domingo, 21 de fevereiro de 2010

Dilma diz ter mais experiência que opositores



Época


Dilma rousseff já fala como candidata à presidência. Falou pela primeira vez numa entrevista a ÉPOCA, concedida na última quinta-feira, dia de abertura do Congresso do PT que a aclamou como o nome do partido para disputar a sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Escolhida candidata por Lula, Dilma se apresenta como a melhor alternativa para dar continuidade aos projetos do atual governo. E faz questão de rebater a acusação dos adversários de que seja apenas um títere do presidente: “Duvido. Duvido que os grandes experientes em gestão tenham o nível de experiência que eu tenho. Duvido”. Mas, questionada sobre a possibilidade da volta de Lula em 2014, Dilma aceita a hipótese. “Sem sombra de dúvida, ele pode. O presidente chegou a um ponto de liderança pessoal, política, nacional e internacional que o futuro dele é o que ele quiser”, diz a ministra-chefe da Casa Civil – posto de Dilma até 2 de abril, quando deverá deixar o cargo para disputar as eleições presidenciais.

ÉPOCA – O que qualifica a senhora para ser presidente da República?


Dilma Rousseff – O governo Lula deu um passo gigantesco. Construiu um alicerce em cima do qual você pode estruturar a transformação de que o Brasil precisa. A partir de 2005, o presidente me deu a imensa oportunidade de coordenar o segundo governo dele. Estávamos enfrentando uma crise muito forte (o escândalo do mensalão) e uma disputa que tentava inviabilizar o governo. Ainda não tínhamos conseguido implantar a estabilidade de forma definitiva. A inflação e as contas públicas estavam sob controle, mas o crescimento ainda era baixo. As reservas também. Aí o investimento entrou na ordem do dia, e modificamos o jogo no segundo mandato do governo Lula. Tive a oportunidade de entrar exatamente nessa grande crise.

ÉPOCA – A oposição tem comparado sua candidatura à de um poste. O que a senhora acha dessa comparação?


Dilma – Você acha que, como ministra-chefe da Casa Civil, eu sou um poste?

ÉPOCA – Provavelmente quem diz isso acha que sim.


Dilma – Duvido. Duvido que os grandes experientes em gestão tenham o nível de experiência que eu tenho. Duvido.

ÉPOCA – A senhora tem esperança de que o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) desista de se candidatar a presidente?


Dilma – Para mim, seria muito bom que ele estivesse em meu palanque. Mas, seja qual for a decisão dele, vamos respeitar porque ele é do nosso campo. Ciro é uma pessoa especial. Foi um companheiro de governo e participou com a gente dos momentos mais difíceis quando, em 2005, o governo estava sofrendo um certo cerco. Quero estar com ele no mesmo palanque, mas não é a minha preferência que vai informar o que o deputado Ciro Gomes vai fazer.

A construção da candidata Dilma

No sábado de Carnaval, por sugestão do amigo e governador da Bahia, Jaques Wagner, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, assistiu à saída do bloco afro Ilê Ayê, no bairro pobre do Curuzu, em Salvador. No meio da multidão, Dilma caminhou cerca de 100 metros ladeira acima, até a casa de dona Hilda, mãe de santo inspiradora do bloco, que morreu há seis meses. Mesmo ofegante, Dilma mostrava animação. Ela tomou “banho” de pipoca e de milho branco cozido, em um ritual de limpeza espiritual do candomblé, e soltou uma das 36 pombas brancas que marcam a saída do Ilê Ayê. Ao descer a ladeira de volta, sob os gritos de “Linda, linda, linda”, Dilma tirou fotos e cumprimentou foliões.

Na Quarta-Feira de Cinzas, uma pesquisa do Ibope encomendada pela Associação Comercial de São Paulo mostrou um novo crescimento de Dilma na disputa presidencial. Escolhida e apoiada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma atingiu 25% das intenções de voto, enquanto o líder, o governador de São Paulo, José Serra, se manteve em 36% – em comparação a 38% do levantamento anterior, num cenário que ainda inclui Ciro Gomes na disputa.

Há sete anos, uma Dilma muito diferente chegou ao governo Lula. Militante com um ano de PT, ex-guerrilheira de organizações de esquerda como Política Operária (Polop) e Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR Palmares), torturada e presa durante três anos, Dilma era conhecida como a campeã do PowerPoint, o programa de computador amplamente usado para palestras. Dilma era a técnica com fama de profissional disciplinada, concentrada no trabalho e capaz de recitar de memória números sobre a infraestrutura do país.

Ao longo do governo, ganhou a fama de autoritária. Em 2004, Dilma gritou com o então presidente da Eletrobrás, Luiz Pinguelli Rosa, durante uma discussão presenciada por várias pessoas. Rosa levantou-se da mesa, pediu demissão e saiu. Subordinados também reclamavam de broncas aos gritos e rompantes de raiva de Dilma. Aos poucos, essa Dilma durona passou por uma metamorfose. Fez uma cirurgia e trocou os óculos por lentes de contato. Passou a sorrir mais. Começou a misturar frases mais coloquiais e amigáveis em meio a estatísticas em assuntos como energia, petróleo e siderurgia. Fez pequenas intervenções plásticas no rosto e adotou roupas menos sérias. A Dilma técnica foi substituída pela Dilma política, risonha e candidata à Presidência.

A pré-campanha de Dilma está, porém, tomando cuidados. No Carnaval, Dilma e sua comitiva viajaram num avião alugado pelo PT e evitaram carros oficiais para visitar Recife, Salvador e Rio de Janeiro. Foram usados carros alugados. O objetivo da viagem era aproveitar o descanso para exibir a ministra ao máximo em ambientes onde ela nunca fora vista. No sábado, Dilma saiu cedo de Brasília com uma comitiva que incluía o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e assistiu ao desfile do bloco Galo da Madrugada, no Recife. Antes da folia, reuniu-se com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e com o deputado Ciro Gomes (CE), também pré-candidato à Presidência, ambos do aliado PSB. O assunto do encontro foi a campanha presidencial, tratada na conversa com a descontração do Carnaval. Depois Dilma foi ao camarote do governo e passou pouco mais de uma hora se divertindo antes de voar para Salvador.

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