Novo governo líbio abre o jogo
Passados mais de trinta dias da conquista de Trípoli pelos opositores de Muammar Khadafi e, vale sempre repetir, com a colaboração da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), desembarcaram na capital líbia e em Benghazi os verdadeiros vitoriosos da guerra civil, os militaristas Presidente francês Nicolas Sarkozy e o Primeiro-Ministro britânico David Cameron. Corre por fora Barack Obama, que ainda não foi lá. Silvio Berlusconi está envolvido em pendências da Justiça italiana, país que admite considerar uma “merda”.
Um dia depois, coube ao Primeiro-Ministro turco Recep Erdogani aparecer naquelas bandas. Ele quer também colocar o seu país, que dominou a Líbia durante muito tempo, na parada.
Como já se esperava, o governo provisório líbio deu o recado: os aliados estrangeiros da guerra terão prioridade nos futuros acordos a serem firmados. Trocando em miúdos: além das concessões já obtidas durante o governo Khadafi, o capital francês, britânico, italiano, participantes ativos da empreitada guerreira estão com a vida ganha. Vão lucrar bastante com a “nova Líbia”, que está surgindo numa aliança que estranhamente abarca até gente da Al Qaeda. E até mesmo na base da legislação islâmica da sharia, o que não importa para os europeus e estadunidenses, desde que sirva aos seus interesses.
Mas se alguém imagina que os Estados Unidos não vão querer também usufruir da Líbia, engana-se. O Departamento de Estado e o Pentágono vão querer sua parte no botim. Além de maiores vantagens com o petróleo, Washington vai forçar - se é que será preciso forçar, pois o novo governo é subserviente - a instalação na Líbia do Comando Militar dos Estados Unidos para a África, o Africom, atualmente com sede em Stuttgart, Alemanha, o que tinha sido rejeitado por Khadafi e países africanos.
Com isso, os EUA pretendem obter uma área estratégica no Mediterrâneo para monitorar, controlar e tentar neutralizar a influência de Pequim no continente africano. Este foi o motivo, segundo o economista egípcio Samir Amin, do surgimento dos grupos armados em Benghazi e posteriormente os caças- bombardeiros da OTAN.
Enquanto tudo isso acontecia e as previsões começavam a se confirmar mais cedo do que se esperava, a guerra civil prosseguia nos redutos khadafistas de Sirte e Walid Bani. Ibrahim Mussa, porta-voz de Khadafi, denunciou o corte de energia elétrica e água, bem como as linhas de abastecimento de alimentos básicos e remédios, o que constitui uma violação das normas internacionais.
Ou seja, o cerco através destes métodos se fecha, embora os correligionários de Khadafi, como Mussa, garantam que a resistência será prolongada e pode demorar anos. Só o tempo dirá se as declarações são de verdade ou não um mero blefe.
A caça a Khadafi até agora não surtiu efeito e já se admite que dificilmente os opositores consigam o objetivo a que se propõem, ou seja, pegar Khadafi vivo e fazer o mesmo que fizeram com Saddam Hussein. O líder líbio tem perfil distinto de Saddam e se fosse cercado dificilmente se entregaria vivo.
Se o matarem, Khadafi se tornará um mártir e como todo mártir terá influência política. É tudo que as potências coloniais, que na prática tomarão conta da Líbia, não querem, porque um fato desse tipo influi negativamente nos negócios. Mas, vivo ele também é ameaça, pode-se prever que o governo provisório não terá sossego tão cedo.
Tem mais. Se alguém acredita que os acontecimentos na Líbia dizem respeito apenas ao país árabe do Norte da África, engana-se. Para o analista político David Garcia, em artigo publicado no site América Latina em Movimento (ALAI), os Estados Unidos começaram nova doutrina intitulada “Responsabilidade de Proteger” e ainda por cima com o aval das Nações Unidas. Trocando em miúdos, a referida doutrina nada mais é do que a legalização das intervenções militares, um aval para os EUA e nações europeias intervirem em assuntos internos de nações soberanas.
A partir de agora, qualquer país, principalmente se for estratégico ou rico em produtos de interesse econômico estadunidense e europeu, está ameaçado. Pretextos se inventam.
Na semana que entra, os dirigentes palestinos tentarão o reconhecimento nas Nações Unidas. No Conselho de Segurança, o veto dos Estados Unidos é certo. Agora vem o governo Barack Obama e do extremista de direita Benyamin Nethanyhu defender negociações para a criação do Estado Palestino.
É muita hipocrisia, porque o próprio governo de Israel é o primeiro a se opor na prática ao reconhecimento de um Estado Palestino ordenando a ampliação de assentamentos nos territórios ocupados.
Em suma, como disse o líder da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, para continuar negociando a paz com os israelenses os palestinos precisam ser reconhecidos pela ONU com as fronteiras de 1967.
O resto é enganação de quem não quer a criação de um Estado PaIestino de forma a seu território não sofrer solução de continuidade.
Nota da redação – O jornalista Mario Augusto Jakobskind acaba de escrever o livro Líbia – Barrados na Fronteira (o que não saiu na mídia sobre a invasão na Líbia). Editado pela editora Booklink, o livro estará pronto até o fim do mês. O DR divulga em primeira mão a capa do novo livro do Jakobskind.Direto da Redação
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