25/03/2009
Em entrevista concedida à revista norte-americana Newsweek, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reiterou a necessidade de mais investimentos para contornar a crise econômica e financeira mundial. “Então hoje (no Brasil) estamos investindo em áreas em que não investimos nos últimos trinta anos, em ferrovias, rodovias, hidrovias, represas, pontes, aeroportos, portos, projetos habitacionais, saneamento básico. Temos que ser corajosos, pois no Brasil temos muitas coisas a serem feitas, que já foram feitas em outros países há muitos anos”,disse.
Ele acredita que sob o comando de Barack Obama os Estados Unidos poderão se aproximar mais da América Latina. Há dez dias, Lula consagrou-se como o primeiro líder latino-americano a visitar Obama na Casa Branca. Ambos se encontram novamente no dia 2 de abril, em Londres, para reunião do G-20, que reúne as vinte maiores economias do planeta.
Na entrevista, Lula falou sobre a crise financeira e econômica mundial, os avanços sociais alcançados no Brasil desde que assumiu o governo, em 2003, entre outros assuntos.
Abaixo, trechos da entrevista concedida ao jornalista Fareed Zakaria, em Nova Iorque:
O seu encontro com Obama durou mais do que o esperado. Conversaram sobre o quê?
Conversamos bastante sobre a crise econômica. Também decidimos criar um grupo de trabalho entre os Estados Unidos e o Brasil para participar na reunião do do G-20. Eu disse ao Obama que estou rezando por ele mais do que rezo por mim, por ele ter problemas mais delicados do que os meus. Ele me marcou, e tem tudo para construir uma nova imagem para os Estados Unidos, em relação ao restante do mundo.
O senhor se dava bem com o presidente Bush. Qual a diferença?
Veja, é verdade, eu tive uma boa relação com o presidente Bush. Mas existem problemas políticos, problemas culturais e problemas de malha energética, e espero que o presidente Obama seja o próximo passo para seguirmos em frente. Acredito que o Obama não precisa ficar tão preocupado com a guerra no Iraque. Assim, acredito que ele terá a possibilidade de explorar políticas de construção de paz, onde não há guerra, que é o caso da América Latina e da África.
O senhor é provavelmente o líder mais popular do mundo, com um índice de aprovação em torno de oitenta por cento. Por quê?
O Brasil é um país com pessoas ricas, assim como você vê em Nova Iorque. Mas também temos pessoas pobres como em Bangladesh. Então tentamos provar que era possível desenvolver crescimento econômico simultaneamente melhorando a distribuição de renda. Em seis anos elevamos 20 milhões de pessoas da margem de pobreza à classe média. Trouxemos eletricidade a 10 milhões de lares e aumentamos o salário mínimo todos os anos. Tudo sem ferir ou ofender as pessoas, sem puxar brigas. O pobre brasileiro é hoje menos pobre. E isto é tudo o que queremos.
Há pessoas que acreditam na alta do petróleo, gás e agricultura. O senhor consegue administrar a queda dos preços?
A recente descoberta de petróleo é muito importante, de modo que parte do petróleo que descobrimos irá ajudar a resolver o problema da pobreza e educação. O Brasil não quer ser exportador de petróleo bruto. Queremos ser um país que exporta subprodutos do petróleo – mais gasolina, petróleo de alta qualidade. Os investimentos foram calculados com pelo preço de US$ 35 por barril. Agora, custando US$ 40, ainda temos uma margem de manobra.
Críticos dizem que durante o período de preços altos das commodities o senhor não posicionou o Brasil (...) .
Isso não faz sentido. Quando fui eleito presidente do Brasil, a dívida pública estava em 55% do PIB. Hoje está em 35 % . A inflação estava em 12 % e hoje está em 4.5%. Temos estabilidade econômica. Nossas exportações quadruplicaram. O fato é que o crescimento da economia brasileira é o maior dos últimos trinta anos.
Este ano, a economia do Brasil crescerá?
Estou convencido de que chegaremos ao final do ano com um saldo de crescimento positivo. Mas não prevemos que a crise teria a dimensão ou profundidade que está ocorrendo hoje nos Estados Unidos. Agora precisamos tomar novas medidas políticas que dependem dos governos de países ricos. Como é que vamos restabelecer o crédito para o consumidor americano e europeu? Precisamos provar que vale a pena.
Eu estava até ficando um pouco desapontado com a vida política. Já estou em meu sexto ano de mandato, e começo a ficar cansado. Mas esta crise é como algo – um coisa provocante para nós – para nos acordar. Me deu entusiasmo. Quero brigar. Quanto mais crise, mais investimentos são necessários. Então hoje estamos investindo em áreas em que não investimos nos últimos trinta anos, em ferrovias, rodovias, hidrovias, represas, pontes, aeroportos, portos, projetos habitacionais, saneamento básico. Temos que ser corajosos, pois no Brasil temos muitas coisas a serem feitas, que já foram feitas em outros países há muitos anos.
Em dezembro do ano passado, o senhor teve uma reunião com 33 países das Américas, exceto com os Estados Unidos. Por quê? Parece que os Estados Unidos foram propositalmente excluídos.
Nunca tivéramos tal reunião entre apenas os países da América Latina e Caribe. Então foi necessário ter esta reunião sem as superpotências econômicas, uma reunião entre países que enfrentam os mesmos problemas.
O senhor disse que espera que esta crise mude as políticas do mundo, dando a países como o Brasil, Índia e China mais voz. O que especificamente – que poder o senhor quer que o Brasil ainda não tenha?
Queremos ter mais influência sobre a política mundial. Por exemplo, queremos que as instituições financeiras multilaterais estejam abertas não somente aos americanos e europeus – instituições como o FMI e o Banco Mundial. Queremos mais continentes participando no Conselho de Segurança. O Brasil deveria ter um lugar, e o continente africano um ou dois.
O senhor é tido como um grande símbolo da democracia nas Américas. E ainda há aqueles que dizem que o senhor se calou enquanto o Hugo Chávez destruiu a democracia na Venezuela. Por que não solta a voz? Se o Brasil quer um papel maior no mundo, isso não seria um parte, apoiar certos valores?
Bom, talvez não consigamos concordar sobre a democracia venezuelana. Mas não se pode dizer que não há democracia na Venezuela. Ele (Chávez) passou por cinco, seis eleições. Eu apenas por duas.
Ele tem gangues nas ruas. Isto não é uma verdadeira democracia.
Veja, temos que respeitar a cultura local e as tradições de cada país. Considerando que eu tenho 88 porcento de aprovação, eu poderia propor uma emenda à Constituição, para um terceiro mandato. Não acredito nisso. Mas o Chávez quis ficar ... Eu acredito que a mudanças de presidente é importante para o fortalecimento da democracia em si.
Site da Liderança PT/Câmara (www.informes.org.br)
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