sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Marco Aurélio Garcia: Fundamental é derrotar o golpe em Honduras



O assessor da Presidência da República para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, afirma que o Brasil evita assumir protagonismo na crise hondurenha e considera "inacreditável a resistência dos golpistas". Garcia acredita que, com a permanência deles no poder, há "o risco real de que, se insistirem na hipótese de realizar eleições, elas não sejam aceitas", diz

Em visita a Honduras, nesta quinta-feira, a delegação de chanceleres da OEA (Organização dos Estados Americanos) não encontrou progressos nas negociações para permitir o retorno ao poder do presidente Manuel Zelaya, deposto em 28 de junho.

Durante uma reunião noturna, a OEA foi confrontada com a resistência do presidente golpista Roberto Micheletti, que não aceita a restituição de Zelaya ao cargo, justamente o ponto central do Acordo de San José, articulado pelo presidente da Costa Rica, Oscar Árias.

Aos representantes diplomáticos, Micheletti declarou: "Se hoje sou o obstáculo, vou fazer a minha parte, mas exijo o mesmo deste senhor". Desde 21 de setembro, Zelaya está "abrigado" na embaixada brasileira em Tegucigalpa.

O assessor da Presidência da República para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, afirma que o Brasil evita assumir protagonismos na crise hondurenha e considera "inacreditável a resistência que os setores golpistas estão demonstrando."

"Eles estão numa situação dificílima e correndo o risco real de que, se insistirem na hipótese de realizar eleições, elas não sejam aceitas", analisa Marco Aurélio Garcia em entrevista a Terra Magazine. Confira a íntegra.

Como o senhor avalia os resultados iniciais da missão da OEA e a posição de Micheletti?

Acho que ele está tentando resistir numa situação que, a cada dia, se coloca mais difícil pra ele, qual seja, sustentar o golpe de Estado repudiado internacionalmente - não só na América, mas no mundo inteiro.

Ainda agora estou voltando da reunião Brasil-União Europeia e lá foi reiterada a posição da UE de condenação. Já houve, na semana passada, a condenação da União Africana. Eles estão numa situação dificílima e correndo o risco real de que, se insistirem na hipótese de realizar eleições, elas não sejam aceitas.

Como vê o risco de o presidente Zelaya retornar com poderes reduzidos?

O presidente Zelaya, é importante dizer, foi muito generoso quando aceitou a própria proposta que tinha sido apresentada pelo presidente (da Costa Rica) Árias. Quer dizer, nesse particular, é inacreditável a resistência ainda que os setores golpistas estão demonstrando.

Em sua opinião, o Acordo de San José tem pontos aceitáveis para a retomada democrática em Honduras?

Olha, estou me valendo aqui do seguinte: nós não podemos ser mais realistas do que tem sido o próprio presidente Zelaya, que tem demonstrado muita generosidade. Ele estaria disposto a fazer concessões. Para nós, a questão fundamental é a seguinte: o golpe tem que ser derrotado pelos efeitos nefastos que ele pode ter sobre o resto da América Latina. Isso é uma questão gravíssima. Abre um precedente, vai ser muito ruim para a região.

Como se altera a posição do Brasil a partir dessa missão da OEA? Quais são as mudanças que podem ocorrer?

Veja bem. O Brasil, desde o começo, manteve uma posição solidária com todos os países que condenaram o golpe, mas nós não procuramos assumir nenhum protagonismo. O protagonismo maior que o Brasil teve decorreu do fato de o presidente Zelaya ter, acertadamente, quero insistir nisso, decidido voltar pro País - de uma certa forma, para vir empatar aquela situação em que se encontrava Honduras - e ter buscado abrigar-se na embaixada brasileira. Isso é o que nos projetou numa posição maior.

Mas nós sempre dissemos que o problema deveria ser resolvido entre a OEA e o governo, expressando aí uma vontade coletiva, que é também a do Brasil, para que fosse restabelecida plenamente a investidura do presidente Zelaya.

Terra Magazine

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