No domingo, a França impediu a reeleição de Nicolas Sarkozy e confirmou o socialista François Hollande como novo presidente. No mesmo dia, a Grécia formou um novo parlamento no qual partidos de extrema-esquerda e extrema-direita têm representação importante. Em comum, os resultados obtidos por franceses e gregos carregam uma mensagem clara: as medidas de austeridade impostas pela União Europeia (UE), pelo Banco Central Europeu (BCE) e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) como forma de contornar a crise não são populares. A mensagem não é nova, mas os dirigentes europeus insistem em desconsiderá-la. Nos últimos três anos, a estratégia da Europa de passar a conta dos erros do passado recente para as populações não conseguiu debelar a crise e 12 governos em 11 países já caíram. É possível, provável até, que a austeridade continue em voga, mas ao observar a trajetória dos governos derrubados, fica claro que a instabilidade deve continuar, já que não há mudança na orientação das políticas econômicas.
A instabilidade provocada pela austeridade teve várias formas. Governos caíram pelo voto popular (França, Espanha, Reino Unido), por conta de protestos (Romênia) ou pelo simples rompimento de uma coalizão governista (Holanda). A instabilidade também atingiu as duas pontas da austeridade, afetando tanto os países obrigados a cortar gastos quanto os que tiveram de emprestar dinheiro para os resgates. A Romênia, segundo país mais pobre da União Europeia, viu dois primeiros-ministros caírem entre fevereiro e abril deste ano, ambos sob grandes protestos contra o FMI. Na outra ponta, Iveta Radicova aceitou, no fim do ano passado, deixar o posto de premiê da Eslováquia em troca da aprovação de um novo aporte do país ao fundo de resgate europeu.
A austeridade também conseguiu nublar o espectro político na Europa. Imposto como única forma de resgate, com apoio principalmente do governo de Angela Merkel, na Alemanha, o receituário de privatizações, redução de investimento, diminuição de salários e empregos no setor público foi adotado por governos de centro-esquerda e centro-direita. Irlanda e Portugal, por exemplo, viveram o momento mais agudo da crise juntos. Ambos com economias fracas, se viram diante de dívidas e déficits monstruosos e do risco de falência. A salvação para ambos foi o pacotão bilionário de empréstimos da chamada troika (BCE, UE e FMI). Em contrapartida, a exigência era de muitos cortes de gastos. Em janeiro de 2011, Brian Cowen, primeiro-ministro de centro-direita da Irlanda, caiu. Dois meses depois, o socialista José Sócrates, em Portugal, deixou o poder.
Na Espanha, os eleitores tentaram fazer o óbvio diante da crise, substituir o governo. Trocaram a centro-esquerda do Partido Socialista pela centro-direita do Partido Popular. Mariano Rajoy, do PP, chegou ao poder e está simplesmente aplicando o receituário da troika na Espanha.
A adoção de políticas iguais pelos “dois centros” (o de esquerda e o de direita) favoreceu a ascensão dos extremistas. A queda de Mark Rutte, até o mês passado primeiro-ministro da Holanda, é emblemática. Rutte desejava cortar 16 bilhões de euros do orçamento holandês, mas não obteve apoio em sua coalizão. O projeto foi rejeitado tanto pela extrema-direita quanto pelos socialistas. Situação parecida surgiu nas eleições da França e da Grécia. As extremas-esquerdas (“Partido da Esquerda” na França e “Syriza” na Grécia) e as extremas-direitas (“Frente Nacional” na França e “Amanhecer Dourado” na Grécia) conseguiram votações inéditas, ambas com a mesma plataforma: contra as medidas de austeridade e, no limite, contra a União Europeia.
Uma solução para este impasse pode estar nas mãos de François Hollande. O novo presidente da França promete defender nas conversas com a Alemanha de Merkel um plano capaz de unificar tanto os cortes em alguns setores como medidas para estimular a economia. Ele é a voz dissoante que diz tentar mudar a política econômica. Se isso não for feito, a instabilidade continuará acompanhando os europeus.
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