O jornalista Bob Fernandes coloca os pontos nos
"is" e explicita, para quem ainda tem dúvida, o que é um estado
terrorista, torturadores, torturados e aqueles que pegaram em armas em forma de
resistência contra um ditadura que tomou o poder de forma ilegal e criminosa.
Não há como tergiversar, amenizar ou distorcer os fatos e as
realidades se elas se apresentam aos nossos olhos de forma clara e tão
concreta, que é como levar um soco no estômago e não sentir a dor. A ditadura
civil-militar de 1964 se apoderou do poder explicitamente para favorecer os
interesses de nossa burguesia herdeira da escravidão e dos EUA envolvidos que
estavam com a Guerra Fria.
Os marechais e generais que derrubaram o presidente
trabalhista João Goulart (Jango), juntamente com homens poderosos da classe
empresarial brasileira, são os principais responsáveis pelo estado brasileiro
se tornar um estado terrorista, e, consequentemente, torturador e assassino.
Esses militares e empresários são os maiores traidores da
história do Brasil, porque combinaram e aceitaram, inclusive, que tropas
militares dos EUA — a Operação Brother Sam — invadissem as terras brasileiras,
se fosse necessário garantir a "vitória" dos golpistas, que há anos
conspiravam contra o presidente Jango na Embaixada dos Estados Unidos.
Quem se insurge ou não aceita uma ditadura militar, como no
caso do Brasil e em qualquer País do mundo, não é terrorista. Somente a
imprensa venal e alienígena e seus "especialistas" borra-botas ainda
têm a insensatez de defender o indefensável e justificar o injustificável, sem,
entretanto, saberem, de fato, o significado da palavra expiação. Não sei se por
má-fé ou por ingenuidade. Escolho a primeira impressão.
Considero inacreditável saber que muitas pessoas não
conseguem compreender que o estado ditatorial torturou e matou deliberadamente,
porque sua conduta se alicerçou em estratégias e planos elaborados previamente,
e, posteriormente, efetivados, a partir dos gabinetes da Presidência da
República e dos comandos das Forças Armadas e de seus órgãos de inteligência e
repressão, a exemplo do DOI-Codi, SNI, CIEX, SISA, CENIMAR, além dos comandos e
diretorias das polícias militares e civis de todo o País.
A ditadura é digna dos bárbaros, pois foi demoníaca, pérfida
e infame. O coronel Brilhante Ustra em seu depoimento na Comissão da Verdade
mostra a verdadeira face da covardia, com toda transparência. Sua arrogância e
prepotência são "azeitadas" por ardis e mentiras, porque, em sua
covardia, o agente da repressão se esconde atrás da Lei da Anistia, que deveria
ser constitucionalmente revogada, para que os parentes e os amigos daqueles que
se foram sem poder se defender encontrem, enfim, a justiça, porque sem justiça
não há paz.
Os dois marechais, Castelo Branco e Costa Silva; e os três
generais de Exército, Garrastazu Médici, Ernesto Geisel e João Baptista de
Figueiredo, são os principais condutores do regime de exceção, que, por
intermédio de Atos Institucionais, perseguiram, demitiram, cassaram mandatos,
fecharam o Congresso, prenderam sem acusação formal, exilaram, torturam,
mataram e "criaram" uma nova categoria de seres humanos — os
desaparecidos.
Seus cúmplices e parceiros, os empresários de variados ramos
da economia, inclusive os barões da imprensa comercial e privada, também são,
efetivamente responsáveis pela a ascensão de ditadores fardados, que tentaram,
em vão, dar uma conotação "democrática" ao regime de força com a
troca dos generais ditadores, no decorrer de 21 anos. A ditadura não foi
branda, como apregoou, cinicamente, a Folha de S. Paulo, propriedade do
"seu" Frias e atualmente dirigida pelo seu filho Octávio Frias Filho.
A ditadura militar, que teve o apoio sistemático do mundo
empresarial, foi o pior e mais violento regime político da história da
República brasileira. A maioria dos conspiradores que se transformaram em
golpistas, diziam questionar e combater a ditadura de Getúlio, só que o
estadista morreu em 1954 em pleno regime democrático. A verdade é que os
golpistas de 1964 combatiam os projetos e programas trabalhistas de Getúlio
Vargas,e, por meio de campanhas insidiosas na imprensa, confundiam a Nação com
seus propósitos "democráticos", mas de fundo golpistas.
Getúlio chegou ao poder pela Revolução de 1930, o que é muito
diferente de um golpe militar apoiado diretamente pelos EUA, como ocorreu no
fatídico e sombrio ano de 1964. O golpe de estado bloqueou o projeto
desenvolvimentista e nacionalista dos trabalhistas em andamento desde 1930, e
retomado por João Goulart. Em seu lugar, os direitistas apresentaram aos
brasileiros a violência de nossas provincianas, escravocratas e ferozes
"elites", que amarraram o estado nacional como se faz com as patas
traseiras de uma vaca, para que eles pudessem se locupletar e, por conseguinte,
enriquecer — o que é a mesma coisa que mamar nas "tetas" do Erário
Público.
Sem sombra de dúvida, os militares insurretos fizeram um
grande mal à Nação. Atrasaram o nosso desenvolvimento social e econômico no
mínimo em 30 anos e não distribuíram riqueza e renda. Governaram para os ricos,
tal qual ao ex-presidente FHC — o Neoliberal I —, o governante mais
subserviente de todos, e que vendeu o patrimônio público brasileiro que ele e
sua trupe não construíram. O catedrático em nada, e que foi ao FMI três vezes,
de joelhos e com o pires nas mãos, porque, incompetente, quebrou o Brasil três
vezes.
O coronel Brilhante Ustra e outros atores da repressão
deveriam estar presos, como aconteceu com os militares do Uruguai e da
Argentina. Acuado passou para o ataque e evidenciou toda sua pequena condição
humana. Ustra não é nada mais e nada menos que um brucutu selvagem, um oficial
da reserva, que no passado se dedicou, caninamente, como um cão de guarda do
regime e dos que verdadeiramente mandavam no sistema de terror, acobertado pela
imprensa de negócios privados e por setores civis que financiavam os
torturadores e assassinos.
Ustra, Sebastião Curió, bicheiro Capitão Guimarães e o
delegado Claúdio Guerra, dentre muitos outros, que vivem até hoje à sombra de
seus passados são figuras de segundo escalão, que devem pagar por seus crimes,
porque representam o terrorismo de estado, bem como aqueles que,
verdadeiramente, controlaram o processo ditatorial, além de ordenarem o
acionamento da máquina de torturas e assassinatos contra aqueles que resolveram
combater o nefasto regime.
Brilhante Ustra é o abutre de si mesmo. Os generais
presidentes foram e ainda o são os gerentes do inferno. Nunca se deve esquecer,
confundir ou ter dúvida de que torturador é torturador e torturado é torturado.
Ponto. Os mortos e torturados têm de ser redimidos historicamente e livrados,
definitivamente, dos porões da ditadura militar. Para o bem do Brasil e de
todos nós. É isso aí.
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