Por Eduardo Guimarães, do Blog da Cidadania
Quem lê os principais jornais dando
conta de que a UTC doou 7,5 milhões de reais à campanha de Dilma
Rousseff fica com a impressão de que há, aí, uma grande descoberta e que
a presidente foi especialmente beneficiada por essa empresa. Nada mais
falso.
Em primeiro lugar, se esses grandes
veículos fizessem jornalismo deveriam esclarecer que essa empresa doou
inclusive mais dinheiro à campanha de Aécio Neves no ano passado do que à
de Dilma Rousseff.
Levantamento feito pelo site Às Claras,
ligado à ONG Transparência Brasil, mostra que a UTC doou R$
8.722.566,00 para a campanha a presidente de Aécio Neves, no ano
passado. O valor é R$ 1,22 milhão superior ao valor doado à campanha de
Dilma Rousseff na mesma época.
Diz o noticiário que Pessoa
sentiu-se pressionado a doar a Dilma e ao PT porque tinha medo de que,
se não doasse, o governo petista prejudicaria seus negócios. A pergunta
que é obrigatório fazer, diante de tal acusação, é muito simples: por
que Aécio, sem pressionar, recebeu mais do que Dilma?
Uma campanha recebeu 7,5 milhões de
reais do empresário porque o intimidou e a outra – que, conforme a
omissão do noticiário em citá-la, subentende-se que não intimidou –
recebe 8,7 milhões de reais.
A primeira doação decorre de chantagem e a segunda de "amor" ao candidato?
Ora, façam-me o favor...
Mas o pior não é isso. Uma simples
busca na internet revela que essa celeuma que dominou a grande mídia a
partir da última sexta-feira (26) por conta das "novas" revelações de
Ricardo Pessoa, da UTC, não tem a menor justificativa porque é matéria
requentada.
Os três maiores jornais do país
(Folha, Globo e Estadão) publicaram, neste sábado (27/06), praticamente a
mesma matéria sobre o tema, inclusive com manchetes praticamente
idênticas. Desse modo, tomemos como exemplo a matéria da Folha, que
afirma que "Revelações de empreiteiro ampliam pressão sobre o PT".
FOLHA DE SÃO PAULO
27 de junho de 2015
PETROLÃO
Dono da UTC cita doações a campanhas de Dilma e Mercadante em delação
Partido afirma que todas as contribuições que recebeu foram feitas conforme a lei e declaradas à Justiça
DE BRASÍLIA
DE CURITIBA
DE SÃO PAULO
Depoimentos prestados pelo
empresário Ricardo Pessoa, dono da empreiteira UTC, aos procuradores da
Operação Lava Jato ampliaram a pressão sobre o governo da presidente
Dilma Rousseff e seu partido, o PT, lançando novas suspeitas sobre
doações feitas à sua campanha à reeleição em 2014.
Apontado como um dos líderes do
cartel de empreiteiras acusadas de participar do esquema de corrupção na
Petrobras, Pessoa fez acordo com a Procuradoria-Geral da República para
colaborar com as investigações em troca de uma pena reduzida. O acordo
foi homologado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) nesta quinta-feira
(25).
Pessoa doou R$ 7,5 milhões para a
campanha de Dilma. A contribuição foi declarada à Justiça Eleitoral
pelo PT, mas, como a Folha revelou em maio, Pessoa disse que só fez a
doação por temer prejuízos em seus negócios na Petrobras se não ajudasse
o partido. Ele disse que tratou da contribuição com o tesoureiro da
campanha de Dilma, o atual ministro da Secretaria de Comunicação Social
da Presidência, Edinho Silva.
Nesta sexta (26), a revista
“Veja” afirmou que Pessoa detalhou também contribuições feitas para 18
campanhas políticas, incluindo repasses de R$ 15 milhões para o
ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto e de R$ 750 mil ao ex-deputado
José de Fillipi (PT-SP), que foi tesoureiro da campanha de Dilma em 2010
e hoje é secretário da administração do prefeito de São Paulo, Fernando
Haddad (PT).
Segundo o jornal “O Estado de S.
Paulo”, Pessoa indicou aos procuradores que os repasses para Vaccari e
Fillipi foram feitos de maneira ilegal, e não por meio de doações
oficiais. Em nota, o PT afirmou que todas as doações recebidas pelo
partido foram declaradas à Justiça Eleitoral.
Como a Folha informou nesta sexta
(26), Pessoa também detalhou a maneira como foi negociada uma
contribuição à campanha do petista Aloizio Mercadante ao governo do
Estado de São Paulo, em 2010. Em 2010, Mercadante declarou à Justiça
Eleitoral uma doação de R$ 250 mil da UTC. Hoje ministro da Casa Civil,
Mercadante é o principal auxiliar de Dilma.
As novas revelações sobre os
depoimentos de Pessoa fizeram Dilma convocar uma reunião de emergência
nesta sexta. Participaram Mercadante, Edinho Silva e o ministro da
Justiça, José Eduardo Cardozo. Nenhum se manifestou sobre o assunto.
Em avaliações internas, ministros
afirmavam que o episódio poderá contribuir para abalar ainda mais a
frágil popularidade da presidente, que tem 10% de aprovação, segundo o
Datafolha.
Preso desde novembro de 2014 e
hoje em prisão domiciliar, Ricardo Pessoa negociou durante meses o
acordo de delação premiada. A Folha apurou que Pessoa descreveu em
detalhes a maneira como acertava o repasse de recursos destinados ao PT.
‘PIXULECO’
Segundo ele, o então diretor da
Petrobras Renato Duque, ligado ao PT, avisava João Vaccari sempre que a
estatal fechava um contrato com a UTC e o tesoureiro então procurava o
empreiteiro para cobrar o “pixuleco”, como ele chamava a propina de 1%
que seria destinada ao PT.
Segundo Pessoa, eles então combinavam de que forma, e em quantas parcelas, esse pagamento seria feito.
Na maior parte das vezes, Pessoa
disse que optou por fazer doações oficiais ao PT ou a candidatos do
partido. Às vezes, disse, Vaccari pedia que o pagamento fosse feito por
fora. Segundo Pessoa, nesses casos o dinheiro era passado em espécie ao
partido.
Na delação, Pessoa também citou
contribuições a políticos de outros partidos, entre eles os senadores
Aloysio Nunes (PSB-SP), Fernando Collor (PTB-AL) e Edison Lobão
(PMDB-MA). Todos negam irregularidades.
(ANDRÉIA SADI, MARINA DIAS, NATUZA NERY, ESTELITA HASS CARAZZAI E FLÁVIO FERREIRA)
O que você, atento leitor, entende
dessa matéria e, sobretudo, da manchete que a intitula é que surgiu
alguma novidade que "ampliou" a "pressão" sobre "o PT". Ou seja, o que
se subentende da manchete é que alguma coisa nova veio à tona.
Pois bem. Vejamos, então, matéria da
mesma Folha de São Paulo publicada 49 dias antes, de autoria da mesma
Estelita Hass Carazzai que assina a matéria publicada pelo jornal neste
sábado.
FOLHA DE SÃO PAULO
9 de maio de 2015
FLÁVIO FERREIRA
DE ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA
ESTELITA HASS CARAZZAI
DE CURITIBA
O empresário Ricardo Pessoa, dono
da empreiteira UTC, disse a procuradores da Operação Lava Jato que doou
R$ 7,5 milhões à campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff por
temer prejuízos em seus negócios na Petrobras se não ajudasse o PT.
Segundo Pessoa, a contribuição da
empresa foi tratada diretamente com o tesoureiro da campanha de Dilma, o
atual ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência,
Edinho Silva.
Preso desde novembro do ano
passado e hoje em regime de prisão domiciliar, o empresário negocia
desde janeiro com o Ministério Público Federal um acordo para colaborar
com as investigações em troca de uma pena reduzida.
Nos contatos com os procuradores e
no documento em que indicou as revelações que está disposto a fazer
caso feche o acordo, Pessoa descreveu de forma vaga sua conversa com
Edinho, mas afirmou que havia vinculação entre as doações eleitorais e
seus negócios na Petrobras.
O empreiteiro contou ter se
reunido com Edinho a pedido do então tesoureiro do PT, João Vaccari
Neto, apontado como o principal operador do partido no esquema de
corrupção descoberto na Petrobras e hoje preso em Curitiba.
As doações à campanha de Dilma
foram feitas legalmente. Segundo os registros do TSE (Tribunal Superior
Eleitoral), foram três: duas em agosto e outra em outubro de 2014, dias
antes do segundo turno da eleição.
Se Pessoa fechar o acordo de
delação premiada com os procuradores, ele terá então que fornecer provas
e detalhar suas denúncias em depoimentos ao Ministério Público e à
Polícia Federal.
Em janeiro, Pessoa já havia
indicado sua disposição de falar sobre a campanha de Dilma Rousseff em
documento escrito na cadeia e publicado pela revista “Veja”. “Edinho
Silva está preocupadíssimo”, escreveu o empresário.
CAIXA DOIS
Pessoa também afirmou aos
procuradores que fez contribuições clandestinas para a campanha do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à reeleição, em 2006, e a do
prefeito petista de São Paulo, Fernando Haddad, em 2012.
O empreiteiro disse que deu R$
2,4 milhões à campanha de Lula, via caixa dois. O dinheiro teria sido
trazido do exterior por um fornecedor de um consórcio formado pela UTC
com as empresas Queiroz Galvão e Iesa e entregue em espécie no comitê
petista.
Pessoa afirmou também que, a
pedido de Vaccari, pagou outros R$ 2,4 milhões para quitar dívida que a
campanha de Haddad teria deixado com uma gráfica em 2012. O doleiro
Alberto Youssef, outro operador do esquema de corrupção na Petrobras,
teria viabilizado o pagamento.
Segundo o empreiteiro, o valor
foi descontado de uma espécie de conta corrente que ele diz ter mantido
com Vaccari para controlar o pagamento de propinas associadas a seus
contratos na Petrobras.
Pessoa também promete revelar às
autoridades detalhes sobre seus negócios com o ex-ministro da Casa Civil
José Dirceu, que hoje cumpre prisão domiciliar por seu envolvimento com
o mensalão.
O empreiteiro, que pagou R$ 3,1
milhões à empresa de consultoria de Dirceu entre 2012 e 2014, diz que o
contratou para prospectar negócios no Peru, mas afirmou aos procuradores
que a maior parte dos repasses foi feita após a prisão do ex-ministro,
para atender a um pedido de ajuda financeira da sua família, em razão de
sua influência no PT.
OUTRO LADO
O PT rejeitou as acusações do
empresário Ricardo Pessoa e afirmou em nota que todas as doações à
campanha da presidente Dilma Rousseff em 2014 foram feitas de acordo com
a legislação eleitoral.
O partido ressaltou que as contas da campanha de Dilma foram aprovadas por unanimidade na Justiça Eleitoral.
A assessoria do ministro Edinho
Silva, chefe da Secretaria de Comunicação Social, que foi o tesoureiro
da campanha presidenical, informou que a nota do PT deveria ser
considerada sua reposta às alegações do empreiteiro.
A Presidência da República e a
assessoria do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disseram que não
fariam comentários sobre o assunto.
O prefeito de São Paulo, Fernando
Haddad, afirmou que as doações à sua campanha foram todas feitas de
acordo com a lei, e que as dívidas foram absorvidas e quitadas
posteriormente pelo PT.
O advogado Luiz Flávio Borges
D’Urso, que defende o ex-tesoureiro petista João Vaccari Neto, disse que
ele só captou doações legais para o partido e não participou do esquema
de corrupção descoberto na Petrobras.
O advogado do ex-ministro José
Dirceu, Roberto Podval, informou que seu contrato de consultoria com a
UTC tinha como objetivo prospectar negócios no Peru, sem qualquer
relação com a Petrobras.
Alguém, por favor, ajude este
desorientado blogueiro: o que é, diabos, que há de novo nas notícias
recém-publicadas sobre as denúncias do empreiteiro Ricardo Pessoa? O que
é que ele acrescentou ao que já havia dito que justifique que a mídia e
a oposição façam esse estardalhaço e digam que, à luz das "novas"
revelações, há que tirar o mandato de Dilma Rousseff?
O que esse estardalhaço todo
significa é, no fim das contas, um imenso desrespeito pela opinião
pública, obviamente vista pela mídia e pela oposição como desmemoriada,
idiotizada, incapaz de juntar fatos escandalosamente óbvios e deles
tirar uma simples conclusão.
Infelizmente, pensando bem, tanto a
mídia quanto a oposição têm boas doses de razão para enxergar assim a
sociedade brasileira, ou ao menos sua maioria esmagadora.
Nenhum comentário:
Postar um comentário