terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

O inferno astral de Serra


Mais uma penca de sabujo do PiG lamentando a atual situação política do tucano Zé Alagão.

Agencia O Globo/Gerson Camarotti, Adriana Vasconcelos e Flávio Freire


Após as enchentes e a prisão de Arruda, o governador tucano vê Kassab, também do DEM, ameaçado de perder o mandato. Pela astrologia, o inferno de Serra vai até 19 de março, seu aniversário.


BRASÍLIA e SÃO PAULO. A cassação do prefeito Gilberto Kassab (DEM), mesmo que suspensa ontem pela Justiça, era o que faltava para completar o quadro de inferno astral que ronda o DEM e, por tabela, a pré-candidatura do governador José Serra (PSDB) à Presidência. Principal aliado do PSDB, o DEM já estava na berlinda com a prisão de seu único governador, José Roberto Arruda, afastado do cargo e do partido após o escândalo do mensalão no Distrito Federal. Em meio aos dissabores na política, as chuvas que têm atormentado a vida dos paulistanos arrastam críticas à medidas tomadas por Kassab e Serra contra as enchentes. Os números da violência em São Paulo assustam igualmente.

E até numa seara distante da briga política, como o futebol, o tucano tem sofrido: seu Palmeiras perdeu o título do campeonato brasileiro para o Flamengo no final e agora vai mal no campeonato paulista — apesar de ter ganho o clássico de domingo contra o São Paulo, perdeu o técnico Muricy Ramalho depois de uma goleada do São Caetano.

Integrantes da cúpula do PSDB, entre eles o presidente do partido, senador Sérgio Guerra (PE), desembarcaram ontem em São Paulo com o objetivo de convencer Serra a antecipar o cronograma de lançamento de sua candidatura presidencial.

A avaliação dos tucanos é de que Serra começa a perder espaço na mídia e no eleitorado para a ministra Dilma Rousseff, como ocorreu no último fim de semana com o lançamento da pré-candidatura dela pelo PT — e, para agravar, o aliado DEM só aparece mais nas páginas políticas ligadas a investigações da polícia e da Justiça.

Mas Serra tem avisado que vai resistir e só anunciar sua candidatura na véspera do prazo de desincompatibilização, no início de abril. Entre aliados do governador paulista, o temor é que ele leve mesmo ao pé da letra sua superstição de não tomar qualquer decisão pessoal durante o chamado “inferno astral”. Nesse caso, tudo ficaria em suspenso até 19 de março, quando ele completa 68 anos.

Os tucanos também não escondem a preocupação com a crise política que atingiu o DEM. A disposição da cúpula do PSDB e de aliados de Serra é aumentar a pressão para que o governador mineiro, Aécio Neves, aceite compor a chapa presidencial, evitando dessa forma qualquer possibilidade de o DEM ficar com a vaga de vice. Como Aécio vem resistindo, alguns tucanos já articulam um plano B, dentro do próprio PSDB. Muitos defendem como alternativa um nome forte do Nordeste para a vaga de vice. Um dos nomes lembrados é o do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE). O problema é que Serra e Tasso não têm boas relações.

E essa opção também poderia gerar problemas dentro da aliança, já que o DEM sinaliza que só abriria mão da vaga de vice para Aécio.

— Já foi declarado pelo PSDB que o vice será do DEM. Só não o será se o DEM abrir mão para uma solução melhor (Aécio) — disse ontem o líder do DEM, senador José Agripino (RN).

— Eu acredito que a chapa Serra/Aécio se consolidará. Tudo conspira a favor disso.

Até mesmo a situação do DEM, embora o partido esteja reagindo muito bem à crise no Distrito Federal, fazendo o que o PT não teve coragem de fazer — diz o presidente nacional do PPS, Roberto Freire.

Os que mais conhecem o governador paulista dizem que ele dificilmente mudará de posição, antecipando sua candidatura.

Até porque sempre deixou para tomar a decisão na última hora. Foi assim em 2004, quando decidiu anunciar sua candidatura para a prefeitura de São Paulo e, em 2006, quando desistiu de disputar a sucessão presidencial. Nas duas ocasiões, Serra só tomou uma decisão depois de comemorar o seu aniversário.

— Se Serra já tivesse anunciado a sua candidatura, todos os seus atos administrativos seriam questionados e passariam a ser vistos como ato de campanha — justifica o ex-líder do PSDB, deputado Jutahy Junior (BA).

Para tranquilizar seu grupo de que sua estratégia é correta, o governador tem análises das pesquisas de que o seu índice tem se mostrado estável e que o crescimento da ministra Dilma acontece dentro do campo de eleitores petistas.

Além disso, Serra está convencido de que a antecipação de sua candidatura presidencial só traria desvantagens, pois teria que cuidar de problemas administrativos de São Paulo, como as enchentes, tendo que falar como candidato e governador, o que fragilizaria a sua posição.

Serra tem transferido a interlocutores a tarefa de reforçar a ideia de que os escândalos no DEM não vão respingar na sua campanha. Tucanos procuraram descolar a imagem dele da situação que envolve Arruda e Kassab, e ainda alimentam o discurso de que o apoio do DEM é importante para reforçar a campanha de Serra em diferentes estados.

— O projeto do Arruda vinha sendo bem avaliado quando houve o problema.

Já a questão do Kassab nada tem a ver com questões políticas, foi um problema técnico. E por isso não dá para imaginar que uma campanha de Serra seria ameaçada por questões que nada têm a ver com a sua trajetória política ou administrativa — diz o presidente do Instituto Teotônio Vilela, o tucano João Paulo Velozo Lucas, para quem o DEM tem peso significativo numa corrida presidencial.

Até tempestade o governador enfrentou nos últimos dias: o helicóptero em que estava na sexta-feira da semana passada teve de voltar a São Paulo por causa das fortes chuvas e da turbulência no caminho, e, com isso, o piloto do Palácio dos Bandeirantes precisou voltar e abortar a viagem para Avaré, no interior do estado, onde tinha compromissos.

Mas é na esfera política que seus aliados trabalham para distanciá-lo da crise alheia. Velozo Lucas chegou a fazer o seguinte paralelo para justificar que o problema vivido pelo DEM não deve prejudicar a campanha serrista.

— O prefeito de Cachoeiro de Itapemirim está com 40% de desaprovação no seu governo e nem por isso a ministra Dilma Rousseff (pré-candidata do PT à Presidência) vai ser atingida por esse problema, não é? — diz ele, desconsiderando a relação quase umbilical entre Kassab e Serra.

O peso do DEM para a montagem de palanques regionais parece ter blindado o partido de qualquer ataque.

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