DAVIS SENA FILHO
Gilmar Mendes criou mais uma
“crise” artificial, desta vez com o Senado, para levar desassossego à
República, e, consequentemente, atender os desejos da direita partidária três
vezes derrotada
O Judiciário certamente é
uma das instituições com menos credibilidade no Brasil. Para fazer esta
assertiva, não me baseio na opinião da imprensa de mercado e muito menos na
classe média lacerdista, que tem horror do Brasil e de seu povo, e que se
tornaram, cinicamente, “fanzocas” do juiz Joaquim Barbosa, a quem detestavam
quando tal magistrado da capa preta batia boca violentamente com o “queridinho”
da direita brasileira — o juiz Gilmar Mendes.
Recentemente, Gilmar criou
mais uma “crise” artificial, desta vez com o Senado, para levar desassossego à
República, e, consequentemente, atender os desejos da direita partidária três
vezes derrotada, no que diz respeito a impedir a tramitação e aprovação de
projeto que limita a criação de partidos, e que, no momento, não interessa ao
establishment, que aposta nas candidaturas de Aécio Neves, Eduardo Campos e
Marina Silva, com a intenção de pelo menos chegar ao segundo turno das eleições
presidenciais de 2014.
Contudo, volto a repetir, o
Judiciário é o poder com menos credibilidade, porque a população sabe que esse
Poder não funciona, e por isto fica a pedir, a chorar, a lamentar e a gritar
por justiça todos os dias nos meios de comunicação privados, que ganham muito
dinheiro com a miséria material e moral humana em programas e noticiários
policiais ao tempo que defendem o STF por interesses políticos e de classe
social. O Supremo, principal responsável por no Brasil a justiça não ser
democrática e acessível a todos os cidadãos, além de ser lenta e voltada para
os interesses das grandes corporações, ou seja, dos ricos, dos muitos ricos e
dos que compõem ideologicamente o campo de direita.
A falta de credibilidade do
Judiciário se baseia na opinião das pessoas comuns e vítimas de golpes
financeiros, agressões físicas e verbais e assassinatos. O Judiciário é uma
caixa preta repleta de luxos, mordomias, vantagens e privilégios e que tem de
ser aberta, e, por conseguinte, ser enquadrado pelos princípios republicanos,
realidade que até hoje não aconteceu, apesar da vigência da Constituição de
1988.
As pessoas com as quais
converso todo dia nas ruas, nos bairros e comunidades, no trabalho, durante o
lazer e nos bares e restaurantes não acreditam nos juízes, porque o cidadão
comum sabe que tal categoria, paga todo mês pelo Erário Público, comporta-se
como semideusa, alia-se às elites econômicas e, evidentemente, divorcia-se dos
interesses do povo e da cidadania. Essa realidade é visível e nítida. A
insatisfação popular com o Judiciário é palpável e por isto real.
\Digo ainda mais: dos três
poderes da República constituídos o Judiciário é aquele que, no jargão popular,
poder-se-ia dizer que ainda não mostrou para o que veio, desde a
redemocratização do País, em 1985, depois de a sociedade brasileira amargar uma
ditadura de 21 anos. Como a Justiça, ao
que parece, não é transparente e reage a qualquer proposta de controle externo,
que tem por objetivo democratizá-la, é mais do que necessário que a mesma seja
fiscalizada em seus atos e ações, por intermédio de mecanismos que não permitam
que alguns juízes ultrapassem os limites do que é legal e, por sua vez, do que
é ético, porque muitos optam por veredas tortuosas, a compactuar e a ser
cúmplices daqueles que não observam as leis e os códigos brasileiros, além de
muitos que são parciais nos julgamentos por afinidade política e interesse
financeiro. Juízes são homens e não deuses. Erram como homens e como tais devem
ser punidos.
Muitas vezes corporativistas
e de vocação nepotista, membros do Judiciário têm se esmerado em combater e até
mesmo desacreditar a fiscalização do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), e,
dessa forma, colocar o Brasil entre os países onde ainda impera um estado de
beligerância urbana e rural, bem como de favorecimento à corrupção, o que não
corresponde, irrefragavelmente, ao que está escrito na Constituição Federal de
1988, que salvaguarda o Brasil como um estado democrático de direito.
Qualquer pessoa possui, por
mais humilde ou “ignara” ou de poucas letras que seja, um mecanismo nato em seu
pensamento, em seu coração, em seus sentimentos, notavelmente humanos, que é o
de perceber, por experiência de vida, consciência e instinto, o que é certo ou
errado, legal ou ilegal e justo ou injusto. Não adianta alguns juízes, com suas
capas de Zorro, com empáfia e arrogância se fazerem de imortais ou intocáveis,
porque a população — como afirmei anteriormente — sabe o que é injusto e o que
é errado, o que é indecente e o que é desonesto.
No momento, a sociedade
brasileira sabe e compreende que a Judiciário não coaduna com os anseios do
cidadão contribuinte, que, constantemente, tem de engolir a seco os ditames de
alguns juízes, que se aproveitam de "aberturas" da lei para liberar,
soltar e, muitas vezes, permitir até mesmo a fuga de criminosos pegos no ato de
“passar bola", principalmente os que usam colarinho impecavelmente branco,
como as roupas apresentadas em propaganda de sabão em pó.
São incontáveis as
humilhações impostas pelo Judiciário ao povo brasileiro, que, trabalhador e
pagador de impostos, tem de aguentar e tolerar as agruras impostas pelo Poder
Judiciário, capitaneado por servidores públicos que estudaram Direito e que, ao
contrário do que significa o nome do curso, não colocam em prática a teoria
aprendida quase sempre em universidades públicas sustentadas pelo contribuinte,
que não recebe, quase nunca, a contrapartida de parte dos juízes, que poderia
ser retratada em mais jurisprudência e menos chicana.
Haverá um dia que os maus
juízes terão de perceber que apesar de serem filhos das classes média, média
alta e alta, tiveram seus inúmeros cursos financiados pelos cidadãos
brasileiros contribuintes, e que, por esse importante e fundamental motivo,
devem a esse cidadão seus bons salários, suas carreiras sólidas e seguras, suas
previdências, suas nomeações e seus status sociais como executores da lei e da
justiça.
Como é difícil, para a
maioria dos cidadãos, observar tanta "liberação" de pessoas
envolvidas com casos de corrupção e até mesmo de assassinatos como acontece
neste País. Os juízes dizem que suas determinações de soltar a quem está preso
obedecem, de forma irretorquível, a letra fria da lei. Tudo isso pode ser
verdade, mas o que a população sente é um tremendo abandono, o que causa,
indelevelmente, um grande mal-estar e um sentimento amargo de impotência
perante as pessoas que cometem crimes e não são punidas.
Nossa realidade é o estado
democrático de direito. Portanto, o castigo, conforme a lei, determina-se, sem
espaço para a tergiversação, como realisticamente acontece quando,
comprovadamente, autores acusados de assassinatos ou de colarinho branco
conseguem alvarás de soltura por meio de habeas corpus, e, consequentemente,
não são devidamente punidos, o que causa uma enorme sensação de impunidade à
população, que percebe, independente da letra da lei, que a cadeia foi criada
para os pobres, que, geralmente, são brasileiros de etnia negra ou parda e
pertencentes às classes sociais carentes, pois nascer branco no Brasil é meio
caminho andado para o sucesso. É como ganhar um prêmio lotérico da Caixa.
É assim que funciona a nossa
sociedade, hierarquizada malvadamente, pelas nossas “elites”, que edificaram
seus poderes por intermédio da pedra fundamental da escravidão. A maioria dos
juízes nasce em berço esplêndido e, esplendidamente, defende interesses
corporativistas de sua categoria e de sua classe social. Esta é a questão
fundamental. No capitalismo, a imprensa privada e comercial, a Justiça e o
sistema de segurança pública e particular garantem os privilégios e os
benefícios das classes sociais que frequentam o pico da pirâmide social. E é
por esse motivo que é quase impossível punir os poderosos.
Pessoas ricas e da elite branca
não podem nem ser algemadas, quanto mais presas, como ocorreu em casos notórios
como os dos empresários banqueiros Daniel Dantas e Salvatore Cacciola, bem como
de autoridades públicas das três esferas, exemplificadas nas pessoas do juiz
Nicolau dos Santos Neto (juiz Lalau), dos ex-senadores Luiz Estevão e Joaquim
Roriz, além do ex-governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, sem me
esquecer de citar os episódios dos promotores Leonardo Bandarra e Deborah
Guerner, que respondem a processos na Justiça, por causa do Mensalão do DEM,
somente para ficar nesses casos, porque o povo sabe que existem milhares de
ocorrências de colarinho branco, tanto no âmbito da iniciativa privada quanto
na esfera pública.
Outro caso que chamou muita
atenção é o caso do senador Demóstenes Torres (DEM), que se associou ao
poderoso bicheiro Carlinhos Cachoeira, além do governador de Goiás, Marconi
Perillo (PSDB), de deputados, empresários, jornalistas e servidores de
altíssimo escalão, como o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, que se
conduziu de forma estranha e "segurou" durante três anos (2009/2012)
o dossiê do Demóstenes elaborado pela PF e somente deu satisfação à sociedade
brasileira por causa da pressão de parlamentares que foram à Procuradoria
cobrar ações sobre o escândalo e exigir satisfações.
E o “mensalão” do PT? Antes
que os lorpas e os batráquios sejam possuídos por faniquitos de ódios e a ficar
a babar a baba grossa dos bovinos, como diria o jornalista Nelson Rodrigues,
afirmo-lhes: o caso foi julgado, os castigos determinados e agora se espera o
acórdão. Agora, eu pergunto aos trogloditas de direita: E o mensalão dos
tucanos do PSDB? E a Privataria Tucana? E o caso Banestado, que depois da
Privataria foi o maior escândalo financeiro de todos os tempos, onde está
envolvida parte dos que controlam as grandes corporações, da direita política e
do Judiciário brasileiros? Quando essas pessoas e empresas vão ser julgadas e
seus nomes promovidos pela mídia corrupta e de negócios privados? Não foi assim
que fizeram com o mensalão do PT? Respondo-lhes: talvez nunca, porque o
Judiciário é o bastião mais poderoso da oligarquia escravocrata brasileira, e
por isto não se torna necessário dar mais explicações, não é? Ponto!
A realidade do País não
condiz com a Lei Nº 7.492/1986, conhecida como Lei do Colarinho Branco, que
dispõe sobre os crimes contra o Sistema Financeiro Nacional. Todavia, a prática
não corresponde à teoria. Para exemplificar a afirmação, relembro a ação do
ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, que,
após conceder dois habeas corpus em 48 horas ao banqueiro Daniel Dantas preso
em 2004 na Operação Satiagraha da Polícia Federal, criticou duramente a
operação da PF, para logo depois aprovar súmula vinculante que restringe a
utilização de algemas durante operações policiais e julgamentos.
Daniel Dantas foi algemado e
a Justiça do capa preta Gilmar Mendes não gostou, bem como a imprensa comercial
e privada. Não é imperativo se prolongar a respeito do fato acontecido, porque
estamos mais do que cansados de saber que os presos pobres, negros ou brancos
(minoria) são sumariamente algemados, além de serem expostos à imprensa
alienígena e apanharem da polícia. É assim que se conduz a nossa “elite”
herdeira da escravidão. Não há novidade nesses pagos. É histórico e de
conhecimento público. Moral da história — a que não é da Carochinha: rico no
Brasil não pode ser algemado e muito menos condenado e preso. Ponto! A
democracia ainda não chegou ao Judiciário deste País. Ponto final!
Apesar de termos acesso a
informações de que os judiciários dos países considerados “desenvolvidos” e
democráticos dão tratamento mais isonômico às diferentes classes de seus
tecidos sociais (empresários e políticos são julgados e presos de forma
ordinária), não conseguimos ainda fazer com que o Judiciário brasileiro se
torne democrático, republicano e justo. A aceitação de chicanas, a passividade
com a morosidade e o distanciamento de certos juízes com as realidades e as
necessidades do povo brasileiro se tornam questões graves de insegurança
pública e instabilidade até mesmo política, porque não há como ter paz sem
justiça. O injustiçado, indelevelmente, tornar-se-á um ser revoltado e em
constante conflito com a sociedade.
Além disso, o Conselho
Nacional de Justiça (CNJ), órgão que exerce o controle externo do Poder
Judiciário, tem de ter a plena liberdade para averiguar e fiscalizar seus
membros ou tribunais que, por interesse ou outro, não zelam por uma conduta
exigida para o ofício de servir ao País e ao povo. Um mau exemplo é o
ex-presidente do STF, ministro Cezar Peluso, que durante seu mandato questionou
sistematicamente as ações de membros do CNJ, no que concerne à punição de
juízes, às questões administrativas e a seus relatórios. Peluso, antes de tudo,
foi um corporativo e colocou os interesses de sua classe e da direita
brasileira acima de tudo. O ex-juiz foi uma verdadeira decepção para a
democracia brasileira.
Além do mais, os integrantes
do Judiciário foram os que mais reagiram quando da efetivação da lei contra o
nepotismo. A reação foi muito maior do que a dos servidores públicos dos
poderes Legislativo e Executivo. Esse fato foi veiculado e publicado pelos
jornais, internet e pelas televisões, de forma ampla e verídica. Um absurdo,
por se tratar de membros do Judiciário, que deveriam dar o exemplo para o povo
brasileiro.
A verdade é que é muito
difícil para os juízes julgar juízes, e o corporativismo e os interesses
políticos e de classe são enormes quando têm de efetivar punições aos que
cometem crimes, o que, sem sombra de dúvida, fatos dessa natureza não condizem
com o Brasil de hoje e com as gerações de brasileiros que sonharam e sonham em
concretizar o estado democrático de direito em nosso País. E para o sonho virar
realidade é inquestionável que o Poder Judiciário tem de rapidamente resgatar
seu nome no que tange à confiança da população brasileira em relação à sua
atuação como poder de Estado.
A imprensa tem publicado
notícias sobre juízes e outras categorias de profissionais pertencentes ao
Judiciário envolvidos em casos de corrupção, juntamente com alguns servidores
policiais, além de funcionários de outros poderes e seus diversos órgãos e
autarquias. Não é necessário ao grande povo brasileiro trabalhador ter um
diploma universitário para perceber que a Justiça está a dever, mesmo quando
ela questiona as acusações imputadas a ela para dar satisfação à sociedade.
Acontece que juízes são
homens e mulheres como outros homens e mulheres, e por isso sempre estarão à
mercê de seus dogmas, crenças, culturas, valores e princípios, que não se
agregam somente à pessoa quando de sua vida universitária e acadêmica e, sim,
desde o berço de nosso nascimento, quando homens e mulheres passam a ter
contato com a família, com a escola, com a igreja, com a sociedade e com o
mundo que nos rodeia. A Justiça é muito importante para a sociedade e tem de
receber apoio dos cidadãos, pois sem ela não se consegue viver com
tranqüilidade, dignidade e paz.
Entretanto, o Judiciário e
os homens e mulheres que compõem esse imprescindível Poder têm de ser
fiscalizados, de forma republicana e respeitosa à autoridade judicial. O CNJ
tem de ser cada vez mais fortalecido, porém, não deve se intrometer em questões
somente relativas aos tribunais. O Executivo é fiscalizado, o Legislativo é
fiscalizado e o Judiciário tem de sê-lo, de maneira transparente, porque esse
Poder é um dos principais responsáveis pelo bem-estar do povo brasileiro. Por
causa disso, é preciso combater iniquidades, no que concerne à sua própria
atuação.
Creio que se não houver uma
mudança no pensamento das autoridades judiciais, o estado democrático de
direito estabelecido no País pela Constituição de 1988 corre perigo, pois a
continuar essa situação de degeneração moral e violência social que assola o
País vai ficar muito difícil concretizar uma ordem que permita à população de 200
milhões de habitantes viver em paz, e, consequentemente, inserir o Brasil em um
contexto de País civilizado e desenvolvido. É isso aí.
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