por Mauricio Dias
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publicado
27/06/2015
O bordão mais conhecido da esquerda pode ser ajustado à reação
conservadora que, graças ao bombardeio midiático, conquista boa parte da
maioria desavisada
O momento é adverso para a esquerda. A
direita brasileira uniu-se e com o objetivo de derrubar Dilma,
desmoralizar Lula e, se possível, levá-lo à prisão. Por último, mas não
menos importante, exterminar o PT. Coesão como esta ocorreu em 1964.
Jango foi derrubado, manu militari, com sinal verde dos Estados Unidos.
Desta vez, as Forças Armadas estão fora
da manipulação política e as vivandeiras não rondam os quartéis. Um
contingente da classe média já saiu às ruas pedindo o retorno da
ditadura. O modelo de antanho parece superado. Permanece ainda um gosto
rançoso de 1964 orientando os propósitos sinistros de barões da mídia.
Há tentativas de golpe branco, com certas
manifestações emergidas nos últimos meses e é, no momento, repetido com
o método de sufocação parecido ao ataque de uma sucuri. O réptil corta a
transmissão do ar para o pulmão da vítima.
Talvez se possa moldar um slogan para os direitistas. Eis
aqui uma sugestão simples, solidamente sustentada pelos fatos: “A
direita unida jamais será vencida”.
Bem, nem sempre. Trata-se de ironia em contraponto à
palavra de ordem, simples e forte, criada pelas manifestações da
esquerda: “O povo unido jamais será vencido”. Anima. Mas não tem sido
assim.
Evidentemente, a história não é
explicável pelos bordões. Mas eles absorvem e refletem alguma coisa da
realidade. A direita, conforme-se com isso a esquerda, também tem uma
parte do povo ao lado dela. Às vezes menos, às vezes mais.
Para ganhar quatro eleições seguidas o PT fez alianças com o centro e a centro-direita. Uma tentativa de unir partidos de campo político diferente encarregados de formar a base governista no Congresso.
Houve, nos últimos tempos, uma radical
migração de eleitores para a direita, como aponta o resultado de
pesquisa do Datafolha, sobre a tendência ideológica do eleitor (tabela).
De cada 100 brasileiros, 35 se dizem de esquerda e centro-esquerda,
e 45 se identificam com a centro-direita ou com a direita simplesmente.
O centro absorve 20 brasileiros. Até então, esse agrupamento estava
disperso entre um lado e o outro. Produzia uma frágil estabilidade,
favorecendo os governos petistas. Ela, no entanto, com as crises
econômica e política, pendeu para a direita, compondo uma maioria
expressiva: 65 entre 100 formam esse bloco.
Aí a base descontrolou-se de vez. Uma coisa é uma coligação, a outra um ajuntamento de siglas.
A força da direita, além de poderosas
relações institucionais, conta com o apoio maciço da mídia, que, na
oposição ao governo, cruza a ponte democrática e os limites
profissionais para desembocar no jornalismo marrom, a se valer da
ignorância e da ingenuidade política da maioria.
Cresceu a repulsa aos petistas.
Bresser-Pereira, ex-ministro dos presidentes Sarney e FHC, identifica
isso como “ódio de classe”, emergido a partir dos amplos programas
sociais e consolidado após a derrota sofrida por Aécio Neves na eleição
presidencial.
Não há surpresa nessa história. A questão
social é uma intrusa na pauta da direita, que nunca deu prioridade aos
pobres. O Programa Bolsa Família e a inclusão econômica são alvo desse
repúdio de classe. Manifesta-se aqui e ali. A reação mais conhecida
ocorre nos aeroportos do País. Pergunta o usuário burguesote das linhas
aéreas: onde já se viu pobre usar avião como meio de transporte?
Desagradável. A culpa é do Lula.
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