Em meio ao entusiasmo geral sobre os números do crescimento econômico no primeiro trimestre, revelados nesta terça-feira, havia pelo menos um brasileiro infeliz: José Serra. O presidenciável da oposição viu os números do IBGE lhe arrebatarem mais uma bandeira, a do investimento, que cresceu espetaculares 26% em um ano.
Por Bernardo Joffily
Conforme os números das contas trimestrais do IBGE (Instituto Nacional de Geografia e Estatística) a taxa de investimento brasileira (Formação Bruta de Capital Fixo, ou FBCF, na gíria do Instituto) cresceu 7,4% na comparação trimestre-trimestre e 26% em relação ao mesmo período de 2009. Foi o melhor desempenho desde que o IBGE começou a medir o índice, em 1995.
"Estou feliz"...
Serra, que vinha insistindo na crítica ao investimento baixo, teve que engolir mais esta. Depois do Banco Bentral, da Bolívia, do 'dossiê' que foi sem nunca ter sido e de uma proposta "inédita" para melhorar o Bolsa Família, que já está em prática desde 2008, é mais uma bandeira que lhe escorrega pelos dedos.
É claro que ele não passou recibo. “É bom que haja essa recuperação. Eu estou feliz”, assegurou para os repórteres.
Mas em seguida entregou sua contrariedade. E pôs-se a buscar defeitos nos números excepcionais, que mostram o Brasil crescendo 9% ao ano, um ritmo que supera os 8% da Índia e só perde para os fantásticos 11,9% da China socialista: "Me preocupa que o investimento agregado ainda tenha caído, reclamou.
Próximas contas saem a um mês da eleição
Como economista, José Serra com certeza sabe que o raciocínio dele não se sustenta. O investimento agregado ainda caiu porque o investimento foi o índice que mais sofreu no ano passado sob o impacto da crise econômica mundial. Caiu 14,2%, 16,0% e 12,5% nos três primeiros trimestres de 2009. Só começou uma recuperação tímida, de 3,6%, no último trimestre. Neste primeiro trimestre, ele deu uma espetacular volta por cima. Mas ainda acumula um recuo de 1,5% no acumulado de quatro trimestres.
Com o investimento ainda no vermelho, é claro que o investimento agregado tinha que recuar. Conforme o IBGE, ele se situou em 18% do PIB: mais que os 16,3% do primeiro trimestre de 2009, porém menos que os 18,7% alcançado no terceiro trimestre de 2008, antes da crise mundial atingir sua fase aguda.
Também nesta terça-feira, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, revelou que os investimentos na indústria cresceram 133% nos primeiros três meses deste ano, em relação a igual período do ano passado. A indústria foi a principal responsável pelo tombo de 2009 – em boa parte por um apavoramento sem base, como o presidente Lula já comentou mais de uma vez. Mas agora também é o setor que impulsiona a recuperação dos investimentos.
O comportamento da indústria indica o andar da carruagem. No próximo trimestre tudo indica que o buraco de 2009 já será coisa do passado. Aí José Serra será obrigado a engolir seu sofisma. E como o candidato da oposição parece ser um homem pouco bafejado pela sorte, a próxima edição das contas trimestrais do IBGE deve asir a menos de um mês do dia da eleição...
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