Jornal GGN - Está sob custódia da Polícia Federal em
Curitiba, desde novembro de 2014, uma das figuras citadas na delação
premiada do doleiro Alberto Youssef que implicou o PSDB e o senador
Aécio Neves no suposto esquema de pagamento de propina montado em
Furnas, ainda na década de 1990. Trata-se de João Ricardo Auler,
presidente do conselho de administração da Construções e Comércio
Camargo Corrêa.
Segundo Youssef, João Auler foi seu principal contato na Camargo
Corrêa durante alguns anos. Depois, foi substituído pelo vice-presidente
da empresa, Eduardo Leite. Quem acompanhou as negociações feitas
diretamente com o Auler, no final da gestão FHC, foi o ex-deputado
federal José Janene, do PP, morto em 2010.
No pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) para arquivar
investigação contra Aécio na Lava Jato (petição 5283, em anexo), Youssef
explica que Janene tinha influência sobre uma diretoria de Furnas, onde
ocorria pagamento de vantagens indevidas por empresas que obtinham
contratos com a estatal de energia mineira. Caso da Camargo Corrêa. O
próprio Janene, muito próximo de Youssef, teria dito ao doleiro que
dividia o balcão com o PSDB.
À época, o doleiro também ouviu de Janene e outras fontes que o então
deputado mineiro Aécio era beneficiário do esquema, e a operadora do
tucano seria a própria irmã. Youssef não soube prover mais detalhes, e a
PGR entendeu que não havia indícios suficientes para sustentar um
inquérito contra o senador e o PSDB.
Em reunião com deputados mineiros que insistem na abertura de
investigação sobre o caso Furnas, Janot também teria dito, segundo Padre
João (PT), que o falecimento de Janene era outro obstáculo à
averiguação da denúncia contra os tucanos. A PGR, ao que tudo indica,
desconsiderou ouvir outros nomes citados pelo doleiro na Lava Jato. João
Auler, por exemplo.
Segundo Youssef, em 2002, Janene decidiu cobrar da Camargo Corrêa
cerca de R$ 4 milhões em propina destinados ao PP. O doleiro acompanhou o
momento em que João Auler (grafado de maneira errada na petição) teriam
informado a ambos que um agente do PSDB teria retirado o montante
primeiro.
Segundo as investigações da Lava Jato, o elo entre Youssef e a
Camargo Corrêa era o sócio do doleiro, João Procópio de Almeida Prado,
concunhado de João Auler. Ele apareceu na mídia após a Polícia Federal
apreender uma lista de sua autoria que indica que Youssef também fez
negócios com empresas que atuam em obras do setor elétrico. Mas sem
destaque para Furnas, embora Youssef tenha dito que operou o esquema
para empresários ao menos entre 1994 e 2001.
A defesa de João Auler, na tentativa de revogar sua prisão
preventiva, usou trechos das delações de Augusto Mendonça Neto (Toyo) e
Paulo Roberto Costa (ex-diretor da Petrobras) para sustentar que ele
teria atuado no cartel apenas até 2006.
Apesar de ter condições de ratificar ou desmentir o que Youssef disse
sobre Aécio, João Auler, que tem 40 anos de Camargo Corrêa, foi
orientado pela defesa a falar muito pouco ou quase nada do que sabe na
Lava Jato.
Em fevereiro, Dalton Avancini, presidente da Camargo Corrêa e o vice
Eduardo Leite assinaram acordo de delação premiada com as autoridades da
Lava Jato. João Auler resiste. Seus advogados esperam levantar provas
robustas de que a acusação contra o empresário - e a própria Operação
Lava Jato - tem tantos pontos frágeis que acabará sendo anulada.
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