O empresário Marco Aurélio Garcia, irmão do secretário estadual de
Habitação, Rodrigo Garcia (DEM), foi citado na mais recente denúncia da
Máfia do Imposto Sobre Serviço (ISS), protocolada nesta quarta-feira
(14), na Justiça. Marco Aurélio foi denunciado por lavagem de dinheiro
em parceria com o ex-subsecretário da Receita municipal, Ronilson
Bezerra Rodrigues, apontado como líder da máfia.
A nova denúncia
é um desdobramento das investigações iniciadas em 2013 e que ainda
estão em curso. Marco Aurélio nega ligações com o esquema. Outros
fiscais relacionados à máfia foram denunciados: Eduardo Horle Barcellos e
Fabio Remesso, além da mulher de Ronilson, Cassiana Malhães, e do irmão
de Remesso, Rodrigo Remesso, que seria o contador de Ronilson.
A
peça criminal cita ainda seis empresas que participaram dos atos de
lavagem. Quatro delas têm participação societária de Marco Aurélio ou de
sua mulher. As outras duas são a Transportes Dalçoquio, importante
empresa de logística sediada na cidade portuária de Itajaí, em Santa
Catarina, e a empresa de tubos e metais paulista Krominox.
Marco
Aurélio já havia sido relacionado à máfia por ser o locatário de uma
sala comercial no Largo da Misericórdia, no calçadão do centro velho da
cidade, que era usado como sede da máfia -- em escutas telefônicas, os
integrantes do esquema chamam o local de "ninho".
Seu irmão foi
um dos principais aliados políticos do ex-prefeito Gilberto Kassab
(PSD), atual ministro das Cidades. Eles chegaram a fazer campanhas
eleitorais juntos, compartilhando até o mesmo jingle. Rodrigo Garcia foi
indicado por Geraldo Alckmin (PSDB) há cerca de um mês.
O período em que os delitos ocorreram, segundo o Ministério Público Estadual (MPE), se estende de 2010 a 2013.
Nessa denúncia, o MPE se concentrou nos atos de lavagem de dinheiro
que, de acordo com o MPE, foram praticados por Ronilson. Segundo a
Controladoria-Geral do Município, há suspeita de que o grupo tenha
causado prejuízo de R$ 500 milhões aos cofres públicos -- e era preciso
encontrar formas de limpar tais recursos para que fosse usufruídos sem
problemas.
Para o Grupo Especial de Repressão a Delitos
Econômicos (Gedec) do MPE, Ronilson montou uma empresa de fachada, a
Pedra Branca Consultoria, para tratar da limpeza do dinheiro. Nas 31
páginas da denúncia oferecida nesta quarta-feira, o MPE aponta os
rastros de 36 operações de lavagem de dinheiro, contra seis empresas,
que somam um total que chega a cerca de R$ 4 milhões.
Delação
Os promotores só puderam rastrear todas as operações de lavagem de
dinheiro graças à delação premiada assinada por Rodrigo Remesso.
Contador, ele intermediou negociações entre Ronilson e os demais
empresários. Agora, terá de devolver cerca de R$ 50 mil obtidos como
comissão dos serviços.
O promotor Roberto Bodini, que lidera as
investigações, solicitou ainda à Justiça o sequestro de três
apartamentos adquiridos por Marco Aurélio na região do Itaim Bini, zona
oeste da cidade. Os imóveis, de acordo com os rastreamentos feitos pelo
MPE, foram adquiridos, na verdade, por Ronilson, Eduardo Horle Barcellos
e Fábio Remesso. Marco Aurélio os registrou, mas fez contratos de
gaveta com os três para ajudar a esconder tais patrimônios. O pedido de
sequestro de bens inclui ainda um Mercedes Benz comprado por Marco
Aurélio para Ronilson, apreendido no ano passado.
Explicações
Por meio de nota enviada por seu advogado, Rogério Cury, o empresário
Marco Aurélio Garcia afirmou ter recebido a notícia de sua denúncia "com
enorme indignação e surpresa". Ele afirmou, no texto, que é um
empresário do setor privado que nunca prestou serviços nem se vinculou
ao poder público.
Sobre as acusações, Garcia pontuou: "Apenas
comercializei imóveis, coincidentemente, com alguns dos envolvidos, que
resultou em pagamentos de valores para minhas empresas, bem como cedi
uma sala no ano de 2013 (portanto, nesta data, nada mais existia segundo
o Ministério Público) pelo período de quatro meses para um dos
envolvidos, sendo que neste período jamais estive no local", segundo o
texto.
Garcia afirmou ainda que apresentou todos os documentos
comprobatórios sobre suas ações e fez ataques ao MPE: "O promotor de
Justiça insistiu em confundir uma transação imobiliária legitima e,
repita-se, registrada em cartório, como se fosse um negócio escuso de
lavagem de dinheiro."
O empresário concluiu a nota dizendo que
jamais foi ouvido pelos promotores do caso, que está à disposição da
Justiça e negando, mais uma vez, ligações com atividades ilícitas. "Não
lavei dinheiro para ninguém."
A transportadora Dalçoquio foi
contatada por telefone e e-mail na manhã desta quinta-feira, mas não
comentou o tema até às 15h40.
Fonseca disse, ainda, que a
Krominox é testemunha no caso. "O pai do Rodrigo Remesso era amigo
pessoal, de muitos anos, do Adamascendo Dirceu Arcello, dono da empresa.
Esse contador chegou a prestar alguns serviços de contabilidade para
algumas empresas de outros familiares do senhor Arcello, mas nunca
prestou o serviço de contabilidade para a Krominox."
O caso
As investigações da Máfia do ISS já resultaram em três denúncias à
Justiça. O esquema foi descoberto depois que a Controladoria-Geral do
Município, criada pelo prefeito Fernando Haddad (PT) em 2013, cruzou
dados de renda e patrimônio dos servidores e descobriu ao menos 40
funcionários milionários na Secretaria Municipal de Finanças, 13 deles
já respondem por crimes na Justiça. Até agora, a Prefeitura já
identificou R$ 150 milhões em impostos não recolhidos por empresas
beneficiadas pela máfia, que estão sendo autuadas.
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