Magistrado aposentado recebeu a comenda há 33 anos do Governo de Minas Gerais e se indignou com a homenagem ao líder do MST
O juiz aposentado, Mozart Hamilton Bueno, 74 anos, devolveu esta
semana, pelo correio, a Medalha da Inconfidência que recebeu do Governo
de Minas Gerais no ano de 1982. Em uma carta aberta, o magistrado conta
que o motivo que o levou enviar o presente de volta foi a homenagem
feita igualmente a João Pedro Stédile, líder do Movimento Sem Terra
(MST) na última terça-feira (21) pelo governador mineiro Fernando
Pimentel.
No documento, Bueno classificou Stédile como “invasor de propriedades
alheias, de incentivador da desobediência civil, da liderança de
insurrectos e como comandante de um exército ilegal e nocivo à segurança
nacional”. Em outro trecho trecho, pede desculpas ao atual chefe do
executivo de Minas e diz que a medalha, a passadeira e o diploma,
entregues a ele pelo ex-governador Francelino Pereira dos Santos,
seguirão via postal.
“Não me julgo superior a esse senhor Stédile, mas a minha modesta
biografia, a minha devoção ao meu Estado natal, - berço e sacrário da
nossa liberdade - recomendam-me não aceitar esse nivelamento, razão pela
qual e por imperativo da minha formação cívica, renuncio ao galardão,
com pesar, é verdade, mas convicto de que faço o que dita minha
consciência”, escreveu.
O
Terra
entrou em contato com o magistrado que vive hoje em Brasília. Por
telefone, ele disse que “dói ter que devolver a comenda, mas mais
dolorido seria permanecer com ela”. Ele contou também que a própria lei
que criou a medalha concorda que, para merecê-la, o homenageado deve ter
prestado relevante serviço ao estado de Minas Gerais ou ao Brasil. “Eu
te pergunto, esse cidadão Stédile fez o que por Minas? E pelo Brasil?”,
questionou.
O juiz foi diretor do Colégio Tiradentes da Polícia Militar em
Barbacena-MG durante sete anos, período em que conseguiu transformar a
instituição em modelo para o restante do estado. Só dentro da própria
Polícia Militar somou 28 anos de trabalho, tempo interrompido apenas
quando foi aprovado no concurso para magistratura em Rondônia em 1985.
No estado atuou por dez anos, até se aposentar e se mudar para a capital
federal.
Confira a íntegra da carta enviada ao governador mineiro pelo juiz:
Excelentíssimo Senhor
Fernando Pimentel
DD. Governador do Estado de Minas Gerais
"Minas Gerais não aceita a paz morna da submissão"
(Governador Itamar Franco)
Fernando Pimentel
DD. Governador do Estado de Minas Gerais
"Minas Gerais não aceita a paz morna da submissão"
(Governador Itamar Franco)
Senhor Governador.
No ano de l982 fui agraciado pelo Governo do meu estado com a Medalha da Inconfidência.
Era então, Diretor do Colégio Tiradentes da Policia Militar sediado em
Barbacena e Comandante Geral da mesma Corporação o Coronel PM Jair
Cançado Coutinho sendo Governador do Estado o Dr. Francelino Pereira dos
Santos.
Por indicação daquele Comandante fui agraciado pelo Governador com
esta comenda pelos "relevantes serviços prestados" à gloriosa Polícia
Militar e ao seu sistema de ensino.
Não sei se tão relevantes foram esses serviços, mas afirmo que durante
os sete anos em que dirigi o referido Colégio entreguei-me de corpo de
alma à missão e o fiz despontar, coadjuvado por excelente equipe de
Especialistas, Professores e Corpo Administrativo, como Padrão em Minas
Gerais, segundo avaliação da Secretaria de Educação, e, sem qualquer
dúvida, o melhor de Barbacena.
Cheguei à direção daquele Colégio através de uma caminhada pelas
fileiras da Corporação, na qual me alistei, em 1.954, com treze anos de
idade, como aluno da Escola de Formação Musical do 9º Batalhão, escola
essa criada pelo Governador Juscelino Kubitscheck. Nessa caminhada e
graças à PMMG logrei alcançar dois cursos superiores, conquistar o
primeiro lugar no Estado no Concurso Público para a Cadeira de História,
patrocinado pela Corporação e, em seguida, ser nomeado Diretor do
referido estabelecimento.
Com dedicação e apoio do saudoso Coronel Walter Rachid Bittar, Chefe
do Estado Maior da PMMG e do não menos saudoso Dr. Chrispim Jacques Bias
Fortes Secretário de Obras do Estado, edificamos o novo prédio do
Educandário, remodelamos a sua administração e implantamos o Serviço de
Supervisão Pedagógica.
Foram vinte e oito (28) anos vividos no seio da Corporação, da qual me
desliguei para encetar carreira na Magistratura do Estado de Rondônia.
Reconheço, sinceramente, que a comenda a mim conferida, ultrapassa, e
muito, os meus méritos, se é que os tenho, mas a recebi com orgulho e a
consciência tranquila de quem tudo fez em prol da educação mineira e em
especial da juventude barbacenense.
Hoje, assisto no noticiário haver Vossa Excelência conferido igual
comenda a um tal Stédile, de quem ouço falar como invasor de
propriedades alheias, de incentivador da desobediência civil, da
liderança de insurrectos e como comandante de um exército ilegal e
nocivo à segurança nacional.
Respeito a escolha de Vossa Excelência por essa atitude, mas me recuso
ao nivelamento a que estão submetidos os nomes de grandes brasileiros
que também foram distinguidos pelos governadores que lhe antecederam.
No Brasil atual em que a corrupção endêmica é a tônica do noticiário,
em que a mediocridade se sobrepõe à criatividade; a esperteza à
honestidade, a incompetência à capacidade e o corporativismo partidário
aos interesses maiores na nação, sinto quão imerecida se apresenta essa
condecoração, eis que grandes nomes do cenário nacional, em todas as
áreas da atividade, são ignorados neste momento pelos governantes de
plantão.
Prefiro tê-la merecido sem ostentá-la que dividi-la com quem nada fez
em prol do Brasil, da ordem pública e muito menos por Minas Gerais onde é
ilustre desconhecido.
Nesta oportunidade peço desculpas ao ilustre Coronel PM Jair Cançado
Coutinho e ao Governador Francelino Pereira dos Santos por esta atitude,
afirmando, contudo que maior que a comenda que me concederam é a
gratidão que por eles guardo no recôndito do meu coração.
Não me julgo superior a esse senhor Stédile, mas a minha modesta
biografia, a minha devoção ao meu Estado natal, -berço e sacrário da
nossa liberdade- recomendam-me não aceitar esse nivelamento, razão pela
qual e por imperativo da minha formação cívica, renuncio ao galardão,
com pesar, é verdade, mas convicto de que faço o que dita minha
consciência.
A medalha, a passadeira e o respectivo Diploma seguem endereçadas ao Cerimonial do seu governo, via SEDEX com aviso de recebimento.
Especial para Terra
Um comentário:
O Sr juiz esta querendo aparecer, e conseguiu...kkkk
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