Fiquei sabendo da última da dupla Veja/Gilmar Mendes na tarde de sábado,
durante o 3º Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas, que ocorreu no fim
de semana em Salvador. O assunto foi muito discutido pelos blogueiros. E caso
alguém esteja chegando agora de Marte e não saiba do que se trata, aí vai um
breve relato.
Veja publicou mais uma daquelas “denúncias” baseadas em grampos sem áudio e
declarações sem provas. Parece até surpreendente pela ousadia, mas não é. Para
falar a verdade, é tudo até bem banal.
Segundo a revista, Gilmar Mendes teria encontrado Lula “casualmente” no
escritório de Nelson Jobim e, então, o ex-presidente teria tentado chantagear o
ministro do STF para que “aliviasse” para os envolvidos no inquérito do
mensalão, que será julgado proximamente. Teria ameaçado o magistrado com os
indícios de envolvimento seu com Demóstenes Torres e Carlinhos Cachoeira.
O colunista de O Globo Jorge Moreno, no mesmo sábado da chegada de Veja às
bancas, fez contato com Jobim, que negou tudo. E, claro, esse colunista que vive
pedindo desculpas públicas aos chefes por matérias que os desagradam conclui o
relato do desmentido de Jobim bem ao estilo de O Globo, insinuando que “sentiu”,
pela voz do entrevistado, que ele mentiu para encobrir Lula.
Em conversas com outros blogueiros em Salvador, especulamos muito sobre o que
pode ter levado Veja a publicar matéria tão fraca, apesar do suposto endosso de
Mendes à acusação da revista. Particularmente, fiquei com a pulga atrás da
orelha. Seria Veja tão idiota? Estaria tão “desesperada”, como muitos acham que
está? Desespero algum. Veja faz essas coisas como se estivesse escovando os
dentes.
Primeiro, não nos esqueçamos de uma coisa: a história do grampo sem áudio,
protagonizada por Mendes e Demóstenes Torres, derrubou Paulo Lacerda, um dos
policiais mais respeitados do país. Ou seja: uma história sem pé nem cabeça, que
jamais foi provada, produziu uma das maiores injustiças da era Lula e uma longa
investigação (inútil, porque não encontrou nada) da Polícia Federal.
Diante de fatos assim, percebemos que uma empresa de comunicação conseguiu
manipular a República sem maior esforço. E por que? Simplesmente porque tinha
uma autoridade do porte de um ministro do Supremo a respaldá-la. Assim, a
investigação mostrou que jamais existiu grampo algum e tudo ficou por isso
mesmo.
Ou seja: não chega a ser surpreendente o que acaba de acontecer.
Diante do desabamento iminente da história de Mendes/Veja, decorrente do
desmentido de Jobim, as forças que a produziram saíram logo com um boato que
estão fazendo circular na internet, de que o ministro do STF teria gravado a
suposta tentativa de Lula de chantageá-lo.
Se existisse isso, teríamos que concluir que Lula enlouqueceu com o
tratamento contra o câncer. Com tantos ministros do STF que nomeou, por que iria
se preocupar em cometer um crime chantageando um adversário? Estamos falando de
Lula, do homem que nomeou procuradores-gerais da República que atacaram seu
grupo político sem dó nem piedade.
Então vamos lá: o que direi agora não é uma opinião, mas um fato que logo irá
se comprovar. As gravações da Polícia Federal que geraram a CPI do Cachoeira
envolvem Mendes até o pescoço. E não só a ele. Envolvem Veja, envolvem Globo
(como mostra reportagem de Leandro Fortes na Carta Capital deste fim de semana)
e outros grandes veículos. E junho será o mês dessas revelações.
Para que se tenha uma idéia, há dezenas de gigabites de gravações, vídeos e
áudios da PF que ainda não foram transcritos, que estão em estado bruto, e que
agora chegam à CPI. Fontes fidedignas garantem que o que existe ali é dinamite
pura. Tanto que a Globo, segundo a Carta Capital, teria procurado Michel Temer
para mandar um recado a Dilma: a mídia não pode ser investigada. Senão…
Senão o quê? O que a mídia poderia fazer além do que fez em 2005 e 2006,
durante o escândalo do mensalão? Forjaria uma gravação que, após periciada e
considerada falsa pelos peritos, a mídia diria não poder endossar ou negar como
fez com a ficha policial falsa de Dilma que a Folha de São Paulo publicou na
primeira página? Faria, sim.
O que vem agora, pois, é que é apenas opinião do blogueiro: a iniciativa da
mídia e de Gilmar Mendes foi tentativa de criar uma vacina contra o que virá à
tona, para que possam dizer que tudo decorre de “vingança” de Lula pela denúncia
do ministro do STF e da revista contra si.
Veja a manipulação, leitor: o site Consultor Jurídico pediu ao ministro Celso
de Melo, do STF, que analisasse a hipótese de Lula ter realmente feito o que
Veja e Mendes dizem que fez. O que se esperaria que ele dissesse, que não
haveria nada demais? Claro que não. Diria que, sendo verdade, seria um crime. E
o que faz a mídia? Divulga a entrevista como se Melo estivesse condenando Lula,
apesar de só estar falando sobre mera hipótese.
Manipulação pura e simples dos fatos pela mídia não é novidade para ninguém.
E essa de agora é só mais uma, que servirá como estratégia diversionista, ou
seja, para tirar o foco da CPI e intimidar seus membros.
Todavia, podem escrever aí: essa jogada só tornará inevitável a convocação de
Policarpo Júnior ou até de Roberto Civita pela CPI. E mais: irá quebrar
resistências da base governista, notadamente no PMDB, que, agora, foi
diretamente atacado com a tentativa de colocarem Jobim e Lula no mesmo
balaio.
A matéria da Veja enterrou de vez uma possibilidade que jamais existiu, de
ser produzido um arreglo entre governo e oposição para a CPI terminar em pizza.
E essa matéria é a prova definitiva de que a mídia e Mendes concluíram que o PT
e aliados estavam dispostos a levar o processo até o fim. Por isso fizeram
ataque desse porte.
Eduardo Guimarães, Blog da Cidadania
Eduardo Guimarães, Blog da Cidadania
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