Wikcionário ― um dicionário
online ― registra o neologismo “blogueiro” com as seguintes acepções: 1. autor
de blog; 2. pessoa que costuma acessar blog; e 3. administrador de blog.
Entretanto, creio que caberia acrescentar mais um significado: (pejorativo)
“Jornalista que virou jornaleiro a troco de uma jorna”.
A função do jornaleiro é nobre,
pois tem como objetivo a digna tarefa de prover a subsistência, mas o propósito
do jornalista-jornaleiro é pobre, visto que se trata do aviltamento da
profissão.
Muitos são os jornalistas que se
tornaram meros blogueiros, ou jornalistas-jornaleiros. Eles fazem malabarismos
mentais, cometem estelionatos intelectuais, a fim de vender jornal, ou, o que é
mais grave, obter privilégios para si ou para seus patrões/donos; induzindo
seus leitores a falsas concepções. Alguns deles, devido às suas arraigadas
maneiras de extrapolar as próprias orientações editoriais das corporações
jornalísticas para as quais colaboram, são taxados de “esgoto”: canalizam o
ódio, o preconceito, a inveja... e funcionam como válvulas de escape de pessoas
mal informadas, em quem provocam mal resolvidas catarses.
Já fazia muito tempo que eu não
acessava o portal de um jornal grande, desses cujas edições impressas não
servem mais nem para embrulhar peixe na feira. Hoje, estimulado por um dos meus
correspondentes, abri o portal de O Globo. Cliquei nos títulos de algumas
matérias e colunas e acabei entrando no Blog do Ricardo Noblat ― minha mente
estava protegida com “roupa de escafandro”, claro, pois aquilo lá é um
verdadeiro canal de dejetos do PIG ― Partido da Imprensa Golpista.
Rolei a página inicial, lendo
títulos, epígrafes e trechos de algumas postagens. Parei em pequena nota
intitulada “Eduardo Campos de slogan novo” (20/5/2013), a qual informa:
“O PT, que não se constrange em
tomar as boas ideias dos outros, pôs Lula e Dilma a dizerem na televisão que
farão mais e melhor.
“Foi com esse slogan que Eduardo
Campos, governador de Pernambuco, se lançou como aspirante a candidato pelo PSB
à sucessão de Dilma.
“Esta noite, nas emissoras de
televisão de Goiás, irá ao ar um comercial do PSB estrelado por Eduardo de slogan
novo: "Fazer mais e bem feito". [Grifos nossos.]”
(O estranho nessa nota é que a
propaganda veiculada antes é acusada de plagiar a que vem depois. Mas isso
vindo de Ricardo Noblat não deveria me causar qualquer estranheza.)
Quem plagia quem?
“O Brasil pode mais”, que podia
ser entendido como “Nós podemos fazer mais”, foi o slogan da campanha de José
Serra em 2010, como candidato à sucessão presidencial, enfrentando Dilma, a
candidata de Lula e de cerca de 55 milhões de eleitores. A equipe marqueteira
de Serra deve ter-se inspirado no slogan da campanha de Barack Obama em 2008:
“Yes, we can” (“Sim, nós podemos”).
Militando em favor da candidatura
de Dilma, em 2010 escrevi crônica satírica sob o título: “Cabral e o Ovo de
Colombo”, publicada no site do jornal russo Pravda. No final do texto,
acrescentei:
Moral: Para fazer mais que os
outros, às vezes precisamos quebrar um pouco mais a casca do ovo ou aumentar a
quantidade de sal em que este será apoiado.
P.S.1: Há quem acredite que Lula
não deveria ter feito certos acordos em nome da governabilidade; saiba, porém,
que, nesse caso, fazer mais que ele exige firmar aliança até mesmo com Judas. E
ainda mais estreita que com Sarney.
P.S.2: Fazer mais não significa
fazer melhor. [O objetivo estava claro: rebater o slogan do Serra.]
Em 2012, o Portal Vermelho, “uma
página mantida e gerida pela Associação Vermelho, entidade sem fins lucrativos,
em convênio com o Partido Comunista do Brasil - PCdoB”, republicou minha
crônica com uma devida revisão que fiz (relendo na Pravda, observei que nunca
havia identificado tantos erros num texto meu) e adaptações, como: (aliança)
“...ainda mais estreita que com Maluf”, em referência ao estreitamento das
relações do PT com o cacique paulista, pela sucessão administrativa na Capital.
Além do Vermelho e da Pravda,
minha crônica foi reproduzida em diversos blogs da chamada blogosfera política.
Certamente não tenho a milésima
parte do número de “seguidores” do Ricardo Noblat. Seguidores de um “ceguidor”,
ou cegante. Mas tenho uma meia porção de leitores, que me leem nos mais
variados ciberespaços. Já vi matéria do meu blog (Assaz Atroz) reproduzida até
mesmo no site do Instituto Millenium, que assim se identifica: “Uma entidade
sem fins lucrativos e sem vinculação político-partidária que promove valores
fundamentais para a prosperidade e o desenvolvimento humano da sociedade
brasileira. Formada por intelectuais, empresários e acadêmicos, busca difundir
conceitos como liberdade individual, propriedade privada, meritocracia, estado
de direito, economia de mercado,
democracia representativa, responsabilidade individual, eficiência e
transparência”, mas que, na verdade, não passa de uma das muitas
entidades que se utilizam de suportes midiáticos para fazer oposição
sistemática aos governos trabalhistas de toda a América do Sul. Seria mais
decente se eles, ao invés de dizer que não têm “vinculação partidária”,
fizessem como o Vermelho, que assume ter convênio com o PCdoB, e revelassem sua
vinculação com o PSDB. O problema é que, com esta agremiação, eles não têm
convênio, só conchavo: mancomunação com intenções golpistas.
Tempos atrás, outro blogueiro de
O Globo, especulando sobre artigo de minha autoria, disse que, provavelmente,
eu morava na Rússia, e um dos seus muitos seguidores afirmou que eu deveria
estar recebendo o “ouro de Moscou” ― um anacronismo, mas muito utilizado na
campanha infame contra os partidários do presidente Jango, nos anos 1960.
Portanto, não somos tão desconhecidos assim.
Quando assisti à recente
propaganda institucional do PT (a do PSB, segundo Noblat, é “comercial” ― não
duvido), observei Dilma dizer que “podemos fazer mais...”, e Lula completar: “E
melhor”. Não sei se os marqueteiros do PT tomaram conhecimento da minha observação
no P.S.2 da crônica “Cabral e o ovo de Colombo”, na internet desde 2010: “Fazer
mais não significa fazer melhor”. Porém, se tomaram, fizeram muito bem em se
apropriar da dica. Nesse caso, não se trataria de apropriação indébita,
constrangedora, como quer o Noblat, pois foi ideia de um militante juramentado,
como diria Odorico Paraguaçu.
Essa coisa de acusar os governos
petistas de “tomar as boas ideias dos outros”, como diz o Ricardo Noblat, tem
seu mais “forte argumento” no caso do Bolsa Escola do governo Fernando Henrique
Cardoso, o qual virou Bolsa Família no governo Lula e segue como parte da
política social do governo Dilma. Acontece que essa mesma turma que acusa Lula
e Dilma de se apropriarem das “ideias dos outros” também os acusaria se estes
governos tivessem abandonado o programa implantado pelo governo pessedebista. A
bem da verdade, é bom que se esclareça:
o Bolsa Escola foi criado e implementado em 1995 pelo então governador
do Distrito Federal Cristovam Buarque, à época filiado ao Partido dos
Trabalhadores (PT, saudações). FHC viu no programa do governo petista do
Distrito Federal a oportunidade de inserir no seu desgoverno um instrumento
para inglês e o FMI verem, além de se prestar à demagógica propaganda
eleitoral. Não era destinado a todos, não existiam verbas para tanto. Lula e
Dilma fizeram e continuam fazendo mais e melhor. Mas tem gente querendo fazer
mais demagogia ― e pior... Quer dizer... melhor... Mais bem feita? Sei lá!
O Nordeste passou recentemente
por mais uma estiagem prolongada. Lembro-me de que, em outras temporadas de
seca no semiárido nordestino, hordas de famintos flagelados invadiam as cidades
e saqueavam ou ameaçavam saquear supermercados e feiras livres. Desta vez, os
telejornais e noticiosos em geral ficaram na mão, não puderam fazer o
sensacionalismo de outras épocas. O Bolsa Família deve ter funcionado como
amenizador da fome e contemporizador dos ânimos. Será?
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