O editorial do Estadão, enfim, revela o que o PSDB fará se
voltar ao poder. E não é nada bonito, ao menos para o povo brasileiro
Quem se informou sobre a convenção do PSDB que ocorreu no
último sábado e que elegeu Aécio Neves seu presidente pode pensar que a única
proposta da agremiação para o Brasil resume-se à definição do jornalista Elio
Gaspari (colunista de O Globo e Folha de São Paulo) sobre a estratégia
eleitoral do partido, que acha que se seus eleitores ficarem com duas vezes
mais raiva do PT os candidatos tucanos terão o dobro de votos.
Todavia, a proposta tucana de governo não se resume a um dos
governadores do PSDB –envolvido até o pescoço com o crime organizado de Goiás –
chamar Lula de “canalha” ou a outro – que o falecido colunista do Estadão Mauro
Chaves acusou tacitamente de ser cocainômano em artigo de 28 de fevereiro de
2009 intitulado “Pó pará, governador” (*) – acusar o governo Dilma de ser
“orgulhosamente incompetente”.
Ainda que a lenga-lenga do pré-candidato a presidente Aécio
Neves tenha se resumido a ataques e a promessas de “fazer mais” do que a atual
ocupante do Palácio do Planalto – porém, sem dar detalhe algum –, o PSDB tem,
sim, programa de governo e esse programa foi emblematicamente apresentado por
jornal ligado ao partido, em forma de editorial, poucas horas após a convenção
tucana, na tarde de sábado.
A edição dominical da Folha de São Paulo, como de costume,
chegou às bancas ao fim da tarde de sábado, enquanto o PSDB ainda se auto
congratulava por “feitos” durante o governo FHC que a esmagadora maioria dos
brasileiros vem rejeitando há mais de uma década. Nessa edição, o editorial “A
indústria de Dilma” anuncia, veladamente, o programa tucano para o país caso
vença a eleição presidencial do ano que vem.
Detalhe: os termos do editorial foram acertados há poucos
dias entre a direção do jornal e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, com
a anuência do pré-candidato Aécio Neves.
Apesar da pouca clareza do texto sobre o que propõe para pôr
no lugar do modo petista de governar o Brasil e da falta de informação de que
tais propostas não são dos donos daquele jornal, mas decorrentes da visão do
PSDB sobre como “fazer mais” do que o PT, é possível detectar algumas medidas
que certamente serão adotadas caso Aécio Neves – ou algum outro tucano – vença
a eleição presidencial de 2014.
Já no quinto parágrafo do editorial em questão, o
diagnóstico é o de que haveria em nossa economia um “Descasamento entre a voracidade
do consumo e as deficiências da oferta” por conta de que “Os custos -salariais,
tributários e de logística dispararam e a produtividade estagnou”.
Haveria que perguntar ao editorialista, que escreveu as
ideias tucanas sob ordem do dono do jornal, que tributos “dispararam”, pois o
governo Dilma não aumentou impostos e, em vez disso, vem adotando seguidasmedidas para desonerar a produção via redução de impostos na folha de pagamento
ou em produtos ou em importação de máquinas e equipamentos, entre outros.
Todavia, o editorial tem razão em um ponto: os “custos
salariais”. Como se sabe, Aécio é o candidato preferido dos grandes empresários
brasileiros justamente porque, intramuros, o PSDB promete a eles interromper o
ciclo de valorização da mão-de-obra brasileira, a qual esses empresários, a
Folha e o partido enxergam como “custo”.
Cheio de falácias, o editorial ignora que a União Europeia,
por exemplo, composta por 17 países, com a retratação da economia de 0,2% no
primeiro trimestre deste ano acumula há quinze meses consecutivos o período
recessivo mais longo de sua história e, assim, o texto acusa o governo Dilma
pelo crescimento modesto de 2012 – que, de qualquer forma, foi positivo – em
meio à maior e mais duradoura crise econômica mundial que já se viu.
A conhecida retórica do PSDB que a Folha transformou em
editorial afirma que “Em nenhum setor os problemas são mais evidentes do que na
indústria, cuja produção está no mesmo nível de 2007” porque “O país perdeu a
capacidade de competir nos mercados globais”.
Tudo bobagem. Não é “O país” que “Perdeu capacidade de
competir”; o mundo é que está estagnado.
Assim mesmo, o crescimento de 1,05% do Brasil no primeiro
trimestre projeta no ano evolução do PIB três ou quatros vezes maior do que a
do ano passado e, na pior das hipóteses, o primeiro governo Dilma Rousseff deve
terminar com um crescimento médio igual ou até melhor do que o obtido pelo PSDB
durante seu governo de oito anos, porém com inflação média bem mais baixa, sem
o desemprego galopante da era tucana, com distribuição de renda que FHC não deu
ao país e com salários e renda das famílias mais altos da história.
O editorial, ao sair do diagnóstico mambembe e partir para
proposituras, diz que “Como o avanço brasileiro enxugou a ociosidade no mercado
de trabalho, não há saída para acelerar o crescimento sem aumento da
produtividade” e que “A reindustrialização do país precisa ter como ponto focal
um modelo de crescimento mais equilibrado e sustentável”
A Folha acerta no “detalhezinho” sobre “Enxugar a ociosidade
no mercado de trabalho” – tradução para a situação de pleno emprego no Brasil
que é invejável em todo o mundo, sobretudo nos países ricos, nos quais a taxa
de suicídios causados pelo desemprego não para de subir.
Todavia, que diabo seria esse “Modelo de crescimento mais
equilibrado e sustentável” que o PSDB inseriu no editorial da Folha?
Aqui volta à cena o recém-anunciado apoio de 66% dos grandes
empresários à candidatura tucana à Presidência. O editorial, enfim, revela o
que o PSDB fará se voltar ao poder. E não é nada bonito, ao menos para o povo
brasileiro. Leia, abaixo, o assustador trecho que revela qual é o programa
econômico com que esse partido pretende governar.
“O ajuste macroeconômico implica reduzir o crescimento das
despesas públicas abaixo do avanço do PIB, com o fim da política de correção do
salário mínimo acima da inflação, controle de gastos previdenciários e limites
legais para gastos de custeio e dívida federal”
Por certo, na campanha eleitoral de 2014 o PSDB irá poupar o
eleitorado da informação de que irá arrochar o salário mínimo e desidratar os
gastos do governo em programas sociais como o Bolsa Família e tantos outros,
pois é disso que o editorial trata quando prega “Redução de despesas públicas”
e “Controle de gastos previdenciários”.
Mas o que impressiona mesmo – e assusta – é a proposta
tucano-folhática de interrupção da política pública que, segundo o Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), tem tido o maior peso na redução das
desigualdades: a valorização do salário-mínimo que vem ocorrendo de fato no
Brasil só depois que o PT chegou ao poder, em 2003.
O editorial, porém, tem um mérito: mostrou ao PT o que deve
ser denunciado ao povo brasileiro no ano que vem, quando os tucanos e a mídia
tentarão aplicar mais um estelionato eleitoral no país, a exemplo daquele que
praticaram em 1998, quando prometeram que Fernando Henrique Cardoso não
desvalorizaria o real, caso fosse reeleito, e que a desvalorização só ocorreria
se Lula vencesse.
—–
(*) “Estranhamente”, o link do Estadão não abre
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