Por Davis Sena Filho — Blog Palavra Livre
Ruy Mesquita: apoio ao golpe de 1964 e passado na Política Café com Leite.
Ruy Mesquita: apoio ao golpe de 1964 e passado na Política Café com Leite.
família Mesquita,
proprietária do jornal conservador "O Estado de São Paulo", fundado
em 1875 com o nome "A província de São Paulo", é a autêntica voz da
Política do Café com Leite, no decorrer dos séculos XX e XXI. Os Mesquita são
legítimos representantes das oligarquias paulista e brasileira e sempre se
equilibraram politicamente entre o liberalismo econômico e político e a sua
associação pura e simples com governos autocratas, a exemplo do que era a
ditadura militar, o regime mais violento infligido ao Brasil contemporâneo, e
que, sobremaneira, cooperou, e muito, para que a sociedade brasileira atrasasse
em décadas seu desenvolvimento social.
Ruy Mesquita morre aos 88
anos, e deixa o conglomerado familiar — Jornal O Estado de São Paulo, Jornal da
Tarde, Rádio Eldorado, Agência Estado, OESP Gráfica e OESP Mídia — em situação
difícil, com as finanças de algumas empresas em condições falimentar, como o
Jornal da Tarde, que fechou suas portas e não tem prazo para reabrir. O
prestígio de O Estado de São Paulo não é o mesmo de décadas atrás, o que se
traduz em sua tiragem média e diária de 260 mil jornais, pouco para um jornal
de 138 anos, que exerce suas atividades na capital mais populosa do País e das
Américas, bem como é a sétima do mundo, com quase 11,4 milhões de habitantes,
além dos cerca de 42 milhões de habitantes que vivem no Estado Bandeirante.
Ruy Mesquita é da terceira
geração de sua família. Certa vez afirmou que ele e seu irmão, Júlio de
Mesquita Neto (na época, diretor-presidente do grupo e falecido em 1996),
participavam de reuniões conspiratórias, com os militares generais e
comandantes do II Exército contra o presidente trabalhista João Goulart.
Evidentemente, os Mesquita sabiam do que se tratava, pois desde 1932
conspiravam contra os trabalhistas e seus programas de governo e projeto de País.
Em 1932, abraçaram as causas
da "Revolução Constitucionalista", acontecimento político e militar
que, na verdade, tinha por propósito derrubar o governo revolucionário de
Getúlio Vargas, que liderou, em 1930, uma revolução de verdade, com o apoio,
inclusive, de Minas Gerais, estado que até então revezava o controle da
Presidência da República, no decorrer do período compreendido entre os anos
1895 e 1930, período este chamado de República Velha ou Política do Café com
Leite, por ser São Paulo grande produtor de café e estado mais poderoso da
Federação, bem como Minas Gerais era e ainda o é o maior produtor de leite,
além de, na época, ser o estado com o maior número de eleitores do Brasil.
Como se observa, a despeito
dos momentos "liberais" da família Mesquita, sua essência política é
irrefragavelmente conservadora, à direita do espectro político e ideológico. O
segundo patriarca do Grupo Estado, Júlio Mesquita Filho, herdeiro direto do
fundador da empresa jornalística, Júlio Mesquita, participou efetivamente da
"Revolução" Constitucionalista, movimento reacionário e que foi, de
forma retumbante, derrotado pelas tropas federais e leais ao governo
revolucionário do líder estadista Getúlio Vargas. Os Mesquita, tais quais aos
Frias e aos Marinho, sempre combateram as forças políticas populares e
progressistas. Os representantes dessas forças eles chamam de populistas e
autoritários.
Contudo, a verdade é que
essas considerações por parte dos barões da imprensa, autênticos representantes
da direita brasileira e estrangeira, tornam-se inócuas quando se tratam de suas
definições no que tange a rotular os trabalhistas e os socialistas. A verdade é
que esses barões das mídias de negócios privados sempre combateram
sistematicamente e duramente a esquerda ou quaisquer políticos que se recusasse
a ser tutelado por uma burguesia cuja realidade histórica remonta a escravidão
e o controle do estado por aqueles que sempre quiseram o Brasil com uma
gigantesca fazenda, a dar lucros e dividendos a uma das "elites" mais
cruéis do planeta.
Não convence, nem mesmo a
uma criança, que os Mesquita romperam com os golpistas de 1964 um ano após a
queda de Jango, presidente trabalhista herdeiro de Getúlio. Lobos também brigam
com lobos, bem como integrantes de uma mesma família também se estranham e por
algum tempo se afastam. A direita briga com a direita, assim como a esquerda se
desentende com a esquerda. É normal e natural, pois os seres humanos divergem,
mesmo quando são integrantes de um mesmo grupo, defendem os mesmos propósitos e,
no caso dos Mesquita, possuem a mesma ideologia, pelo menos naquele momento e
fato histórico, dos militares. Quero dizer que os Mesquita são de direita. É
inegável. Ponto.
Somente os ingênuos ou os
ignaros pensam que liberais conservadores como os empresários Ruy Mesquita e
Júlio Mesquita Neto em algum momento romperam com os militares porque
perceberam que os golpistas de 1964 iriam, na verdade, implantar uma ditadura
militar; e eles, inconformados com tal realidade, resolveram se afastar dos
militares, dos barões da indústria, dos donos do agronegócio e dos banqueiros
que apoiaram o golpe porque se consideravam, incontestavelmente, democratas e
cidadãos politicamente progressistas e ideologicamente à esquerda dos militares
e dos homens ricos controladores do PIB nacional. Haja receita de bolos e
tortas e poemas para demonstrar tanta coragem, inconformismo e apreço às
liberdades civis e à democracia.
Os Mesquita logo se
recompuseram, e trataram de "fazer as pazes" com aqueles que,
simbolicamente e concretamente, pensam como eles e agem como eles, no caso os
militares golpistas, porque foram cúmplices do golpe de estado, bem como
ajudaram a edificar o estado ditatorial. Ou alguém tem dúvida? Os
"milicos" saíram do poder e os Mesquita continuaram a fazer uma
política sistemática e inapelavelmente de oposição, principalmente a partir de
2003. Os Mesquita e seus sócios, sob a
liderança editorial do Ruy, transformaram mais uma vez o Estadão em um
integrante do "Partido da Imprensa", feroz e invariavelmente desonesto
intelectualmente. Vale lembrar que a mesma estratégia tais barões da imprensa
usaram contra os governos trabalhistas de Getúlio Vargas e João Goulart.
Mais do que propósitos e
crenças é necessário compreender que os magnatas da imprensa de mercado são
conservadores e defendem, sobretudo, os interesses de grupos econômicos, de
classe social e, obviamente, de governos colonialistas, a exemplo dos EUA e da Inglaterra.
Ponto. No período dominado politicamente e eleitoralmente pelos trabalhistas, a
partir da vitória de Lula ao cargo de presidente, em 2002, e da ascensão de
Dilma Rousseff ao poder, em 2010, o Estadão passou a fazer uma oposição sem
trégua, sistemática e disposta a nunca considerar as conquistas sociais e
econômicas do povo brasileiro, que são visíveis, reais e reconhecidas em todo o
planeta.
Entretanto, ao contrário dos
Frias, donos da Folha de S. Paulo, e dos Marinho, proprietários das Organizações(?)
Globo, Ruy Mesquita e seus empregados de confiança assumiram o apoio e
"faizeram campanha" favorável ao candidato de direita e da direita, o
tucano José Serra, que foi derrotado por Dilma Rousseff. Tal barão da imprensa
pelo menos foi sincero e ratificou e reconheceu que o seu jornal é de oposição
aos governos de Lula e Dilma, como o foi, lembro novamente, adversário e até
mesmo inimigo de Getúlio Vargas e João Goulart. É a história a se repetir em
termos de combate ao campo trabalhista.
Acontece que o Estadão
apenas oficializou sua opção política, ideológica e partidária, porque os
Mesquita, nas pessoas de Júlio Mesquita, Júlio Mesquita Filho, Júlio Mesquita
Neto, Ruy Mesquita e agora Francisco Mesquita Neto, primo do Ruy, e atual
presidente do Grupo Estado, vão continuar seu périplo conservador, de direita,
sempre a serviço dos interesses dos ricos, dos muitos ricos e dos governos dos
países hegemônicos e de caráteres imperialistas. Quem vem da República Velha
nunca muda, e por isto e por causa disto sempre devem ser combatidos pelas
forças progressistas. Os Mesquita, os Frias e os Marinho são democratas de
fachada e portadores de conservadorismo na veia. É isso aí.
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