Este dia 29 de maio de 2015 foi realmente marcante e rico de simbolismos. Um deles é a luta unida.
Numa conjuntura de densa cortina de fumaça alienante, de morte da
consciência cidadã e de luta coletiva pelas transformações os
trabalhadores e trabalhadoras deram imenso testemunho de vida e
compromisso com os direitos sociais.
Sou testemunha participante dos esforços que vários seguimentos
fizeram na preparação desta parada e das manifestações. Há duas semanas
participamos de reuniões e de mobilizações por seguimentos para
levantarmos o ânimo de todos, chamando-os para esse dia de lutas. De
agricultores humildes, metalúrgicos, garis, trabalhadoras domésticas,
professores de vários níveis inclusive das universidades federal,
estadual, PUC e outras particulares etc participaram das reuniões
mobilizadoras.
Durante algumas madrugadas fomos aos terminais de ônibus panfletar e
denunciar os deputados que votaram a favor da maldita terceirização.
Deparamo-nos com multidões absolutamente insatisfeitas, revoltadas e
ávidas do conhecimento da realidade que ultrapasse o senso comum e as
mentiras da mídia. Um sindicalista contou que carregou em seus braços
milhares de panfletos e os distribuiu em todo o centro de Goiânia.
Muitos eleitores dos deputados que os traíram com votos macabros na
desumanização do trabalho, ao se depararem com suas fotos estampadas nos
folders, se revoltaram e prometeram nunca mais votar em gente que odeia
os trabalhadores.
Emocionei-me ao presenciar o espírito de luta de homens e mulheres
que, em nossa última reunião preparatória do ato que impediu os ônibus
de saírem das garagens, se dispuseram participar às 3 horas da madrugada
do encontro concentrado para a tomada, em silêncio, dos portões e dos
pontos de partida dos coletivos. Algumas dessas pessoas moram
quilômetros de Goiânia. Mesmo assim sua disposição de luta revelava
consciência e elevado compromisso com os direitos sociais, sem
choradeira e revolta infantil. Nessa luta ninguém é diferente de
ninguém: não há superioridade nem inferioridade.
A clarividência consciencial dessas pessoas as diferencia em muito da
grande maioria de bois de manada, que baixa a cabeça em nome do que
chama de trabalho, na verdade escravatura e exploração.
Em muitos lugares do Brasil as cidades pararam e em outras
aconteceram válidos tumultos, como em Goiânia. Não havia lugar desta
capital em que não se comentasse esse dia de luta. Valeu mesmo!
Aplausos. De pé!
Faixas e cartazes das manifestações espalhadas pelo País me
despertaram especial atenção. Em São Paulo os trabalhadores da Central
dos Trabalhadores do Brasil moveram-se carregando um caixão encenando
morte e sepultamento do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo
Cunha. Ao final do trajeto incendiaram o esquife sinalizando queimar o
que representa aquele malfeitor dos direitos dos trabalhadores.
Evidentemente que os trabalhadores não são assassinos nem precisamos
devanear com falsos conceitos freudianos. Pelo contrário, sua intenção
foi a de simbolizar o mal que representa a política defendida por
Eduardo Cunha.
O malfadado presidente da Câmara dos Deputados revela-se
crescentemente ser um grande mal para o Brasil. É dele a ideia de uma
reforma política que afasta cada vez mais o povo do poder, que alimenta a
corrupção das eleições e tira a oportunidade dos pobres de se elegerem
para defender os interesses dos trabalhadores e dos excluídos.
Esse deputado malfeitor colocou em votação um projeto de lei que
prejudica mortalmente os trabalhadores e as leis que defendem os
direitos definidos já em 1915 e formatados depois na CLT.
Eduardo Cunha é um mal ocupando uma parte do poder de Estado no
Brasil. Como presidente da Câmara o desditoso só mostra compromissos com
os ricos, com os poderosos e com os piores sentimentos atrasados que
atentam contra o bem.
Este senhor consegue atingir maldosamente vários seguimentos: a
democracia quando reordena as eleições, põe fim à reeleição de
prefeitos, governadores e presidentes, com a clara intenção de travar os
avanços e reafirma o financiamento das campanhas eleitorais, a
principal fonte de corrupção e elitização política; e agora atinge o
coração social e econômico do País fragilizando o que há de mais sagrado
para o trabalho, que é o direito a carteira assinada com todas as
conquistas por ela representadas e pelo sagrado dever coletivo de
sindicalização, tudo prejudicado pela terceirização, que é debatida no
Senado com sérios riscos de ser aprovada e piorada.
Eduardo Cunha é evangélico e certamente envergonha os mais sérios que
têm um mínimo de consciência social e de amor ao próximo. Entre os
evangélicos consegue ser um dos mais conservadores, antissociais e
perverso inimigo dos trabalhadores.
Portanto, simbolizar a morte de Eduardo Cunha e sua incineração pelas
ruas de São Paulo são gestos de vida que clamam e denunciam quem é
eleito para defender o povo e a democracia e contra ele se volta com
tanta maldade e ódio.
Haverá dia em que isso realmente acontecerá: os maus e injustos terão
que passar pelo fogo. E não será somente de modo simbólico!
Os trabalhadores que produzem riquezas de todas as formas conhecidas e
inimagináveis lutam para queimar os elos sociais que tentam amarrar sua
dignidade e seus direitos. Os trabalhadores que modelam matérias primas
também constroem consciências e derrubarão os perversos como Eduardo
Cunha, essa vergonha nacional e esse lixo público.
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