A presidente Dilma Rousseff se manifestou
publicamente pela primeira vez sobre o vazamento de trechos da delação
premiada do empresário Ricardo Pessoa, da UTC, no âmbito da Operação
Lava Jato. "Não respeito delator", declarou.
Pessoa disse aos investigadores da Operação Lava Jato que doou R$ 7,5
milhões para a campanha de Dilma em 2014 e que o dinheiro seria fruto
do esquema de corrupção na Petrobras. As doações a campanhas feitas pela
UTC, no entanto, incluem parlamentares da oposição e foram maiores à
campanha presidencial do senador Aécio Neves, do PSDB (R$ 8,7 milhões).
"Eu não respeito delator. Até porque eu estive presa na ditadura e
sei o que é que é. Tentaram me transformar em uma delatora", disse
Dilma, em Nova York, onde se reuniu nesta segunda-feira 29 com
investidores financeiros e empresários do setor produtivo.
A presidente ressaltou que a empreiteira também doou para seu
adversário na disputa. "Eu não aceito e jamais aceitarei que insinuem
sobre mim ou a minha campanha qualquer irregularidade. Primeiro porque
não houve. Segundo, se insinuam, alguns têm interesses políticos",
acrescentou.
Dilma colocou ainda como motivo para refutar as acusações o fato de
ser mineira e ter crescido com lições sobre a Inconfidência Mineira. "E
há um personagem que a gente não gosta, porque as professoras nos
ensinam a não gostar dele. E ele se chama Joaquim Silvério dos Reis, o
delator. Eu não respeito delator", criticou, em referência ao homem que
traiu os inconfidentes.
A presidente assegurou que tomará medidas contra Ricardo Pessoa caso
ele faça acusações contra ela. Mas defendeu que tudo seja investigado,
inclusive as denúncias que constam da delação. "Tudo, sem exceção",
disse.
Abaixo, reportagem da Reuters sobre as declarações de Dilma a jornalistas:
Dilma nega irregularidades em campanha e diz que não respeita delator
NOVA YORK (Reuters) - A presidente Dilma Rousseff negou nesta
segunda-feira qualquer irregularidade em sua campanha eleitoral e disse
não respeitar delatores, depois que a imprensa divulgou que o dono da
UTC Engenharia, Ricardo Pessoa, teria afirmado em sua delação premiada,
no âmbito da operação Lava Jato, que deu dinheiro à campanha da petista.
A presidente disse a jornalistas durante visita a Nova York que todos
os recursos arrecadados por sua campanha foram legais e registrados e
afirmou não aceitar que insinuem qualquer irregularidade contra ela ou
sua campanha eleitoral.
"Eu não respeito delator", declarou a presidente aos jornalistas.
"Até porque, eu estive presa na ditadura e sei o que é. Tentaram me
transformar em uma delatora... Eu garanto para você que eu resisti
bravamente", disse Dilma, sobre o período em que foi presa e torturada
durante o regime militar.
Dilma defendeu que a Justiça investigue todas as informações dadas
por Pessoa, mas disse não aceitar "jamais" que insinuem irregularidades
em relação a ela.
"A minha campanha recebeu dinheiro legal, registrado... Na mesma
época que eu recebi os recursos, pelo menos uma das vezes, o candidato
que concorria comigo recebeu também, uma diferença muito pequena de
valores, eu estou falando do Aécio Neves", completou a presidente.
"Eu não aceito e jamais aceitarei que insinuem sobre mim ou sobre
minha campanha qualquer irregularidade", acrescentou Dilma, afirmando
ainda que nunca encontrou Pessoa.
Na sexta-feira, a imprensa divulgou que, em seu processo de delação
premiada, Pessoa entregou ao Ministério Público uma lista de políticos
que teriam recebido dinheiro da UTC Engenharia proveniente de propinas
pagas para obtenção de contratos com a Petrobras.
Na ocasião, o ministro da Comunicação Social, Edinho Silva, que foi
tesoureiro da campanha de Dilma em 2014, emitiu nota afirmando que a
campanha da petista recebeu 7,5 milhões de reais em doações da UTC
Engenharia, que foram legais e registradas junto à Justiça Eleitoral.
Em entrevista coletiva no sábado, o ministro voltou a comentar o
assunto e questionou o fato de doações feitas pela empreiteira a outros
candidatos não terem recebido o mesmo destaque dado aos recursos
destinados à campanha petista e viu vazamento seletivo nas informações
divulgadas sobre a delação de Pessoa.
A Lava Jato investiga um esquema bilionário de corrupção na Petrobras
em que empreiteiras formaram um cartel para obter contratos de obras da
empresa. Em troca, pagavam propina a funcionários da estatal, a
operadores que lavavam o dinheiro do esquema, a políticos e partidos.
Pessoa, que fez acordo de delação premiada em troca de redução da
pena, é apontado pelo Ministério Público como o chefe do clube de
empresas que cartelizavam as licitações da Petrobras.
BASES PARA O CRESCIMENTO
Antes da entrevista para os jornalistas, Dilma participou do
encerramento de encontro com empresários em Nova York. Em discurso, a
presidente afirmou que há uma grande demanda por infraestrutura no país e
disse que o Brasil passa por uma fase de construção das bases para a
retomada do crescimento econômico.
"Estamos em uma fase de construção das bases para o novo ciclo de
expansão do crescimento e faz parte dessa estratégia a adoção de medidas
de controle da inflação e do equilíbrio, e a busca do equilíbrio
fiscal", discursou a presidente, que defendeu ainda a necessidade de
aumento da produtividade da economia.
"Para aumentar nossa produtividade, precisamos aumentar nossa taxa de
investimento, sobretudo investimento em infraestrutura... Sobretudo em
um período de maior restrição fiscal, como nós atravessamos hoje, é
preciso transformar a demanda potencial por melhor infraestrutura em
projetos viáveis de investimento para o capital privado. É essa a
demanda sobre nós", afirmou.
(Reportagem de Daniel Bases)
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