EDUARDO GUIMARÃES
Políticos de variadas
tendências vêm deixando ver que estão em busca de construírem para si uma rede
de proteção midiática como a de FHC e Serra
Um fenômeno político vem se
materializando e precisa ser muito bem avaliado, pois começa a se tornar preocupante.
Políticos de variadas tendências – alguns deles, supostamente aliados do
governo Dilma – vêm deixando ver que estão em busca de construírem para si uma
rede de proteção midiática como a de Fernando Henrique Cardoso e José Serra.
De fato, se não fosse a
hecatombe social e econômica que os dois políticos tucanos legaram ao Brasil
após sua desastrosa passagem pelo governo federal entre 1995 e 2002, seriam
eleitoralmente imbatíveis graças à rede de proteção supracitada.
Por outro lado, sem o apoio
que FHC e Serra recebem da mídia, provavelmente teriam dificuldade até em
aparecer em público, dado o mal que causaram a este país com a privataria
tucana – que vendeu 100 bilhões de dólares de patrimônio público a preço de
banana e sumiu com os recursos – e com a depressão social e econômica que
adveio daquele processo.
Com o apoio primordial de
grandes grupos de mídia como Organizações Globo, Grupo Folha, Grupo Estado e
Editora Abril, aqueles tucanos conseguem se manter politicamente vivos, ainda
que com a musculatura eleitoral irreversivelmente depauperada.
O PSDB, da mesma forma que
FHC e Serra, só existe, ainda, por ação de uma mídia que, em mais de uma
década, a cada enfrentamento que os tucanos tiveram com o PT ficou ao lado
deles – ninguém conseguirá citar uma só vez em que a mídia tenha dado razão ao
PT e ficado contra o PSDB.
Ainda assim, vale dizer que
o partido, no âmbito federal, encolhe sem parar eleição após eleição.
O reverso dessa moeda é o
poder de intimidação da mídia. Apesar de ela não estar conseguindo mais
determinar ao povo em quem votar nas eleições mais importantes, ainda tem poder
para causar graves danos a membros de grupos políticos de forma isolada – com a
conhecida exceção de Lula, quem a mídia não consegue desmoralizar.
Vale dizer que, devido à
desmoralização em que esses veículos já mencionados mergulharam junto ao
eleitorado eles podem não conseguir votos, mas conseguem criar problemas com a
Justiça para quem quiserem, bastando uma denúncia infundada. E o que é pior:
conseguem até condenações (vide o julgamento do mensalão).
Por conta disso, políticos
até então tidos como governistas, pensando em agregar à própria musculatura
eleitoral os anabolizantes midiáticos, ou por medo de serem complicados com a
Justiça, passam a se ajoelhar diante desses grandes meios de comunicação.
Os presidentes da Câmara e
do Senado, Henrique Alves e Renan Calheiros, estão entre os que vêm mudando
discursos e tomando medidas para não entrarem em choque com as famílias
midiáticas Marinho, Frias, Mesquita e Civita, entre outras.
Mudaram de posição no caso
dos deputados cassados pelo STF durante o processo do mensalão, brecaram
tramitação de projetos como o que retirava poder do mesmo STF, impediram a
convocação por uma CPI de um diretor da Veja envolvido na rede criminosa de
Carlinhos Cachoeira, e por aí vai.
Outro exemplo notório de
político que está se deixando embalar pelo canto da sereia midiático é o
governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que se prepara para atraiçoar o grupo
político petista, o mesmo que lhe deu as condições para realizar uma revolução
social e econômica em seu Estado.
Como se não fosse bastante,
até um petista histórico acaba de cometer um dos atos mais patéticos de
servilismo e bajulação que se possa imaginar. O ministro da Educação, Aloizio
Mercadante, chegou ao ponto de escrever um texto para a Folha de São Paulo em
que mente de forma inequívoca ao negar que o jornal tenha sido cúmplice da ditadura
militar.
Poder-se-ia, ainda, falar de
Marina Silva, quem, ao sair do governo Lula direto para a oposição ainda em
2010 e sem um único motivo claro, tornou-se um "fenômeno" eleitoral
que levou a eleição presidencial daquele ano ao segundo turno. E que até hoje
vem sendo incensada por esses meios de comunicação.
Mas o ato mais inominável de
bajulação midiática e de traição política partiu do deputado pelo PDT paulista
Paulo Pereira da Silva, o "Paulinho da Força". Presidente de central
sindical, em discurso na última quarta-feira, 1º de maio, deu mais um passo
para pular do barco governista e cair no tucano-midiático.
Qualificar de molecagem o
que fez o tal "Paulinho", é bondade. Foi um crime de lesa-pátria o
que ele cometeu ao propor um "gatilho salarial" por conta de a
inflação ter ultrapassado em 0,09 ponto percentual a meta acumulada em 12
meses, de 6,5%.
Como se sabe, a mídia – com
inequívocos motivos político-eleitorais – vem tentando vender à sociedade que
haveria um processo inflacionário descontrolado no Brasil. Eis que o tal
Paulinho vem jogar água no moinho midiático ao propor uma medida que existiu à
época da hiperinflação, quando esta chegava a 30% ao mês em vez dos atuais
6,59% ao ano.
O que Paulinho fez pode
causar sérios danos à economia, intoxicando o que em economês é chamado de
"expectativas inflacionárias".
Nos casos desses políticos
acima mencionados, a vassalagem aos barões da mídia vem dando resultados. Alves
e Calheiros, que se elegeram sob bombardeio da mídia, foram deixados em paz.
Campos e Marina viraram xodós da mídia. Paulinho, certamente começará a obter
benesses midiáticas. Mercadante pode não conseguir favores, mas deverá ser
deixado em paz.
Os barões da mídia,
portanto, encontraram uma forma de preservar seu poder político: a chantagem e
o suborno. E o pior é que parece que está dando certo.
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