domingo, 20 de maio de 2012

Panis et circensis

É conhecida, desde que o mundo é mundo, a estratégia do “pão e circo” como elementos utilizados pelo poder a serviço do amortecimento e da alienação dos menos favorecidos socialmente. Mas, se é fácil reconhecer tais elementos nos antigos tempos do Coliseus dos gladiadores e dos leões, às vezes eles são mal caracterizados e corre-se o risco de falsas analogias quando se analisam outros cenários.


No Brasil de hoje, há quem veja nas políticas sociais do Governo – iniciadas com Lula e continuadas com a presidenta Dilma- , em particular no “bolsa-família” , uma versão contemporânea e cabocla da tal disponibilidade de pães que garantia os potentados e as elites romanas. A turma que pensa assim destila a sua tese venenosa com o argumento de que tais benesses provocam a inércia, a preguiça, a falta de objetivos. Os “felizes beneficiados” da “bolsa-família” , tendo garantida a sua sobrevivência básica, renegariam o trabalho, vivendo, assim, de benefícios que só são possíveis porque derivados dos impostos pagos pelos que trabalham. Um bando de aproveitadores, enfim, sugando a coisa pública. Será?


Sempre me lembro da frase do Betinho quando o assunto “bolsa-família” (e outras “bolsas”) envereda por esse tipo de argumento. Quem tem fome tem pressa e as elites ,sempre insensíveis aos famintos, têm pouco que opinar nesse assunto. É fácil para elas deitar falação, lavar as mãos e proclamar , do alto da sua sabedoria, que “antes de dar o peixe, deve-se ensinar a pescar”. Penso exatamente o contrário: em situações extremas, primeiro se dá o peixe, até para que reste alguém habilitado a aprender a pescar... E mais: que autoridade têm esses críticos que, ao longo dos tempos, quando no poder e diante do nosso histórico quadro de miséria, nem deram o peixe nem ensinaram a pescar?


Essas políticas sociais dos dois últimos governos não se confundem nem de longe com os pães da alienação e da subserviência do império romano e de outros impérios. E nem são, apenas, gratuita dádiva de peixes. Elas não buscam a perpetuação das desigualdades pela alienação, mas, ao contrário, pretendem a inclusão social. Estão aí, por exemplo, como componentes desse “pão”, os projetos que envolvem saúde, educação,casa própria . Pouca coisa ainda, é certo, mas os nossos indicadores sociais vêm, cotidianamente, revelando avanços , para o desprazer, talvez, de certas viúvas de uma outra realidade e contrariando “previsões” de muitas aves agourentas saudosas de um outro tempo . Abstenho-me, aqui, de arrolar esses números, que são do conhecimento de todos e que a própria mídia manipuladora não consegue esconder.


Mas... e o circo? Aqui, quero tirar o foco do governo. Este não é, seguramente, um “departamento” governamental. Dá para notar claramente na grande mídia – particularmente na que envolve os canais abertos de tevê e, mais particularmente, aquela que detém audiência majoritária – a preocupação de pegar carona nessa mudança que o país experimenta e “conquistar” a nova classe “C”, até porque os canais fechados e a internet já lhes roubaram vastos percentuais das classes ditas “elevadas”.


Nada mais lógico, nada mais esperado, por parte de quem se sustenta em função de ibopes. Impossível questionar essa tentativa de sedução. Mas, se o pão do Governo em nada se aproxima do histórico intuito alienante, o circo oferecido pela mídia claramente tem esse objetivo, com suas novelas de baixo nível dramatúrgico com enredos previsíveis e lineares, seus programas de reality show que exacerbam a vulgaridade, seu processo manipulador de informação, sua programação centrada no apelo sexual do chamado “consumo do corpo”, sua promoção de “celebridades” efêmeras, porque falsas .


Por que faço essas observações? Penso que a atual obrigação do Governo é zelar, sim, pelo pão na mesa dos brasileiros. Essa política tem a ver com cidadania, dignidade, justiça social. Mas também acho que isso deve ser acompanhado de um outro alimento, o do espírito, que se dá sob o império de um processo educativo, que não passa apenas pelas escolas publicas de qualidade - que estamos longe de ter -, por professores bem formados e bem remunerados – de que carecemos - mas também por uma produção cultural que, se não pode nem deve ser diretamente gerida pelo Estado, nem por isso pode ficar, sem qualquer controle, ao bel-prazer de outros segmentos interessados, esses sim, na perpetuação dos valores de amortecimento das grandes massas, com a velha ideia de que, para elas, basta o samba, o sexo e o futebol...


Rodolpho Motta LimaAdvogado formado pela UFRJ-RJ (antiga Universidade de Brasil) e professor de Língua Portuguesa do Rio de Janeiro, formado pela UERJ , com atividade em diversas instituições do Rio de Janeiro. Com militância política nos anos da ditadura, particularmente no movimento estudantil. Funcionário aposentado do Banco do Brasil.Direto da Redação

2 comentários:

Anônimo disse...

VEJA COMO O ÚNICO GOVERNO DO DEM, DA "PEDIATRA" ROSALBA E DO CORONEL JOSÉ AGRIPINO, TRATA AS CRIAÑÇAS DO RN:


Crianças do Rio Grande do Norte pedem socorro:

Situação dos bebês prematuros precisando de UTI em Natal se agravaAlvaro

Fila de crianças em frente ao Hospital Santa Catarina
Cezar Alves/Da Redação

A situação das alas infantis dos hospitais Escola Januário Cicco e Maria Alice Fernandes, em Natal, piorou durante este domingo (20) e o que seria a solução para desafogá-los, no caso o Hospital Santa Catarina, está lotado. Os diretores disseram que não tem como atender.

No horário da manhã, a pediatra Uelma Medeiros e o anestesiologista José Madson Vidal pediram ajuda para socorrer 5 bebes que haviam nascido prematuros na noite de sábado para domingo no HEJC, e também 3 crianças no HMAF, que está sem leitos de UTI pediátricas.

Veja em reportagem do Portal De Fato AQUI.

No início da tarde, apenas um bebê, o menor dos 5 (800 gramas), conseguiu vaga numa unidade particular para ter chances de viver. Neste momento estão avaliando as condições de transferência. As outras crianças continuam em ambientes improvisados.

No final da tarde, o médico Luiz Roberto foi informado de que havia outras duas mulheres em trabalho de parto para ter bebês prematuros, ou seja, também vão entrar na fila por UTI neonatal, destinadas para crianças com até 28 dias de vida.

O Luiz Roberto, que é coordenador do Samu Metropolitano, informou que já havia averiguado em todos os hospitais particulares de Natal e em nenhum haviam mais leitos disponíveis, que o governo do Estado pudesse contratar para socorrer os bebes que precisam.k

Perguntamos seria o caso transferir os bebes para Recife e o médico Luiz Roberto explicou que o mais razoável era o Governo do Estado fazer um esforço e abrir (estão fechados há vários meses), de imediato, os dez leitos de UTI neonatal que já existem no Hospital Santa Catarina.

Resposta! - No final da tarde, a secretária de Cultura (antiga Fundação José Augusto), Isaura Rosado, que não entende nada de saúde pública, apareceu para dizer que a direção do HEJC havia dito a ela que as bebês estavam todas bem e que a notícia era mentira.

Imediatamente os médicos reagiram convidando a secretaria de Cultura para ir visitar os hospitais infantis de Natal. Isaura Rosado não informou se aceitava ou não. Estava muito ocupada respondendo uma saraivada de críticas por ter dito que era mentira.

Fonte: Jornal de Fato(http://novo.defato.com/noticias/302/Situação%20dos%20bebês%20prematuros%20precisando%20de%20UTI%20em%20Natal%20se%20agrava)

Berna disse...

Plenamente deacordoRodolpho.Discuto sempre esse assunto com pessoas que veem nesse gesto do governo formas de alienar o cidadão e não em saciar de imediato a fome de quem tem pressa. Pessoas que não tem ideia do que é fome, por que nunca sofreram. Ninguém aprende com fome...Ninguém trabalha com fome...Ninguém tem qualquer iniciativa com fome. Pessoas mesquinhas que acham que uma simples bolsa família rouba o direito dos afortunados do estado em alguns segundos de amenidades..