terça-feira, 8 de maio de 2012

O ataque de O Globo à blogosfera



Por Maurício Caleiro, no blog   Cinema & Outras Artes:



Em editorial publicado hoje (08/05), O Globo, no afã de defender sua comparsa de denúncias e factoides, a revista Veja, sobe o tom dos ataques da mídia corporativa contra a blogosfera (veja reprodução comentada no blog da Maria Frô).


A peça, que vem com as digitais do “imortal” Merval Pereira, intitula-se “Roberto Civita não é Rupert Murdoch”, e é nosso dever admitir que, ao menos no título, está certa. Com efeito, o megaempresário proprietário do jornal sensacionalista News of the World é acusado tão-somente de grampear meio mundo no Reino Unido, enquanto as acusações que pesam sobre a publicação de Civita são muito mais sérias - pois, como aponta Luis Nassif, "a parceria com Veja tornou Cachoeira o mais poderoso contraventor do Brasil moderno, com influência em todos os setores da vida pública".


Quem te viu, quem te vê: O Globo, um jornal sempre tão sensível às denúncias de corrupção, agora que a casa cai descarta como insignificante o envolvimento de Veja com o maior contraventor de nossos dias...


Folha corrida


Em post Em histórico, Nassif, que tem o mérito indiscutível de ter revelado com grande antecedência o grau de perversidade das práticas de Veja - sofrendo retaliações judiciais e ataques a sua família -, elenca nada menos do que nove suspeitas "que necessitam de um inquérito policial para serem apuradas",advindas das relações da publicação com Daniel Dantas e com Carlos Cachoeira. Há desde invasão de quarto de hotel até publicação de matéria falsa, passando por tentativa de manipulação da Justiça e negligência para informar o público como forma de beneficiar o esquema do bicheiro nos Correios.


Temos, portanto, uma vez mais, de concordar com o perspicaz editorialista: “Comparar Civita a Murdoch é tosco exercício de má-fé”.



Tática desqualificadora



O Globo – que ajudou a repercutir quase todas as denúncias deVeja contra o governo federal – abre o editorial cuspindo fogo: “Blogs e veículos de imprensa chapa branca que atuam como linha auxiliar de setores radicais do PT desfecharam uma campanha organizada contra a revista 'Veja'”.


É a mesma lenga-lenga de sempre, tentar desautorizar a opinião divergente desqualificando-a como ideológica e partidariamente engajada (como se as do jornal não o fossem...). Pior: trata-se de uma dupla mentira. Primeiro, porque qualquer analista que se dedicar a examinar, com isenção, os blogs até agora citados neste post – o de Maria Frô, o de Nassif e este aqui -, além de vários outros, há de constatar a presença de diversos textos críticos em relação ao governo federal (sendo que cansei de ler acusações raivosas, por parte de governistas, a mim e a Frô devido a nossas ponderações).


Jornalismo partidário


A outra mentira é a afirmação de que se trata de uma “campanha organizada”. O que move a maioria absoluta da blogosfera não é uma inexistente palavra de ordem partidária, mas a genuína indignação pelo estado a que chegou o jornalismo brasileiro após uma década de ação irracional, não profissional, esta sim partidarizada (como a própria Judith Brito, executiva do Grupo Folha e sindicalista patronal, admitiu, com a insolência característica).


Uma ação, por um lado, descaradamente engajada na defesa do grande capital, do demotucanato e do mercado financeiro (como a reação ante o corte de juros promovido pelo governo federal ilustra de forma inconteste); por outro lado, hidrófoba no trato com tudo o que diga respeito a avanços sociais, democracia racial e o cumprimento, ainda que tímido, do programa das forças de centro-esquerda que venceram, de forma legítima, as eleições.


Inverdades a granel



Esperar que o editorialista de O Globo admitisse tais fatos seria o cúmulo da ingenuidade. Ao invés disso, ele prefere gastar parágrafos numa digressão sobre ética jornalística em que, citando até os “Prinípios Editoriais das Organizações Globo” - pausa para a gargalhada – faz uma tremenda ginástica verbal para fingir não apenas que os procedimentos de Veja não pertencem à esfera criminal, mas que são eticamente legítimos. Mais cara de pau impossível.


Por fim, o editorial recorre a mais uma inverdade, ao afirmar que “não houve desmentidos das reportagens de 'Veja' que irritaram alas do PT”, emendando com uma das poucas afirmações verdadeiras da peça: “Ao contrário, a maior parte delas resultou em atitudes firmes da presidente Dilma Roussef, que demitiu ministros e funcionários, no que ficou conhecido no início do governo como uma faxina ética.”


Dilma e a mídia


Neste ponto só nos resta lamentar, por um lado, que o editorialista de O Globo trate seus leitores como idiotas, ao negligenciar-lhes o fato óbvio de que houve um cálculo político – em que pesou o receio de que o bombardeio denuncista midiático pudesse afetar a governabilidade e o grau de aprovação da administração– a motivar a decisão de Dilma em relação à maioria das demissões.


Por outro lado – e provando inverídica, uma vez mais, a acusação de chapa-branquismo – é preciso reafirmar nossa posição contrária à maneira como Dilma Rousseff administrou suas relações com a mídia no primeiro ano de seu governo, cortejando-a e cedendo com tibieza às pressões advindas das denúncias e factoides, ao invés de reagir de forma condizente e fazer valer o poder do Executivo no sentido de pressionar por um jornalismo ético.


Crise de confiança



A blogosfera política é muito mais ampla e diversificada do que O Globo quer fazer crer – e ele poderia facilmente constatar tal fato se se propusesse a praticar jornalismo de verdade ao invés de se enlamear em tramas fantasiosas, denuncismo tendencioso e associações suspeitas.


O crescimento e o peso crescente da blogosfera e das redes sociais como fatores de contrainformação não pode ser explicado pela fórmula simplista do engajamento partidário. Tal sucesso advém, em larga medida, justamente da descrença no consórcio Abril-Rede Globo-Grupo Folha, descrença esta que tende a se difundir exponencialmente à medida que as reportagens da TV Record sobre a Veja atingirem um público exponencialmente maior.


Um editorial como o de O Globo de hoje só açula o descrédito e a desconfiança em relação ao jornalismo que o jornal pratica e que endossa.

4 comentários:

Anônimo disse...

Pq as sessões da CPI do Cachoeira devam ser secretas ??? Estranho querer esconder isso do povo.

Frederico Luiz disse...

por Frederico Luiz

Desde ontem, uma sucessiva guerra de editoriais circulam na mídia brasileira.

De um lado, a mídia tradicional com sua Gigante Estelar e os grandes conglomerados, a exceção da Rede Record de Televisão.

Do outros, velozes cavaleiros da blogosfera e suas rápidas naves Jedi.

O objetivo dos Jedi é atingir o coração do lado negro na força, a Revista Veja (Sith Darth Maul) e a Rede Globo (Imperador Palpatine).

A luz conta com os Anakins, Qui-Gons e Obi-Wan Kenobis (Luis Nassiff, Altamiro Borges e Paulo Henrique Amorim, Brasil 247) e mais uma série de cavaleiros e cavaleiras (Fernando Brito, Maurício Caleiro, o agora ministro Brizola Neto e dezenas desses) e mesmo os desengonçados C-3PO e R2-D2 (Terror do Nordeste, Blogue do Frederico Luiz, entre milhares).

Veja três importantes batalhas desta guerra nas estrelas, nas últimas 24 horas:

http://frederico2010.blogspot.com.br/2012/05/o-globo-sai-em-defesa-de-veja.html

infinitoamanajé disse...

Caro guerreiro, não há dialogo entre memórias e programas se repetindo, fora do presente, nos subconscientes de cada um reafirmando inconscientemente seu ego programado pelo escravagismo. Sinto muito, sou grato.

Anônimo disse...

Meu Caro,
A clareza de teus textos são um primor, algo a ser emoldurado e colocado na parede, além, claro, de sua profana (para o PIG) sinceridade.
Um alento...
Mas eu tenho lido muito, inclusive no "O Globo", "Uol", etc (acho que é obrigação nossa analisar tudo para daí chegar a uma conclusão equilibrada dos fatos), e o que eu acho e proponho (se você puder encampar, porque acho que não dá para propor isso ao PHA, por razões óbvias), é fazermos um boicote não só a revista veja (uma m... de revista que não leio há anos), mas também à Editora Abril.
Eu tenho 3 assinaturas (Playboy, Exame e Alfa), 4 na verdade, porque assino a revista infantil Recreio para os meus filhos.
O que vou efetivamente fazer é não renová-las (vencem agora em julho).
Embora esteja inclinado a pedir a suspensão (mesmo com prejuízo financeiro) imediata de pelos menos essas 3 assinaturas (ficar apenas com a infantil que meus filhos gostam muito).
Além disso, fazer uma campanha com amigos e parentes pra parar de ler e assinar essa b... de revista.
Temos que ir da falação à ação, penso eu.
Abraços.
Paulo