Condôminos tentam expulsar jornalista
Luiz Martins (*)
O Conselho Acionário das Emissoras e Diários Associados foi convocado extraordinariamente para decidir na quinta-feira, 3 de abril, no Rio, na sede do condomínio, no prédio do Jornal do Commercio, se expulsa ou não dos seus quadros o jornalista Ricardo Noblat.
Não é a primeira vez que uma proposta de exclusão de um condômino acontece. O próprio filho de Assis Chateaubriand, Gilberto, já foi objeto de movimento semelhante. Entrou na Justiça e continua condômino.
Por mais de sete anos, Noblat foi diretor de Redação do Correio Braziliense. Sob sua liderança, o jornal distinguiu-se por uma reforma gráfica e editorial arrojada, merecedora de uma centena de prêmios, nacionais e internacionais. O êxito de Noblat rendeu-lhe o convite e a eleição para ser o caçula desse seletíssimo clube de senhores, octogenários em sua maioria. Agora, no entanto, quatro deles estão propondo que o jornalista seja excluído do condomínio criado por Chateaubriand.
Os autores da proposta de afastamento de Noblat são Britaldo Soares e Camilo Teixeira da Costa Filho, de Minas Gerais; Joezil Barros, de Pernambuco; e Alfredo Raimundo, do Rio. Eles alegam que o jornalista, desde o seu ingresso no Correio Braziliense, e mais ainda depois de eleito para o condômino, sempre demonstrou total falta de sintonia com "o espírito Associado", tendo uma conduta contrária aos ideais de Chateaubriand.
Queixam-se os quatro de que Noblat, seja como diretor de Redação do Correio, seja como condômino, não buscou "elevar o nível cívico e cultural e não participou do debate dos magnos problemas nacionais".
A referência a "elevar o nível cívico e cultural" e ao "debate dos magnos problemas nacionais" tem a ver com os objetivos dos Associados estabelecidos por Chateaubriand na escritura de criação do Condomínio assinada, no final de 1959. No Correio, a despeito das editorias (a exemplo do "Tema do Dia"); dos cadernos ("Coisas da Vida", um guia para cada dia da semana e um caderno de cultura, o "Pensar"); das campanhas públicas (trânsito, violência e patrimônio histórico); e espaços específicos para ciência, educação, saúde e cidadania (Prêmio Ayrton Senna), os quatro condôminos acham que Noblat não foi um bom seguidor do ideário de Assis Chateaubriand.
A Noblat são atribuídos os seguintes abusos institucionais: desvio da linha editorial do Correio Braziliense em proveito de familiares e simpatizantes políticos; e uso o cargo para fazer campanha político-partidária.
Como amplamente divulgado durante a campanha eleitoral de Joaquim Roriz ao governo do Distrito Federal, Noblat é acusado de ter beneficiado a empresa de assessoria de imprensa da sua mulher, Rebeca. Em resposta, o jornalista sempre cobrou que apresentassem "uma peça acusatória, um único fato concreto, um só benefício, um só depoimento de alguém a propósito de tais desvios".
A acusação entende que a alegada partidarização da linha editorial do Correio causou ao jornal prejuízos morais e materiais, perda de receita de publicidade, cancelamento de assinaturas e várias ações judiciais. Noblat tem dito que as acusações padecem de falta de objetividade por não citarem dados reais referentes à perda de receita de publicidade; por não citarem, objetivamente, um número de assinaturas canceladas por culpa dele; e por não apresentarem uma estimativa das citadas despesas judiciais.
Pronunciamentos da Justiça
Os incômodos causados pela competência, autonomia e notoriedade adquiridas por Noblat ainda lhe rendem revanches, mesmo cinco meses após ter deixado o Correio. Há muito vem circulando nos bastidores do Condomínio a queixa de que Noblat não cumpria ordens do então presidente dos Diários Associados e do Correio, o jornalista Paulo Cabral (afastado em novembro último, pouco antes do segundo turno das eleições, graças a um movimento liderado por Ari Cunha, partidário de Roriz). Noblat, na versão dos condôminos insatisfeitos, mandava sozinho na linha editorial do jornal.
Contra Noblat (agora, no jornal A Tarde, de Salvador), pesam também as seguintes alegadas transgressões:
** criticou publica e infundadamente os condôminos que procuraram demonstrar a impropriedade de suas atitudes;
** permitiu que nas páginas do Correio fossem publicadas ofensas ao Condomínio por meio de manifestações não comprovadas de pessoas nomeadas como leitores;
** incitou leitores a cancelarem suas assinaturas para desestabilizar financeiramente o jornal;
** utilizou-se de sites para divulgar impropriedades contra o Condomínio;
Para cada uma delas, Noblat apresenta, na quinta-feira, 3/4, a sua defesa e cobrará objetividade e provas:
** exigirá que relacionem as ocasiões que tenha feito críticas infundadas aos seus colegas de Condomínio;
** as "ofensas" referidas não passariam de cartas e e-mails que o jornal publicou depois que se tornaram públicas as saídas Paulo Cabral e Noblat: foram menos de 60 cartas e "desabafos" num período de 11 dias;
** exigirá exemplos demonstrativos de que tenha incitado leitores a cancelarem assinaturas;
** publicou, de fato, um artigo no sítio Brasil em tempo Real intitulado "A voz do dono e o dono da voz", no qual expressou os seus pontos de vista sobre a crise que o levou a se demitir, juntamente com Paulo Cabral.
A coleção de queixas contra Noblat, no entanto, vai bem mais além do suposto desprezo pelo ideário de Chateaubriand. Incluem pesadas acusações de beneficiamento político e particular, supostamente respaldadas em notas fiscais de prestação de serviço da Informe Comunicação e Assessoria de Imprensa, empresa que três programas eleitorais para a TV do então candidato Joaquim Roriz (em 17, 18 e 19 de setembro do ano passado) foi apresentada como sendo de Noblat e de sua esposa, Rebeca. Ele já informou várias vezes que a referida empresa pertence aos jornalistas Alba e Sérgio Chacon. Alba e Rebeca são, de fato, sócias, mas de uma outra empresa. Noblat foi sócio da sua mulher, mas no período entre 1990 e 1998, na RRN Comunicação e Marketing Ltda, quando se viu desempregado, demitido do Jornal do Brasil logo após a eleição de Fernando Collor. Ele tem informado, no entanto, que nunca deu um único dia de expediente na tal empresa, pois foi logo chamado para trabalhar numa agência de publicidade, a Propeg.
Sobre o fato de a RRN ter sido contratada duas vezes durante o governo Cristovam Buarque para prestar serviços à companhia local de eletricidade e à Secretaria de Indústria e Comércio do governo do DF, Noblat não vê nisso irregularidade já que se tratava de uma empresa prestadora de serviços como qualquer outra.
Para que Noblat seja expulso dos Diários Associados serão necessários dois terços dos votos presentes. Além disso, terá o direito de recorrer à Justiça como o fez, em 1974, Gilberto Chateaubriand, que rapidamente obteve uma liminar e manteve-se condômino. Noblat será julgado pelo Conselho Acionário dos DAs num momento em que o governador Roriz também aguarda pronunciamentos do Ministério Público e da Justiça Eleitoral. O jornalista, acusado de ter "partidarizado" o Correio Braziliense e de ter tirado proveitos privados disso; o governador, por ter o Correio Braziliense denunciado supostas irregularidades eleitorais e fundiárias, com base em gravações telefônicas feitas pela Polícia Federal, mediante determinação judicial.
(*) Jornalista e professor da Universidade de Brasília, coordenador do projeto de extensão SOS Imprensa
Luiz Martins (*)
O Conselho Acionário das Emissoras e Diários Associados foi convocado extraordinariamente para decidir na quinta-feira, 3 de abril, no Rio, na sede do condomínio, no prédio do Jornal do Commercio, se expulsa ou não dos seus quadros o jornalista Ricardo Noblat.
Não é a primeira vez que uma proposta de exclusão de um condômino acontece. O próprio filho de Assis Chateaubriand, Gilberto, já foi objeto de movimento semelhante. Entrou na Justiça e continua condômino.
Por mais de sete anos, Noblat foi diretor de Redação do Correio Braziliense. Sob sua liderança, o jornal distinguiu-se por uma reforma gráfica e editorial arrojada, merecedora de uma centena de prêmios, nacionais e internacionais. O êxito de Noblat rendeu-lhe o convite e a eleição para ser o caçula desse seletíssimo clube de senhores, octogenários em sua maioria. Agora, no entanto, quatro deles estão propondo que o jornalista seja excluído do condomínio criado por Chateaubriand.
Os autores da proposta de afastamento de Noblat são Britaldo Soares e Camilo Teixeira da Costa Filho, de Minas Gerais; Joezil Barros, de Pernambuco; e Alfredo Raimundo, do Rio. Eles alegam que o jornalista, desde o seu ingresso no Correio Braziliense, e mais ainda depois de eleito para o condômino, sempre demonstrou total falta de sintonia com "o espírito Associado", tendo uma conduta contrária aos ideais de Chateaubriand.
Queixam-se os quatro de que Noblat, seja como diretor de Redação do Correio, seja como condômino, não buscou "elevar o nível cívico e cultural e não participou do debate dos magnos problemas nacionais".
A referência a "elevar o nível cívico e cultural" e ao "debate dos magnos problemas nacionais" tem a ver com os objetivos dos Associados estabelecidos por Chateaubriand na escritura de criação do Condomínio assinada, no final de 1959. No Correio, a despeito das editorias (a exemplo do "Tema do Dia"); dos cadernos ("Coisas da Vida", um guia para cada dia da semana e um caderno de cultura, o "Pensar"); das campanhas públicas (trânsito, violência e patrimônio histórico); e espaços específicos para ciência, educação, saúde e cidadania (Prêmio Ayrton Senna), os quatro condôminos acham que Noblat não foi um bom seguidor do ideário de Assis Chateaubriand.
A Noblat são atribuídos os seguintes abusos institucionais: desvio da linha editorial do Correio Braziliense em proveito de familiares e simpatizantes políticos; e uso o cargo para fazer campanha político-partidária.
Como amplamente divulgado durante a campanha eleitoral de Joaquim Roriz ao governo do Distrito Federal, Noblat é acusado de ter beneficiado a empresa de assessoria de imprensa da sua mulher, Rebeca. Em resposta, o jornalista sempre cobrou que apresentassem "uma peça acusatória, um único fato concreto, um só benefício, um só depoimento de alguém a propósito de tais desvios".
A acusação entende que a alegada partidarização da linha editorial do Correio causou ao jornal prejuízos morais e materiais, perda de receita de publicidade, cancelamento de assinaturas e várias ações judiciais. Noblat tem dito que as acusações padecem de falta de objetividade por não citarem dados reais referentes à perda de receita de publicidade; por não citarem, objetivamente, um número de assinaturas canceladas por culpa dele; e por não apresentarem uma estimativa das citadas despesas judiciais.
Pronunciamentos da Justiça
Os incômodos causados pela competência, autonomia e notoriedade adquiridas por Noblat ainda lhe rendem revanches, mesmo cinco meses após ter deixado o Correio. Há muito vem circulando nos bastidores do Condomínio a queixa de que Noblat não cumpria ordens do então presidente dos Diários Associados e do Correio, o jornalista Paulo Cabral (afastado em novembro último, pouco antes do segundo turno das eleições, graças a um movimento liderado por Ari Cunha, partidário de Roriz). Noblat, na versão dos condôminos insatisfeitos, mandava sozinho na linha editorial do jornal.
Contra Noblat (agora, no jornal A Tarde, de Salvador), pesam também as seguintes alegadas transgressões:
** criticou publica e infundadamente os condôminos que procuraram demonstrar a impropriedade de suas atitudes;
** permitiu que nas páginas do Correio fossem publicadas ofensas ao Condomínio por meio de manifestações não comprovadas de pessoas nomeadas como leitores;
** incitou leitores a cancelarem suas assinaturas para desestabilizar financeiramente o jornal;
** utilizou-se de sites para divulgar impropriedades contra o Condomínio;
Para cada uma delas, Noblat apresenta, na quinta-feira, 3/4, a sua defesa e cobrará objetividade e provas:
** exigirá que relacionem as ocasiões que tenha feito críticas infundadas aos seus colegas de Condomínio;
** as "ofensas" referidas não passariam de cartas e e-mails que o jornal publicou depois que se tornaram públicas as saídas Paulo Cabral e Noblat: foram menos de 60 cartas e "desabafos" num período de 11 dias;
** exigirá exemplos demonstrativos de que tenha incitado leitores a cancelarem assinaturas;
** publicou, de fato, um artigo no sítio Brasil em tempo Real intitulado "A voz do dono e o dono da voz", no qual expressou os seus pontos de vista sobre a crise que o levou a se demitir, juntamente com Paulo Cabral.
A coleção de queixas contra Noblat, no entanto, vai bem mais além do suposto desprezo pelo ideário de Chateaubriand. Incluem pesadas acusações de beneficiamento político e particular, supostamente respaldadas em notas fiscais de prestação de serviço da Informe Comunicação e Assessoria de Imprensa, empresa que três programas eleitorais para a TV do então candidato Joaquim Roriz (em 17, 18 e 19 de setembro do ano passado) foi apresentada como sendo de Noblat e de sua esposa, Rebeca. Ele já informou várias vezes que a referida empresa pertence aos jornalistas Alba e Sérgio Chacon. Alba e Rebeca são, de fato, sócias, mas de uma outra empresa. Noblat foi sócio da sua mulher, mas no período entre 1990 e 1998, na RRN Comunicação e Marketing Ltda, quando se viu desempregado, demitido do Jornal do Brasil logo após a eleição de Fernando Collor. Ele tem informado, no entanto, que nunca deu um único dia de expediente na tal empresa, pois foi logo chamado para trabalhar numa agência de publicidade, a Propeg.
Sobre o fato de a RRN ter sido contratada duas vezes durante o governo Cristovam Buarque para prestar serviços à companhia local de eletricidade e à Secretaria de Indústria e Comércio do governo do DF, Noblat não vê nisso irregularidade já que se tratava de uma empresa prestadora de serviços como qualquer outra.
Para que Noblat seja expulso dos Diários Associados serão necessários dois terços dos votos presentes. Além disso, terá o direito de recorrer à Justiça como o fez, em 1974, Gilberto Chateaubriand, que rapidamente obteve uma liminar e manteve-se condômino. Noblat será julgado pelo Conselho Acionário dos DAs num momento em que o governador Roriz também aguarda pronunciamentos do Ministério Público e da Justiça Eleitoral. O jornalista, acusado de ter "partidarizado" o Correio Braziliense e de ter tirado proveitos privados disso; o governador, por ter o Correio Braziliense denunciado supostas irregularidades eleitorais e fundiárias, com base em gravações telefônicas feitas pela Polícia Federal, mediante determinação judicial.
(*) Jornalista e professor da Universidade de Brasília, coordenador do projeto de extensão SOS Imprensa
Colaboração do amigo Júlio Falcão.
2 comentários:
Esta notícia foi publicada com um atraso de pelo menos seis anos. Está datada de maio de 2009. O que ela conta se passou em 2003. Fui expulso do Condomínio no final de 2003. Os que me expulsaram retiraram antes a acusação de que beneficiei a empresa da minha mulher quando dirigia o Correio Braziliense. A acusação era falsa. Eles sabiam disso. Olhando pelo retrovisor, acho curioso que me tenham acusado de beneficiar o PT. Muitos petistas detestam o que escrevo em meu blog. Curioso também o destino de alguns personagens dessa história. Eu virei blogueiro. Roriz renunciou ao mandato de senador para não ser cassado por ter embolsado uma grana do dono da empresa GOL.
Caro jornalista, o atraso na reprodução da matéria mão invalida a denúncia.Para seu governo, este blog tem, para lembrar fatos passados, as seguintes chamadas: Vale a Pena Ler de Novo, Túnel do Tempo e Recordar é Viver.Por um lapso não coloquei nenhuma delas.De todo modo, entendo que, até prove o contrário, todo mundo é inocente.
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