quarta-feira, 23 de maio de 2012

Veja, Roberto Gurgel e Claudia Sampaio devem desculpas aos goianos

Em Goiás há uma pergunta no ar: “O que aconteceria se, em 15 de setembro de 2009, o Procurador Geral da República, Roberto Gurgel, e sua esposa, a procuradora Claudia Sampaio, tivessem pedido a autorização do Supremo Tribunal Federal (STF) para investigar o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) e os deputados federais Carlos Alberto Silva (PSDB-GO) e Sandes Júnior (PP-GO)?”.



Em depoimento à CPMI, o delegado responsável pela Operação Vegas, Raul Souza, disse que entreguou no dia 15 de setembro de 2009, ao Procurador Gerald a República, Roberto Gurgel, inquérito que mostrava as relações do senador Demóstenes Torres (DEM) e dos deputados Sandes Júnior (PP) e Carlos Lereia (PSDB), com o esquema do bicheiro Cachoeira. Um més depois em outubro de 2009, recebeu um telefonema da esposa de Gurgel, a subprocuradora-geral Cláudia Marques, pedindo que fosse à sede da PRG. Na conversa a procuradora informou que não detectara indícios suficientes para denunciar Demóstenes e os deputados ao STF .


Ao engavetar o inquérito da Operação Las Vegas, Gurgel e sua cônjuge interferiram diretamente no destino de quase seis milhões de goianos.


Santos com pés de barro


Demóstenes Torres reelegeu-se vendendo a imagem de paladino da moralidade tão bem construída com ajuda da revista Veja, em matérias como: “Os mosqueteiros da ética” (E.2015 de 04 de julho de 2007):

(Sic)…o outro é o incansável senador Demostenes Torres, do DEM de Goiás. No Conselho de, digamos assim, Ética do Senado, ele é uma das únicas vozes a exigir investigações sérias e denunciar as manobras para absolver sem apurar”


Carlos Alberto Silva, o Leréia era o porta-voz da candidatura do senador tucano Marconi Perillo ao governo de Goiás em 2010. Seu alvo principal, o governo de Alcides Rodrigues (PP), que governou Goiás de abril de 2006 a dezembro de 2010. Leréia passou de aliado a detrator de Alcides quando este assinou em 14 de janeiro de 2008 o decreto extinguindo a Superintendência de Loterias da Agência Goiana de Administração Pública (Aganp). A superintendência era responsável por coibir o jogo illegal (leia-se caça-níqueis), mas a prática era outra.


O Superintendente da Loteria , indicado por Carlos Leréia era o Procurador Marcelo Siqueira, o mesmo que demitiu-se do governo de Marconi Perillo em abril do cargo de Procurador-Chefe Administrativo da Procuradoria-Geral do Estado. Siqueira é citado como um dos beneficiários da quadrilha de Cachoeira em relatório do delegado da PF Deuselino Valadares, em 2006, antes do policial ser cooptado pelo grupo.


Votos de Demóstenes e dinheiro de Cachoeira na eleição de Marconi


Demóstenes Torres reelegeu-se com mais votos ao Senado do que Marconi Perillo elegeu-se pela terceira vez ao governo de Goiás. Na contagem do primero turno, o senador do DEM teve 2.158.812 votos, contra 1.400.227 votos do governador tucano. Na soma dos votos, os adversários de Marconi ficaram à frente: Iris Rezende (PMDB) teve 1.099.552 votos e Vanderlan Cardoso (PR), 502.462 votos. No segundo turno, Marconi venceria por pequena margem: 1.551.132 votos contra 1.376.188 dados ao peemedebista, ou seja, 174.944 votos a mais. Demóstenes teve no primeiro turno 758.585 votos a mais que Marconi e é por isto que era voz corrente em Goiás que “Demóstenes carregou Marconi no segundo-turno”. Sem o “Varão de Plutarco de Veja” Perillo não venceria a oposição.


As Operação Monte Carlo revelaria que não foi só com votos a ajuda de Demóstenes Torres e seu grupo. As empresas-fantasmas de Carlos Cachoeira doaram recursos substanciais à campanha de Marconi Perillo. A Alberto e Pantoja, repassou R$ 800 mil à Rio Vermelho Distribuidora de Anápolis, recursos estes que chegariam ao tucano, conforme registra o portal G1, da Globo:


“Registros doTribunal Superior Eleitoral mostram que um mês depois das eleições, a distribuidora depositou R$ 450 mil na conta eleitoral de Perillo. A partir da quebra de sigilo bancário, a Polícia Federal também apurou que três meses depois, a Rio Vermelho recebeu R$ 60 mil da Alberto e Pantoja”. (link: http://migre.me/9aJYX )


Outro doador de Demóstenes e sócio de Carlos Cachoeira, também doou para campanha de Marconi Perillo. Matéria do Jornal do Brasil mostra que Marcelo Limirio, ex-dono do Laboratório NeoQuimica e sócio do grupo Hypermarcas, está entre os doadores do tucano:


A ligação entre o empresário Marcelo Limírio com o senador Demóstenes Torres (sem partido) e o contraventor Carlinhos Cachoeira fica cada vez mais evidente. Além de uma possível influência na venda do Hotel Nacional, como noticiou o Jornal do Brasil na última segunda-feira (16/04), Limírio fez doações para as campanhas de Demóstenes e para o governador Marconi Perillo (PSDB-GO). Escutas da Polícia Federal indicam que Perillo mantinha relações com Carlinhos Cachoeira, assim como outros políticos de Goiás.
Diretamente, Limírio doou R$ 200 mil para a campanha de Demóstenes Torres. (sic) A Hypermarcas ainda doou R$ 500 mil para a campanha de Demóstenes, R$ 500 mil diretamente para Marconi Perillo e R$ 1 milhão para o PSDB de Goiás em 2010, quando o tucano venceu a disputa pelo governo do estado.


Assim que foi eleito, Marconi Perillo nomeou o deputado federal Armando Vergílio (PSD-GO) para assumir a Secretaria das Cidades. Vergílio liderava a Superintendência de Seguros Privados (Susep) quando o órgão leiloou o Hotel Nacional para Marcelo Limírio”. (Link: http://migre.me/9aKj0 )


O JB não citou, mas Marconi também nomeou o genro de Limírio, Alexandre Baldy para Secretaria de Indústria e Comércio do Estado de Goiás.


Al Capone do Cerrado


A Carta Capital desta semana, em matéria assinada por Cynara Menezes, detalha, com riqueza de informações, a lista de crimes de Cachoeira, dos quais Gurgel, sua cônjuge e Veja desviaram o olhar:
“Os crimes de Ramos, mais conhecido como Carlinhos Cachoeira, listados pela CPI são de assustar: sequestro, cárcere privado, prostituição, jogatina, sonegação fiscal, evasão de divisas, tráfico de influência, corrupção ativa, formação de quadrilha, suborno”.


Vale a pergunta que Cynara Menezes faz diretamente à Veja: “Para fazer denúncias sobre o governo, os jornalistas que tinham Cachoeira como fonte encobriram ou não um meliante maior? As denúncias obtidas por meio do esquema do contraventor à base de grampos e gravações clandestinas eram mesmo mais sgnificativas que os crimes que ele próprio praticava?”


Ainda estão por serem respondidas as motivações do casal Gurgel para o engavetamento da Operação Monte Carlo. Quanto a opção editoral da revista Veja, as investigações demonstram que ela preferiu não seguir o conceito do jornalista norte-americano Joseph Pulitzer (1847-1911), que acreditava que o jornalismo era um serviço público destinado às pessoas “pequenas” e não um serviço destinado aos interesses do grande poder. Um serviço que deveria estar ao lado das pessoas, um porta-voz da democracia.

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