O empreiteiro Fernando Cavendish, da Delta, é a prova mais recente de sucesso empresarial rápido. Esse êxito, com a velocidade alcançada, não depende somente da competência e da capacidade profissional do empresário. Exige, como regra básica, acumulação de capital político.
Cavendish representa a segunda geração da empresa formada pelo pai dele, Inaldo Soares, em Pernambuco, em 1961. A Delta, sem maiores ambições, cuidava essencialmente de conservação e restauração de estradas no Nordeste.
Tudo começou a mudar em 1995, quando a pequena empreiteira “passou por uma reformulação estratégica”, como registra a história oficial da empresa, e transferiu a matriz para o Rio de Janeiro. Com o jovem Cavendish à frente, a Delta começou a escalada fulminante, já agora apoiada nas boas relações políticas entabuladas com os governos estaduais de Anthony Garotinho e Sérgio Cabral, expandida para o plano federal, no governo Lula. Dilma é a herdeira desse processo. Cabral foi o articulador da aproximação de Cavendish com Lula.
Assim, em um piscar de olhos, a Delta chegou ao patamar de hoje: 4 bilhões de reais em obras programadas. A construtora abriu espaço onde não havia mais espaço e, finalmente, desmoronou com os alicerces abalados pelas revelações do caso Carlinhos Cachoeira.
Diante disso, o governo Dilma precisava encontrar uma saída. Não para a Delta, mas para o próprio governo. Era preciso manter o cronograma do trabalho, a cargo da empreiteira, ameaçado de paralisação: 3 bilhões em obras federais (mais de 90% do PAC) e 1 bilhão em obras no estado do Rio.
Não era possível encontrar a tempo uma construtora confiável ao governo. Era preciso garantir a continuidade das obras. Assim, a JBS, uma das maiores empresas de proteína animal no mundo, entrou no ramo das empreiteiras. Faz o papel de “barriga de aluguel”.
Parece claro que o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles foi o elo. Sabe-se que um dos sócios dessa empresa, Wesley Batista, tem interesse político-eleitoral em Goiás, onde Meirelles registrou sua filiação inicialmente ao PSDB e, posteriormente, ao PMDB.
O governo em momento algum diz que não patrocinou a solução, assim como não nega que não patrocinou. O BNDES, observe-se é o maior acionista da JBS.
Não se pode usar o bordão criado por Lula – “Nunca antes na história desse país …” – ao se falar da importância do sistema de acumulação de capital político no Brasil. Um ligeiro painel dos últimos 60 anos, pós-Estado Novo (1945), mostra, inclusive, que as relações já foram mais promíscuas. Sem qualquer restrição pública mamava-se à luz do dia nas “tetas da viúva”, para usar uma expressão de resignada ironia.
O Ministério da Fazenda era domínio empresarial e fornecia os ministros. Alguns exemplos: Gastão Vidigal (Dutra); Horácio Lafer (Getúlio); Sebastião Paes de Almeida (JK): Clemente Mariani (Jânio) e Walter Moreira Salles (Jango). No presidencialismo, Jango optou pelos técnicos, mas não abandonou os empresários. Tião Maia e José Ermirio de Moraes eram próximos do presidente. Essa regra contaminou a ditadura. Assim, os técnicos assumiram a Fazenda, encerrando o ciclo da preeminência direta dos empresários.
Sarney, Collor, Itamar, FHC e Lula mantiveram a escolha técnica. Sarney tinha predileção por Matias Machline e FHC pela banca. O capital financeiro norteou sua política. Não por acaso, os economistas tucanos que serviam ao governo viraram banqueiros.Mauricio Dias, CartaCapital
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