O primeiro dia útil da semana foi bem-humorado ao menos na política. O que
proporcionou diversão a simpatizantes do governo Dilma e, ainda que não digam,
provavelmente até a oposicionistas, mais uma vez foi a instantaneidade do
Twitter, rede social em que não poucos escrevem primeiro e pensam depois.
Foi assim que Roberto Freire (político pernambucano que, estranhamente,
candidatou-se a deputado federal por São Paulo em 2010 pela primeira vez na vida
e que, ainda mais estranhamente, conseguiu se eleger) virou piada.
Como todos já devem saber, Freire exprimiu revolta ao ler piada em um site
humorístico que imita o portal G1, obviamente por ter acreditado. A “notícia”
afirmava que Dilma havia mandado o Banco Central colocar nas cédulas de real a
frase “Lula seja louvado”.
Como o Twitter não perdoa gafes desse porte, logo alguém criou a hashtag
#LulaSejaLouvado, que, rapidamente, subiu ao topo dos Trending Topics (temas
mais comentados). Freire, então, justificou-se dizendo que, “Em função do
desmantelo e imoralidade dos tempos ‘lulodilmistas’, tal estapafúrdia noticia”
teria “ares de verdade”.
Com uma dose cavalar de boa vontade poder-se-ia compreender que um homem
adulto e maduro (em termos de idade), letrado, um deputado federal, enfim,
acredite em um site que tem “notícias” como a de que Dilma pretende privatizar
parte da população brasileira (!). Mas a justificativa que deu para a gafe, é
imperdoável.
Para entender a mentalidade desse cavalheiro, basta lembrar que afirmou certa
vez que os atuais detentores do poder não possuem um projeto de governo. Se
dissesse que discorda do projeto que já venceu três eleições presidenciais
consecutivas, não seria nada. É óbvio que deve discordar se com ele não
concorda. Mas dizer que não existe?!
Ainda em sua justificativa para gafe tão ridícula, Freire também aludiu a
corrupção dos adversários. Suas palavras: “Lulopetistas histéricos e satisfeitos
com a gafe por mim cometida, mas nada dizem das imoralidades e malfeitorias do
governo Dilma”. Disse isso em um momento em que mais um expoente moralista da
oposição acaba de ser desmascarado.
Então vamos resumir a mentalidade desse homem. Ele não concede nenhum mérito
ao que chama de “lulodilmismo” e atribui corrupção só aos adversários políticos.
E o que é mais: quer que a sociedade acredite nisso.
Se disserem ao deputado Roberto Freire que o Brasil é hoje um dos países que
mais progridem no mundo tanto do ponto de vista social quanto econômico, ele
dirá que tudo o que está acontecendo de bom é mérito de seu grupo político, ou
seja, do governo Fernando Henrique Cardoso, e que Lula e Dilma apenas colheram
os frutos de um governo como aquele, que terminou melancolicamente, fortemente
rejeitado pelo povo.
Pode-se discutir esse ponto, mas, sob tal discurso, não há discussão séria
possível. Nem a mídia – ou a maioria da mídia, porque há exceções – que apóia
cinicamente o grupo político de Freire ousa tanto, preferindo dizer que o
sucesso de hoje é resultado de uma conjunção dos supostos feitos de FHC com os
poucos que reconhece nos governos “lulodilmistas”.
Agora passemos ao discurso de José Serra ou de sua voz na internet, o
blogueiro da Veja Reinaldo Azevedo, por exemplo, ou ao de tantos outros
oposicionistas de expressão. Só o que veremos é que Freire não está sozinho.
Esse é discurso da oposição e de 150% da militância demo-tucana-pepessista, do
que são provas os comentários que posta neste blog todo dia.
Esse deputado é a síntese de seu grupo político. Sempre disposto a comprar
qualquer acusação e a fazer qualquer crítica que avalie que possa atingir os
adversários, pouco importando a origem, sem checar nada e, como se vê, sem
refletir um mínimo que seja.
Escrevi ontem no Twitter e repito aqui: não achei graça na gafe do deputado
Roberto Freire e nem quero espezinhá-lo por ela, ainda que a tentação à veia
humorística deste blogueiro seja quase irresistível. Sinto comiseração por ele e
preocupação com a democracia brasileira. Uma oposição repleta de idiotas desse
porte é perniciosa para o país.
Qualquer nação democrática precisa de oposição, e quanto mais ela for séria
mais serviços prestará à sociedade. Ora, governo nenhum é composto por santos.
Todo governo precisa ser fiscalizado. Há corrupção no governo Dilma Rousseff,
sim, como há no governo Geraldo Alckmin, no governo Gilberto Kassab e por aí
vai.
Pode-se discordar do projeto desses governos, mas querer vender a teoria de
que só no governo Dilma existe corrupção e negar-lhe êxitos que o mundo inteiro
e a maioria esmagadora dos brasileiros reconhecem explica por que o conjunto
deste povo vem dando reiterados nãos a essa oposição.
E quando falo de oposição não falo tão-somente da oposição de centro-direita,
mas, também, da de esquerda. No domingo, por exemplo, um militante do PSOL
resumiu a oposição que faz esse partido ao dizer que Dilma “deu 250 bi a
rentistas e 20 bi ao Bolsa Família”…
Caramba! Dilma é uma mulher muito má, então. É um monstro. Provavelmente fez
isso porque é corrupta, o que o mesmo psolista disse que se pode comprovar por
ela ter “se aliado” a Paulo Maluf e a Jair Bolsonaro. Não, ela não fez aliança
com o PP, mas com esses dois. Só queria saber como o PSOL faria para governar
sem maioria…
Então vejamos: Dilma é má, pois enche os bolsos dos ricos e dá migalhas aos
pobres, e é corrupta, homofóbica e idiota, pois se alia a um corrupto e a um
demente que acha que todo gay quer levá-lo para a cama.
Esse é o nível da oposição que temos ao governo Dilma e que, durante oito
anos, tivemos ao governo Lula. E essa oposição também explica cabalmente a
rejeição dos brasileiros aos adversários do PT. Só que isso não deve nos servir
de consolo.
Por essas razões, a oposição está minguando. O DEM e o PPS estão se
desintegrando, o PSDB, apesar de ainda ter alguma musculatura, também míngua a
cada eleição. O PSOL elegeu 3 deputados federais em 2010. E a população assiste
ao moralismo da oposição de direita ser desmascarado na pessoa de Demóstenes
Torres ou na de José Roberto Arruda.
Até a imprensa tucana reconhece que a oposição está cada dia mais debilitada.
Podem buscar nas colunas políticas de Folha, Veja, Estadão e Globo que
encontrarão Cantanhêdes, Azevedos, Nêumanes e Mervais dizendo isso.
Ainda assim, esses colunistas, editorialistas, editores e até os donos desses
veículos não conseguem entender que o povo não vê na oposição a “ética” que ela
e a mídia querem lhe vender. E é por isso que estamos caminhando para ter um
governo com um poder muito maior do que é desejável, pois um poder sem
contrapeso sempre tende ao excesso.
Democratas como este que escreve ficam sem saída. Não posso ratificar ou
deixar de denunciar as tentativas (agora sim) estapafúrdias dessa gente de
vender tais barbaridades. E, por isso, acabo não podendo exercer fiscalização e
ter uma postura criticamente construtiva, pois estaria ajudando esses dementes a
recuperarem o poder.
Não se deve rir da idiotia sobre-humana de Roberto Freire, pois não tem
graça. Ele é um resumo vivo da oposição que o Brasil tem hoje, uma oposição que
não cumpre seu papel por exercê-lo com tirania, com burrice, com virulência e
com desonestidade. A gafe desse indivíduo oferece mais motivos para chorar do
que para rir.
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