domingo, 21 de fevereiro de 2010

Lula inaugura viagens de despedida com 'giro' pela América Latina


Fabrícia Peixoto, enviada especial da BBC Brasil a Cancún


Em seu último ano de mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva dá início, neste domingo, a uma viagem de sete dias por quatro países da América Latina - México, Cuba, Haiti e El Salvador - inaugurando um ciclo de despedidas que deve durar até agosto.

De acordo com o Palácio do Planalto, os países visitados são representativos da diplomacia brasileira para a região.

"O presidente tem escolhido muito bem as viagens que fará neste ano", disse o porta-voz da Presidência, Marcelo Baumbach, citando Cuba como exemplo de um país que é "prioridade da nossa política externa".

O argumento também se aplica ao Haiti, país que antes mesmo do terremoto do mês passado já era alvo das pretensões da diplomacia brasileira na América Latina.

Em El Salvador, Lula tem encontro marcado com o presidente Maurício Funes, considerado por muitos como um "discípulo" do presidente brasileiro - e que mantém, inclusive, uma forte ligação com o Partido dos Trabalhadores (PT).

Cúpula

O roteiro da viagem começa pela cidade de Cancún, no México, onde o presidente Lula participa, até terça-feira, da 2ª Cúpula da América Latina e do Caribe, um fórum de chefes de Estado criado em 2008 como uma tentativa de integrar os países da região sem a participação de Estados Unidos e Canadá.

A expectativa é de que o principal assunto do encontro seja a reintegração de Honduras à Organização dos Estados Americanos (OEA).

Segundo diplomatas ouvidos pela BBC Brasil, o governo brasileiro estaria disposto a reconhecer o governo de Porfírio Pepe Lobo, mas "com condições".

Lobo foi eleito em novembro passado após um período de cinco meses em que o então presidente, Manuel Zelaya, foi deposto do cargo e exilado (ele retornou clandestinamente depois e ficou abrigado na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa até o dia da posse de Lobo).

O governo brasileiro argumenta que o reconhecimento "automático" do governo Lobo seria um "mau exemplo" em uma região com histórico de instabilidade política.

De acordo com um diplomata, a idéia é aproveitar a reunião de chefes de estado em Cancún para "sugerir" ajustes no processo político de Honduras, entre eles a instauração de uma comissão da verdade que investigue os fatos ocorridos durante a crise.

Segundo essa mesma fonte, a sugestão brasileira deverá encontrar "obstáculos", já que alguns países da América Central, como Costa Rica e El Salvador, têm interesse em restabelecer "imediatamente" as relações com Tegucigalpa.

"São países que têm suas econômicas diretamente ligadas à hondurenha e não podem se dar ao luxo de esperar que essas condições sejam implementadas", diz o diplomata.

Investimentos

Na terça-feira, o presidente parte para Cuba, onde deverá anunciar uma segunda parcela de investimentos na construção do porto de Mariel, no valor de US$ 300 milhões. Outros US$ 150 milhões já foram desembolsados.

Segundo dados da Presidência, durante a gestão do presidente Lula foram investidos US$ 1 bilhão na ilha. "Cuba é uma espécie de emblema daquilo que se quer mudar na relação hemisférica", disse à BBC Brasil uma fonte do Palácio do Planalto.

Existe também a expectativa de que novos investimentos no Haiti sejam anunciados durante a visita do presidente ao país, na quinta-feira.

Em janeiro, o governo brasileiro aprovou a liberação de US$ 375 milhões ao país caribenho, sendo a maior parte para reforçar o orçamento da operação militar.

Já em El Salvador, onde fica de quinta-feira até sábado, o presidente brasileiro deverá detalhar, com Funes, o financiamento já anunciado pelo BNDES para renovação da frota de ônibus do país, no valor de US$ 300 milhões.

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