Nada mais perverso na
política do que a colocação de particulares interesses partidários acima
daqueles que convêm à nação como um todo. Isso acontece em quase todos os
lugares do mundo e revela o grau de comprometimento social de cada segmento que
atua politicamente. A direita, por ser elitista por natureza, tem essa postura
no seu DNA, mas a esquerda também dá as suas escorregadelas. De qualquer forma,
esse comportamento é, seguramente, um desserviço à cidadania.
Nos últimos tempos, temos
assistido a uma parafernália de artigos, manchetes, colunas e pronunciamentos
que dão conta de que o país estaria em vias de entrar em um perigoso e
significativo processo inflacionário. Compara-se, desonestamente, a situação
presente a uma realidade de muitos anos atrás, semeando a ideia de uma inflação
descontrolada que estaria em vias de mergulhar o país no desastre.
Enxergando na volta da
inflação um provável enfraquecimento do Governo, a chegada desse espectro é
saudada com indisfarçável júbilo pelos opositores e, é claro, amplificada pela
mídia que os representa acintosamente. Ou seja: importa muito menos a
estabilidade da economia, a satisfação das pessoas, a tranquilidade social, e
muito mais a derrubada do Governo.
Se alguém quiser argumentar
que é assim mesmo e, que, às vezes, determinados fins justificam meios menos
honestos de “persuasão”, a aceitação dessa premissa nos dará o direito de
acreditar que se podem, então, fabricar fatos, provocar desconfianças,
manipular dados... E , por que não?, comprar votos de parlamentares corruptos
para permitir a votação de medidas de alcance social... Adicionalmente, nos
conferirá a obrigação de tentar enxergar, nas entrelinhas, os propósitos
escondidos de cada informação.
O caso do tomate é
emblemático. Colocou-se em destaque a elevação de preços do produto como
símbolo de um processo inflacionário em curso, deixando de lado as razões
sazonais específicas que geraram essa situação. Sei que tucanos, corvos e
urubus comem tomate. Deve ser por isso que o tomate virou um ícone da oposição.
Pouquíssimos esclarecimentos sobre as causas da elevação do seu preço,
muitíssimas reportagens e fotos nos mercados e feiras a mostrar valores
estratosféricos a que chegou um quilo do vilão vermelho. Mas, como era uma
falácia, não resistiu. E o tomate, depois dos 15 minutos de fama, vai sumindo
do noticiário...
Essa turma – que acredita
fielmente na lei da oferta e da procura, um dos fundamentos pérfidos do
capitalismo – não usou o seu poder de comunicação para, por exemplo, conclamar
as pessoas a não comprarem o tomate e a, pelo menos temporariamente,
substituírem-no na mesa, o que, certamente, não constituiria nenhuma
catástrofe.
Da mídia da oposição não se
espera outra coisa. Dos partidos de oposição , essa atitude é vista como
normal. Que se dane o país, que exploda a nação, o que importa é o poder: “Nós
é que queremos administrar o preço do tomate”...
A surpresa, se é que existe
isso na política, vem dos segmentos que se dizem aliados governamentais, que
cresceram nos últimos anos muito mais porque foram apoiados pelo Governo
Federal do que por terem apoiado Lula e Dilma, e que, agora, mordidos pela
mosca azul do poder, vislumbram a oportunidade - ou será o oportunismo ? - de
sair do barco, antes ajudando a provocar as ondas de instabilidade.
Sobre a estratégia do
Governador de Pernambuco, por exemplo, e do grupo que alicerça sua candidatura
ao Planalto, fala-se claramente na expectativa – ou será melhor dizer, na
torcida – por uma deterioração econômica que, provocando insatisfação , leve à
derrocada do poder e das atuais políticas. Ele pretende, pelo visto, repetir o
caminho de Marina Silva – agora tentando pegar na Rede todos os peixes
possíveis, os de direita e os de esquerda. Não ouso dizer que se trate de
candidaturas direitistas, mas, políticos experientes que são, é óbvio que os
dois devem estar percebendo – e gostando – do assanhamento com que a mídia
demotucana nacional vem tratando as suas supostas candidaturas. Nenhum dos dois
repudia esse “apoio”, nenhum dos dois denuncia os tucanos como opositores, os
dois flertam com a direita em nome de um projeto de poder. Nesse quesito, não
se diferenciam em nada de nenhuma das alianças que parecem criticar no âmbito
do Governo Federal.
Não é a hora, ainda, de
compararmos as candidaturas que já se apresentam, inclusive a da própria
Presidenta. A rigor, não era a hora nem de se apresentarem candidaturas. Mas o
que os brasileiros devem fazer é ficar bem atentos à distinção entre aqueles
que estão empenhados em dar continuidade às ações sociais que mudaram a cara do
país e aqueles que pretendem vender a ideia do caos e/ou vê-lo instaurado entre
nós , obcecados que estão em destruir o que foi feito – e que eu ainda acho
muito pouco - , em troca da conquista do poder, mesmo que à custa de escancaradas
traições...
É esperar para ver como o
processo todo se vai desenrolar. Há umas fumaças de golpe no ar, só não as
enxerga quem não quer... Não um golpe militar, escancarado, mas subliminar ,
fruto do conluio de membros do Legislativo e do Judiciário, sempre com as
trombetas da mídia hegemônica. Eu acho que já está mais do que na hora de
rever-se essa postura política que coloca a governabilidade como dependente de
alianças sem compromisso ideológico.
A verdadeira garantia de
governabilidade é a do povo nas ruas, exigindo a manutenção de suas conquistas.
E os tomates? Ora, esses podem continuar a ser administrados pelos
“tomatófilos” de plantão...
Rodolpho Motta Lima
Rodolpho Motta Lima
Advogado formado pela UFRJ-RJ (antiga Universidade de Brasil) e professor de Língua Portuguesa do Rio de Janeiro, formado pela UERJ , com atividade em diversas instituições do Rio de Janeiro. Com militância política nos anos da ditadura, particularmente no movimento estudantil. Funcionário aposentado do Banco do Brasi.Direto da Redação
Nenhum comentário:
Postar um comentário