domingo, 5 de maio de 2013

STF paga viagem de jornalista do Globo


Eis um caso inaceitável de infração de ética de mão dupla.
Barbosa na Costa Rica
Barbosa na Costa Rica

Paulo Nogueira

Um asterisco aparece no nome da jornalista do Globo que escreve textos sobre Joaquim Barbosa em falas na Costa Rica.
Vou ver o que é o asterisco.
E dou numa infração ética que jamais poderia acontecer no Brasil de 2013.
A repórter viaja a convite do Supremo.
É um dado que mostra várias coisas ao mesmo tempo.
Primeiro, a ausência de noção de ética do Supremo e do Globo.
Viagens pagas já faz tempo, no ambiente editorial mundial e mesmo brasileiro, são consensualmente julgadas inaceitáveis eticamente.
Por razões óbvias: o conteúdo é viciado por natureza. As contas do jornalista estão sendo bancadas pela pessoa ou organização que é central nas reportagens.
Na Abril, onde me formei, viagens pagas há mais de vinte anos são proibidas pelo código de ética da empresa.
Quando fui para a Editora Globo, em 2006, não havia código de ética lá. Tentei montar um, mas não tive nem apoio e nem tempo.
Tive um problema sério, na Globo, em torno de uma viagem paga que um editor aceitou.
Era uma boca-livre promovida por João Dória, e o editor voltou dela repleto de brindes caros, outro foco pernicioso de corrupção nas redações.
Fiquei absolutamente indignado quando soube, e isso me motivou a fazer de imediato um código de ética na editora.
Surgiu um conflito do qual resultaria minha saída. Dias depois de meu desligamento, o editor voltou a fazer outra viagem bancada por Dória, e desta vez internacional.
Bem, na companhia do editor foi o diretor geral da editora, Fred Kachar, um dos maiores frequentadores de boca livre do circuito da mídia brasileira.
Isto é Globo.
De volta à viagem de Costa Rica.
Quando ficou claro que viagens pagas não podiam ser aceitas eticamente, foi a Folha que trouxe uma gambiarra ridícula.
A Folha passou a adotar o expediente que se viu agora no Globo: avisar que estava precaricando, como se isso resolvesse o caso da prevaricação.
A transparência, nesta situação, apenas amplia a indecência.
A Globo sabe disso. Mas quando se trata de dinheiro seus limites morais são indescritivelmente frouxos.
Durante muito tempo, as empresas jornalísticas justificaram este pecado com a alegação de que não tinham dinheiro suficiente para bancar viagens.
Quem acredita nisso acredita em tudo, como disse Wellington. Veja o patrimônio pessoal dos donos da Globo, caso tenha alguma dúvida.
É ganância e despudor misturados – e o sentimento cínico de que o leitor brasileiro não repara em nada a engole tudo.
Então a Globo sabe que não deveria fazer o que fez.
E o Supremo, não tem noção disso?
É o dinheiro público torrado numa cobertura jornalística que será torta moralmente, é uma relação promíscua – mídia e judiciário – alimentada na sombra.
Para usar a teoria do domínio dos fatos, minha presunção é que o Supremo não imaginava que viesse à luz, num asterisco, a informação de que dinheiro do contribuinte estava sendo usado para bancar a viagem da jornalista do Globo.
Como dizia meu professor de jornalismo nas madrugadas de fechamento de revista, quando um texto capital chegava a ele e tinha que ser reescrito contra o relógio da gráfica, a quem apelar?

2 comentários:

Ivana Lima Regis disse...

http://www.stf.jus.br/portal/cms/verTexto.asp?servico=centralDoCidadaoAcessoInformacao&pagina=sobreCentralCidadao

Quer dizer, o JB viaja para participar de um seminário sobre liberdade de imprensa e, sem qualquer pudor, usa o dinheiro público para pagar a viagem da repórter, patrocinando, assim, as matérias que serão publicadas, no Globo, a respeito da participação dele no evento. Liberdade de imprensa? Mas que liberdade de imprensa? Isso, além de ridículo, é pura falta de ética. Vergonha nacional!

A propósito. Na página do STF, as informações do portal “Transparência”, no quesito “gastos com viagens”, estão totalmente desatualizadas (os últimos lançamentos são de 2010). Vai saber o que andou acontecendo nesse tempo… quantos **asteriscos** passaram despercebidos…

Bom, como não temos “a quem apelar” (os cargos são vitalícios, o CNJ não tem competência sobre o STF etc), o link aí em cima é pra quem quiser botar a boca no trombone, reclamando da situação no site do STF.

Pode não surtir maiores efeitos (em termos institucionais, digamos assim), mas dá um alívio danado. Ah! Isso dá. Abs.

Natale disse...

Pois é, quer dizer então que os R$90mil para a reforma dos banheiros do STF, não serão suficientes para "suportar" esta cagada monumental...