto e do baixo clero do Espírito Santo, além de advogados, promotores e juízes. A Scuderia parece ter servido de inspiração aos PMs paulistas, tanto que no computador de um dos acusados foi encontrado um desenho com a inscrição “Força Tática”, a equipe que integrava, semelhante ao emblema do grupo de extermínio capixaba.
Durante a investigação dos assassinatos de Robert Sandro Campos Grande e de Roberto Aparecido Ferreira, apontados como traficantes ligados ao Primeiro Comando da Capital (PCC), dois policiais militares do 37º Batalhão confessaram ter participado do duplo homicídio à Polícia Civil, na presença dos investigadores, dos próprios advogados de defesa e da promotora de Justiça Eliana Passarelli. Depois, negaram a autoria dos crimes. O inquérito foi concluído pela Polícia Civil, mas até a tarde da quinta-feira 12, o promotor Matos não havia recebido o documento.
Os inquéritos sobre as demais mortes ainda não foram concluídos. A Polícia Civil também investiga se o grupo utilizou informações do serviço de inteligência da PM para extorquir dinheiro de supostos criminosos e para apagar os rastros dos crimes cometidos. Uma das testemunhas, que permanece com a identidade resguardada, confirmou que o grupo, denominado de “Highlanders”, cobrava propina para não prender os bandidos abordados na rua.
Dos dezesseis indiciados pela polícia, apenas nove policiais continuam presos. Isto porque, na quarta-feira 11, o juiz Gabriel Pires de Campos Sormani determinou a libertação de seis PMs e do comerciante, dono de uma loja de conveniências onde o grupo costuma se reunir, por entender que não era mais necessário manter a prisão temporária no atual estágio das investigações.
Das doze vítimas, uma ainda não foi identificada. As demais viviam nos bairros de Capão Redondo, Parque Santo Antônio e Jardim Herculano, na periferia de São Paulo. Seis dos mortos foram vistos por testemunhas em carros da PM antes de desaparecerem. “Estamos diante de uma organização criminosa formada por células, sendo certo que alguns achacavam, alguns arrebatavam (as vítimas), alguns executavam, outros acobertavam”, pontuou no relatório o chefe da equipe de investigadores, Ivan Silva.
A Polícia Civil também quer investigar se oficiais da PM eram ligados aos suspeitos e foram coniventes com os crimes atribuídos aos soldados do 37º Batalhão. No relatório da investigação, um dos acusados é citado como apadrinhado do coronel Eduardo Félix, atual comandante da Tropa de Choque e terceiro na hierarquia da PM.
Para concluir as investigações, o promotor Marcos de Matos não descarta a possibilidade de pedir ajuda ao Gaeco, grupo especializado de promotores para o combate ao crime organizado.
Fonte:CartaCapital.
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