quarta-feira, 18 de março de 2009

SÃO PAULO ALAGADA


18/03/2009

Celso Marcondes

São Paulo transbordou ontem. Todo mundo viu na tevê, à exaustão, as cenas desesperadoras mostrando paulistanos nas situações mais perigosas ou amedrontadoras. Gente que perdeu casas, móveis, carros, tempo, saúde. Dois homens morreram: presos em seus carros num congestionamento, tiveram paradas cardiorrespiratórias. Batemos recordes outra vez: nossa maior enchente em um ano, 60 pontos de alagamentos, nosso maior congestionamento do ano, 201 quilômetros. O equivalente a uma ida e volta até Campinas. A cidade mais rica do País parou (quantas vezes alguém já escreveu isso?).

Pior: hoje a previsão do tempo é a mesma. Nos escritórios e demais locais de trabalho já começam os movimentos de mudança das agendas programadas para o dia e os planos para sair mais cedo. Pudera: ontem teve quem levasse mais de quatro horas para conseguir sair do local de trabalho.

Os jornais de hoje colocam fotos enormes nas capas para ilustrar a situação e trazem abundantes matérias relatando dramas em todos os cantos da cidade. Alguns, nos lugares de sempre: Avenida do Estado, Via Anchieta, túnel do Anhangabaú, entre outros. Teve também os inéditos: no pátio da Ford, em São Bernardo, centenas de carros saídos da fábrica, ficaram com água até o teto (a FIESP vai aproveitar para pedir mais isenção de IPI ao governo, vocês verão).

Chama a atenção uma matéria da Folha, com o título “Kassab gastou mais em publicidade que em obra antienchente”. Nela se explica que a prefeitura paulistana já gastou, em 2009, R$ 19 milhões dos 32 previstos para o ano. E que nas obras antienchentes o gasto ficou em 17, embora a previsão seja de 338, 5 milhões para o ano.

Em resposta à crítica, a Prefeitura responde que a comparação é infundada, pois os gastos com publicidade são planejados anualmente e que parte foi usada para campanhas para alertar os moradores para prevenir enchentes. Disseram também que outra parte refere-se a gastos do ano passado. Já os gastos para obras antienchentes seriam realizados mais lentamente e que teriam que ser analisados num período maior, de 2005 a 2008, diz a administração municipal.

Talvez a comparação seja indevida, embora anúncios da Prefeitura transbordem na tevê. Mas imaginar que até aqui só foram gastos 5,02% dos gastos previstos para as obras anti-inundações e que os demais 95% ficaram para o resto do ano, dói nos nervos. Sabe-se, já tem algum tempo, que a temporada de chuvas em São Paulo vai de dezembro a março. Teve até compositor que escreveu música falando das “águas de março encerrando o verão”. Parece que Kassab - que ontem estava em Brasília quando tudo isso acontecia - nunca ouviu a canção.

Quem falou pela Prefeitura foi o secretário Andrea Matarazzo, que disse que “nunca (na história desta cidade?) se investiu tanto” na área. Ele explicou também, para nós, leigos, que choveu demais da conta. Deu um exemplo: “é como o ralo da pia, dimensionado para escoar toda a quantidade de água da torneira aberta. Mas, se você jogar um balde de água lá dentro, de repente, vai transbordar.”. Ah, bom. Agora estou tranquilo. Acho que ele pediu para São Pedro jogar um balde pequeno hoje. De qualquer forma, já me preveni adiando a reunião externa que teria no final do dia.

E você, leitor da CartaCapital, o que acha disto? E como enfrentou este drama ontem?



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