quarta-feira, 24 de setembro de 2008

BANCADA DE DANIEL DANTAS DOMINA CPI DOS GRAMPOS

24 DE SETEMBRO DE 2008

Deputado denuncia ação da bancada de Dantas na CPI dos Grampos

O depoimento do ex-agente do extinto Serviço Nacional de Informações (SNI), Francisco Ambrósio do Nascimento, nesta quarta-feira (24), na CPI das Escutas Telefônicas Clandestinas, representa a mesmice. Ele negou novamente a participação nos grampos telefônicos na Operação Satiagraha. Para o deputado Luiz Couto (PT-PB), membro da CPI, o trabalho atual feito pela CPI serve aos interesses do banqueiro Daniel Dantas, que quer sair de foco desde que foi preso, em julho deste ano, acusado de crimes financeiros, como lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta, evasão de divisas e formação de quadrilha.


De lá para cá, a CPI, que deveria investigar os grampos clandestinos, passou a apurar os grampos legais, destacou o parlamentar, para quem “o Daniel Dantas é um homem que deve estar financiando muitas campanhas eleitorais, que tem bom trânsito no poder e consegue desviar o foco das investigações”. Segundo ele, “o pior é que CPI caiu na armadilha do Daniel Dantas.”

Para o parlamentar, com esses trabalhos da CPI todo mundo perde – a oposição, o governo, a mídia e a sociedade, só quem ganha é o crime organizado. Além de acusar parlamentares de proteger Daniel Dantas, a quem classifica de Bancada DD (Daniel Dantas), em analogia a conhecida Bancada da Bala (favorável ao porte de arma para população civil), Couto se queixa da ausência do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, ter se recusado a depor na CPI.

O deputado petista foi autor de dois requerimentos convidando o Presidente do Supremo, que figura nas investigações como tendo sido vítima de grampo telefônico. O ministro Gilmar Mendes não aceitou comparecer a CPI, o que causou estranheza ao parlamentar. Segundo ele, “o presidente do Supremo poderia contribuir com resultados consistentes da CPI, para enfrentamento daquelas questões (grampos ilegais).”

Pautados pela mídia

Luiz Couto também avalia como falha nos trabalhos da CPI o fato da Comissão estar sendo pautada pela mídia. “O Daniel Dantas, que nós sabemos que faz e fez escuta clandestina, não se investiga. Ele sai do foco e colocaram o Ambrósio no foco como espião”, afirmou o parlamentar, acrescentando que o Ambrósio mais uma vez desmentiu as informações publicadas pela Revista Veja de que fez grampos ilegais na Operação Satiagraha.

“O depoimento do Ambrósio não adiantou muito”, analisa Couto. Ele diz que as testemunhas da CPI também não têm ajudado nos trabalhos. Ou eles vêm com medidas do Judiciário para não falar ou vem falar e desmente o que foi dito pela imprensa – que é o caso hoje”, afirmou. “Caimos na mesmice e estamos perdendo com a CPI andando desse jeito, primeiro porque serve à oposição para ataque ou ao governo para defesa, quando deveria buscar verdade.”

Ele destaca como outro ponto negativo das CPIs, que foge ao papel de investigar, “a vontade de aparecer que é maior que a de investigar. As pessoas alimentam seu ego narcisico que é muito forte e não se investiga”, reclama, acrescentando que “a investigação é feita não para esclarecer, mas para confundir, levar sombras onde deveria buscar luzes”. Na opinião dele, com isso, “todo mundo perde – governo, oposição, mídia, sociedade”, destacando que “o único que ganha é o Daniel Dantas, que tira de foco a sua figura, e isso não acontece por acaso.”
Estranhas coincidências

O desvio de foco nas investigações que beneficiam o banqueiro Daniel dantas já vem sendo denunciado por outros parlamentares. Em discurso no plenário, o deputado Maurício Quintela (PR-AL) comentou a queda do ex-presidente da Abin, Paulo Lacerda, e a substituição dele por um ex-funcionário de Daniel Dantas: “Há uma série de coincidências que é muito estranha. O delegado que conduziu o inquérito caiu, o diretor da Abin caiu”, referindo-se aos integrantes da Polícia Federal e da Abin, as instituições que atuaram na investigação que chegou a prender o banqueiro.

O deputado Domingos Dutra (PT-MT) também se mostrou indignado. “Daniel Dantas parece ser o maior vitorioso nesse processo. É estranho ainda que o motivo do afastamento da cúpula da Abin está ligado ao ministro Gilmar Mendes, que no prazo de 48 horas concedeu habeas corpus ao banqueiro, inclusive sob a acusação de suplantar instâncias”, afirmou o deputado em discurso no plenário da Câmara.

Escalado para assumir interinamente o comando da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), Wilson Trezza já trabalhou com o banqueiro Daniel Dantas, preso na Operação Satiagraha. Entre fevereiro de 2002 e março de 2003, Trezza foi diretor de Seguridade da Fundação Brtprev, que cuidava dos planos de benefícios dos colaboradores da Brasil Telecom. Nesse período, Dantas detinha o controle majoritário da telefônica.

Trezza, que começou a trabalhar em 1981 no Serviço Nacional de Informações (SNI), afirmou que foi selecionado no mercado para assumir o segundo maior posto da Fundação Brtprev por ter trabalhado para os governos de Fernando Henrique Cardoso durante os dez anos que ficou fora da Abin.

De BrasíliaMárcia Xavier, Portal Vermelho.

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