O candidato a vice-presidente na chapa do tucano José Serra já mostrou a que veio — e conseguiu a proeza de desagradar a todos. Ao dizer que “todo mundo sabe que o PT é ligado às Farc, ligado ao narcotráfico, ligado ao que há de pior”, Índio da Costa (DEM-RJ) irritou seus aliados, constrangeu eleitores de opinião pró-Serra e pode até ser questionado na Justiça.
Por André Cintra
Por André Cintra
As infâmias foram veiculadas na sexta-feira (16) pelo portal Mobiliza PSDB, mas o vídeo foi rapidamente tirado do ar. A campanha Serra também tratou logo de fugir ao máximo da responsabilidade. Soninha Francine, coordenadora de internet do comitê central de Serra, e Sérgio Caruso, coordenador da comunicação da campanha na web, declararam que nada têm a ver com as sandices de Indio da Costa.
Destemperado, o jovem “demo” também chamou a candidata do PT, Dilma Rousseff, de ateia e "esfinge do pau oco". Tudo porque, em comício no Rio de Janeiro, Dilma ousou comparar seu próprio vice, Michel Temer (PMDB-SP), com Índio da Costa. “Meu vice não caiu do céu, não é improvisado. É competente e capaz”, sintetizou a petista.
A reação do vice de Serra — que é deputado federal — serviu para desnudar o que pensa um político até então desconhecido até mesmo em seu próprio partido. “O Índio do Serra deveria continuar mostrando como conhece a política nacional. É o vice dos nossos sonhos. Tá ajudando muito mesmo", ironizou o secretário nacional de Comunicação do PT, André Vargas (RS).
Reprovação geral
Nos bastidores, a coligação demo-tucana repudiou a verborreia de Índio da Costa. Segundo o blog do jornalista Josias de Souza, da Folha de S.Paulo, Serra “evitou desaprovar Índio em público”, mas privadamente “considerou inadequadas as declarações de seu vice. Avaliou que destoaram do discurso que pretende esgrimir na campanha”.
O desacordo ecoou entre os presidentes nacionais do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), e do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ). “Não dá para cravar que o PT tenha relação com as Farc”, admitiu Rodrigo. “Não tenho elementos para dizer que há ligações do partido com as Farc”, reconheceu Guerra. No mesmo tom, o ex-prefeito do Rio Cesar Maia declarou que “o PT como partido — e pela sua diversidade, especialmente pela hegemonia do sindicalismo — não tem essa ligação".
Em depoimento “em off” à Folha de S.Paulo, um dos coordenadores da campanha Serra afirmou que Índio da Costa “se excedeu e que Serra não pretende adotar esse discurso no embate com a candidata petista. Ele atribuiu o tom dos ataques à inexperiência de Indio, de 39 anos. ‘A juventude tem vantagens e desvantagens’.”
Orestes Quércia (PMDB-SP), candidato ao Senado e um dos raros peemedebistas a apoiar Serra, foi outra liderança política a questionar o discurso de Índio da Costa. Segundo Quércia, “não é o momento para fazer esse tipo de conexão”.
Até a candidata verde, Marina Silva, saiu em defesa do PT e contra a baixaria do vice de Serra. “Aprendi com os índios na Amazônia que é muito importante estar bem preparado politicamente, tecnicamente e inclusive emocionalmente para pretender o lugar de cacique. Acho que talvez o deputado Indio não esteja suficientemente preparado para ser cacique do Brasil.”
Tuitando à margem da lei
O palavrório antipetista não foi a única lambança de Índio da Costa. No domingo (18), o ministro Henrique Neves, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), multou o vice de Serra em R$ 5 mil por propaganda antecipada na internet. Em 4 de julho, quando sua indicação à chapa presidencial mal havia saído do forno, Índio já pedia voto abertamente para Serra através do Twitter, o que viola a artigo 36 da Lei das Eleições (9504/97).
“A responsabilidade é enorme. Mas conto com o seu apoio e com o seu voto”, tuitou o político “demo”, dois dias antes do início oficial da campanha. “Vou dar tudo de mim. Vamos para as ruas eleger Serra Presidente”. Ao dar tudo de si, Índio mostrou que, mesmo “caindo do céu”, foi capaz de provocar um imenso inferno astral na campanha Serra.
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