O PSDB dos tucanos sempre foi um partido em cima do muro. Entretanto,
seus principais membros do passado e do presente jamais reconheceram
esta característica do caráter partidário e até mesmo ideológico de uma
agremiação política fundada em 1989, que tinha a intenção de representar
a social democracia no Brasil, apesar de o PDT, do trabalhista Leonel
Brizola, fundado em 1979, ser o partido brasileiro que integra a
Internacional Socialista (IS), uma organização composta por agremiações
de esquerda e de centro esquerda e que prega, em âmbito internacional, a
união de partidos políticos trabalhistas, social-democratas e
socialistas.
Contudo, o grande partido de esquerda do Brasil é o Partido dos
Trabalhadores, com suas ramificações, grupos e subgrupos ideológicos,
que atuam e agem dentro de um partido profundamente democrático, nascido
do operariado, da classe estudantil, da intelectualidade acadêmica, do
apoio efetivo da Igreja Católica do campo progressista, bem como de
setores autônomos da classe média, que não se sentiam representados
pelos partidos burgueses e, por causa disso, apostaram em uma nova forma
de se fazer política, no que diz respeito a eleger candidatos e
partidos que, efetivamente, incluíssem a sociedade no processo decisório
de poder e governo.
Um exemplo dessa inclusão e engrenagem político-administrativa é o
orçamento participativo (OP), efetivado na gestão de Olívio Dutra, em
1989, quando o petista foi prefeito de Porto Alegre, cidade que se
tornou referência nacional e internacional, porque o OP foi implantado
em inúmeros municípios brasileiros e europeus, a exemplo de São Paulo,
Bruxelas, Belo Horizonte, Montevidéu, Barcelona e Recife. Evidentemente
quando o PT perdeu as eleições em algumas cidades brasileiras, o
orçamento participativo foi extinto. A participação popular gera a
democracia direta, pois as decisões sobre as políticas públicas e
governamentais contam com a presença de representantes da sociedade por
intermédio dos Conselhos Setoriais de Políticas Públicas, que também
funcionam como espaços de controle social, ou seja, o poder da
autoridade eleita compartilhado com o povo.
Depois o PT chegou ao poder federal ao conquistar por quatro vezes
consecutivas a Presidência da República, o que forçou o partido a
abandonar algumas teses defendidas no decorrer de décadas, até porque
ser oposição é uma coisa e ser governo é outra, ainda mais quando para
se governar um País tão complexo como o Brasil é necessário formatar um
governo de coalizão e, por sua vez, conseguir ter maioria na Câmara e no
Senado. Todavia, é imperativo, ao meu modo de ver, que o Partido dos
Trabalhadores resgate seu berço, revisite suas origens e retome, com
força e determinação, ferramentas que fortaleçam a participação popular
nas definições e efetivações das políticas governamentais, que tem por
objetivo fundamental melhorar as condições de vida do povo brasileiro.
O PT é o maior partido de esquerda do Brasil e, quiçá, das Américas,
e, como tal tem de proceder, porque se trata do único partido orgânico
do País, que, apesar de seu afastamento de algumas causas históricas e
de interesses populares, é ainda a agremiação partidária com poder o
suficiente para realizar a inclusão social com igualdade de
oportunidades e fazer as reformas política, dos meios de comunicação,
tributária, além de mobilizar o Congresso para que ele regulamente o que
tem de ser regulamentado, no que concerne à Constituição.
O Orçamento Participativo é uma das ferramentas sonhadas e colocadas
em prática pelos militantes e políticos que creem no socialismo
democrático, a partir do momento em que o PT conquistou eleitoralmente
as primeiras prefeituras e, anos depois, elegeu governadores em diversos
estados. Naqueles tempos ditatoriais o Brasil realizou "eleições" em
1974, 1976 (municipais) e 1978, completamente controladas pelo poder
militar, inclusive com nomeações de prefeitos, governadores e senadores
biônicos, "eleitos" por um colégio eleitoral para dar maioria ao partido
do Governo — a Arena e depois o PDS.
A verdade é que eram pleitos supervisionados duramente pelo
Ministério da Justiça, pela Justiça Eleitoral da ditadura militar, pelos
coronéis políticos, que detinham imensos poderes sobre as
municipalidades interioranas, bem como de muitas capitais,
principalmente dos estados menores e de regiões mais pobres e
longínquas, no que é relativo ao poder central e às metrópoles do Sul e
Sudeste, consideradas mais desenvolvidas, industrializadas e
politizadas, no que tange naquela época as populações dessas regiões
terem relativamente autonomia, e, com efeito, votos mais independentes.
Todavia, em 1982, realizaram-se as primeiras eleições realmente
diretas para governadores desde o golpe de 1964, inclusive com a
participação de políticos exilados, a exemplo de Leonel Brizola. Apesar
de tudo, aquele ano teve um pleito eleitoral submetido ao cabresto e ao
chicote da Lei Falcão, que obrigava o candidato aparecer na televisão
apenas com sua foto, também chamada de "boneco", onde uma voz em off
informava seu partido, nome e número, como propaganda eleitoral. As
eleições de 1982 foram um sufrágio sob a tutela da mão forte do sistema
ditatorial, que obrigou ainda o eleitor se submeter ao voto vinculado,
pois seus candidatos teriam de ser do mesmo partido para todos os cargos
em disputa, sob a pena de o voto ser anulado. Casuísmo e acinte contra o
cidadão brasileiro, que já amargava 18 anos de ditadura.
Nesse rastro cívico, e a partir da redemocratização do País com a
volta dos exilados em 1979 e o fim do bipartidarismo (Arena versus MDB),
as esquerdas e a direita retomaram seus caminhos e retornaram às suas
origens, porque o MDB, na verdade, era uma grande frente partidária e um
caldeirão ideológico, onde atuavam e agiam políticos conservadores, a
exemplo do paulista Roberto Cardoso Alves, um dos líderes do Centrão, no
decorrer da Constituinte, e o baiano Chico Pinto, comunista histórico,
que, em 1974, fez um discurso contra o ditador chileno, general Augusto
Pinochet, sendo depois preso pelos militares e ainda teve seu mandato de
parlamentar cassado.
O PSDB saiu do ventre do PMDB de São Paulo, apesar de Franco Montoro,
um dos fundadores do partido dos tucanos, ter sido eleito governador
pelo PMDB, em 1982. Com a eleição do Orestes Quércia a governador de São
Paulo, em 1986, aconteceu uma dissidência no partido, e, em 1989, Mário
Covas, acompanhado de Franco Montoro, José Serra e Fernando Henrique
Cardoso, dentre outros, criaram o PSDB, partido que traiu os princípios
da social democracia, que, por sinal, na década de 1990, deu uma guinada
à direita também na Europa e nos Estados Unidos, em nome da criação da
"Terceira Via", como demonstraram, sem deixar dúvidas, o presidente
estadunidense, Bill Clinton, o primeiro ministro inglês, Tony Blair, o
primeiro ministro espanhol, Felipe González, o primeiro ministro
francês, Lionel Jospin, o chanceler alemão, Gerhard Schröder, o primeiro
ministro italiano, Massimo D'Alema, o presidente brasileiro Fernando
Henrique Cardoso, o presidente da Argentina, Carlos Menem, e o
presidente do Chile, Ricardo Lagos.
Em nome de uma suposta atualização e modernização da
social-democracia, essas lideranças se reuniram em 1994, e, a partir
desse encontro, que na verdade é uma consequência do Consenso de
Washington, de 1989, começaram a colocar em prática a depredação e a
alienação dos estados nacionais, principalmente dos países emergentes,
bem como também recrudesceram, em seus próprios países considerados
desenvolvidos, a privatização de estatais e a criação de agências
reguladoras, que não regulavam nada, mas serviam apenas como aliadas dos
interesses privatistas, como se deu no Brasil do tucano Fernando
Henrique Cardoso — o Neoliberal I —, exatamente aquele que foi ao FMI
três vezes, de joelhos, humilhado, com o pires nas mãos, porque quebrou o
Brasil três vezes.
O tucano colonizado e subserviente que ficou a segurar o "mico" e a
ninar o "Bebê de Rosemary", cuja alma é a tal da "Terceira Via",
responsável maior, porque fiadora, de quase duas décadas de
neoliberalismo nas veias das nações, que levou os estados nacionais à
bancarrota e os povos dos países vítimas de roubos e piratarias a sofrer
com o desemprego, a fome, a miséria e com todo o tipo de cruéis
dificuldades, pois sem perspectivas de um futuro melhor e impedidos de
ter acesso à educação, à saúde, à moradia, ao emprego e ao consumo.
Depois de venderem o Brasil como medíocres caixeiros viajantes, essa
gente despida de brasilidade, que despreza um País que é a terceira
economia do mundo e que hoje exerce um papel importante na comunidade
internacional, porque um dos criadores dos Brics, da Unasul, do Mercosul
e do G-20, os tucanos do PSDB (existem tucanos do Psol, do DEM, do PPS,
do PSB etc.), após serem derrotados em quatro eleições presidenciais,
resolvem abraçar o golpismo e a flertar com o que de pior este País pode
produzir, que é o ódio e a intolerância de setores da sociedade
brasileira, extremistas do campo da direita, que em passeatas pedem,
inclusive, por um golpe de estado, ou seja, essa gente sem memória,
ignorante e sem instrução e conhecimento sobre a história do Brasil,
chama cinicamente e hipocritamente de "intervenção" militar, fato que
até os mortos, os recém-nascidos e os que estão em coma profundo há 30
anos sabem que os coxinhas querem mesmo é dar um golpe.
O PT, antes de tudo, tem de recuperar sua identidade, e há tempo para
isso. Reabrir os canais de diálogo com a sociedade civil, com os
trabalhadores e seus sindicatos e federações rurais e urbanas, renovar o
corpo de militantes, cumprir com seu programa de governo e projeto de
País propostos e aprovados nas urnas e passar a ouvir mais aqueles que
votam ou votaram no PT, porque quem colocou o Lula e a Dilma na
Presidência da República foram os eleitores desses dois mandatários
trabalhistas e socialistas. O PT é das ruas e dos segmentos populares. É
um partido, como disse anteriormente, orgânico, porque está presente em
todos os segmentos de nossa sociedade, mesmo sendo alvo de uma sórdida e
covarde campanha de uma imprensa de negócios privados, de setores do MP
e do Judiciário, que desejam e tentam pautar governantes para impor
suas agendas políticas, diplomáticas e econômicas.
O PT ratifica sua força porque pode resgatar seu berço. Já o PSDB não
tem rumo, porque é um partido de classe social elitista e, portanto, é
servidor dos ricos, como não deixou margem à dúvida quanto a esta
realidade quando ocupou por oito anos o governo central. O PSDB se
tornou um partido ímpio e inócuo, porque se recusa a pensar o Brasil
para, consequentemente, desenvolvê-lo. Os tucanos tupiniquins, tais
quais aos tucanos europeus e estadunidenses, desmoralizaram a
social-democracia e a jogaram no colo da direita.
O Partido dos Trabalhadores tem um compromisso inadiável com a
democracia, com a igualdade de oportunidades e com a justiça social.
Apesar de ter raiz socialista, o PT, no poder, afastou definitivamente o
PSDB do que foi um dia sua presumível vocação social democrata e o
empurrou para a direita. Este, sim, o campo ideológico que, ao que me
parece, os tucanos se sentem muito bem, confortáveis como pés em sapatos
velhos. O PSDB sai da social-democracia para o golpismo barato dos
coxinhas que pedem por um golpe de estado, como se estivessem nos idos
de 1964. O PT precisa resgatar seu berço e ideário. É isso aí.
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