CHICO VIGILANTE
O programa político do PSBD
me trouxe uma certeza: o enfoque da grande imprensa sobre a inflação, com a
criação de factóides como o do tomate, era uma preparação de terreno para o
foco escolhido pelo senador tucano
O programa político do PSBD
me trouxe uma certeza: o enfoque da grande imprensa escrita e televisiva no
último mês sobre a inflação no país, com a criação de factóides como o do
tomate, era uma preparação de terreno para o foco escolhido pelo senador Aécio
Neves no programa de quinta-feira.
Em sua estreia na tevê, o
presidente nacional do PSDB, provável candidato do partido à Presidência em
2014, aposta na estratégia de se tornar
conhecido fora de Minas, mostrando as realizações de seus dois mandatos à
frente do governo do Estado (2003-2010) e desgastar a presidente Dilma Rousseff
abordando o risco de descontrole inflacionário.
Para tentar convencer o
público ele reinou praticamente sozinho nos 10 minutos do programa, que apenas
ao final apresenta breves discursos do governador Geraldo Alckmin, do
ex-governador José Serra e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
É deprimente como a imprensa
comercial brasileira é claramente a favor das elites, e acredita que o povo
brasileiro é estúpido e não tem o discernimento necessário para perceber
jogadas como essa. A imprensa já comentava antes do programa ir ao ar qual
seria a linha desenvolvida por Aécio.
Quando fala dos perigos da
inflação no governo Dilma, Aécio se esquece de que no último ano do governo FHC
a inflação ficou acima de 20%.
Quando critica a política de
educação do PT ele esquece de citar a maneira humilhante como são tratados os
professores em Minas Gerais; quando defende a qualificação profissional ele se
esquece de que no governo FHC além de não ter sido construída nenhuma escola
técnica ainda foi baixado um decreto proibindo o governo federal de ter escolas
técnicas.
Esse decreto foi suspenso
pelo governo Lula e de lá pra cá já construímos mais de 200 escolas técnicas em
todo o país, além de termos criado o
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Brasília (IFB), instituição
de ensino público, com sede em Brasília, já funcionando em cinco regiões
administrativas.
Quando critica a atual
situação das estradas brasileiras, que
foram em sua maioria reconstruídas por Lula e Dilma, ele não se lembrou de
contar que no último ano do governo FHC a Rede Globo de Televisão mandou Pedro
Bial percorrer as estradas brasileiras do RGS ao Pará para mostrar a aventura
quase impossível que representava fazer esse trajeto de automóvel, devido ao
estado lamentável que se encontravam.
Quando fala num discurso
tipicamente populista em diminuir as despesas públicas e gastar mais com o
povo, nós sabemos que por traz disso está a defesa da velha cartilha neoliberal
que deu errado no mundo inteiro, que se baseia na venda das estatais com a
redução da prestação de serviços públicos à população, falta de investimentos
em educação, saúde, segurança. Afinal os ricos tem dinheiro para estudar em
escolas caras, freqüentar hospitais particulares e pagar seguranças ou até
circular em carros blindados.
Dizer que nada do que os
governos Lula e Dilma fizeram seria possível se não fosse o Plano Real de FHC é
no mínimo uma falta de informação, porque sua instituição se deu na gestão do
presidente Itamar Franco, que inclusive apoiou Lula anos depois em sua
candidatura à presidência.
Portanto, senador Aécio, seu
discurso, com imagens de mocinho e cadência mais de cinema do que de programa
político não convence a ninguém que tenha um mínimo de conhecimento e memória.
Chico Vigilante
Líder do Bloco PT/PRB
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