sábado, 6 de setembro de 2008

SÓ AGORA É QUE O PIG VEIO DESCOBRIR ISSO

Cerca de R$5 mil é suficiente para comprar equipamentos de espionagem



Tiago Pariz - Correio Braziliense
06/09/2008
Enquanto cresce o medo entre as autoridades do Executivo, Legislativo e Judiciário de conversar pelo telefone depois do episódio envolvendo o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, e a possibilidade de restringir escutas telefônicas em investigações criminais é discutida, a arapongagem se prolifera. Qualquer pessoa com pouco menos de R$ 5 mil no bolso pode se tornar araponga amador.

No mercado de agências particulares de investigação, que passam longe da espionagem industrial e de políticos, o ganha-pão vem de casos de adultério, pessoas desaparecidas, sócio desconfiado de outro sócio e veículos sumidos. E mesmo nesse microcosmo investigativo o equipamento do grampo é considerado fundamental.

Na Feira dos Importados, os aparelhos de escuta não estão à mostra como os DVDs, CDs, máquinas digitais e computadores portáteis. É preciso conversar com alguns comerciantes até chegar “no cara”. Numa primeira conversa, o equipamento usado para gravar conversas telefônicas custa R$ 7 mil. Com pechincha e prometendo pagamento à vista, é possível chegar a R$ 5 mil. A entrega, só depois de sete dias úteis. Um especialista do ramo disse que esse valor está inflacionado. Segundo ele, é possível comprar um grampo simples no Paraguai por R$ 1,5 mil.

A detetive Ana Martha tem 20 anos de experiência. Ela reconhece já ter realizado alguns grampos a pedido de empresários, maridos e mulheres desconfiados. E disse que apenas ajuda a montar a parafernália, mas o monitoramento do alvo cabe ao cliente. A detetive afirmou que dificilmente há um especialista no Distrito Federal com equipamento capaz de monitorar um telefone celular.

O aparelho com essa tecnologia mais avançada, no entanto, está disponível. Legalmente é possível comprar uma maleta para realizar escuta em celular digital por cerca de R$ 500 mil, segundo um distribuidor no Rio de Janeiro. No mercado negro, é bem mais simples. A tal maleta da PF pode ser adquirida com o contato certo por R$ 40 mil.

Justiça

“Muita agência de investigação tem esse tipo de equipamento, mas não é correto fazer o uso desse grampo. É preciso de autorização da Justiça. E quem burlar vai em cana”, disse o detetive Guimarães, diretor da Agência de Investigação e Inteligência do Brasil (AIIB), localizada no Guará 2. Segundo ele, até o grampo caseiro é complicado de ser feito. A Justiça só autoriza a escuta em telefone fixo de uma mulher monitorando o marido, por exemplo, desde que todos da residência sejam avisados. “É o direito da inviolabilidade da comunicação”, ressaltou Guimarães.

Mas como dá-se um jeitinho em tudo, muitos investigadores particulares realizam o grampo e repassam o conteúdo das conversas para o cliente. “A gente ensina como a pessoa pode fazer. É muito prático usar o aparelho. O cliente mesmo ouve as gravações e dá o flagrante”, disse Ana Martha.

Na profissão do araponga particular, uma das demandas é realizar varreduras em ambientes e linhas telefônicas em busca da escuta. Guimarães disse que já foi contratado por empresários para analisar os equipamentos. “Geralmente achamos algum grampo”, afirmou o detetive.
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Como se vê, só depois do estrago feito é que o PIG veio descobrir que o uso de espionagem no Brasil é uma coisa natural, banal.

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