Quatro carvoeiros foram submetidos a
condições degradantes e jornadas exaustivas. Caso é o segundo envolvendo
família do deputado federal(hoje senador) Ronaldo Caiado (DEM-GO)
O pecuarista Antônio Ramos Caiado Filho, tio do deputado federal Ronaldo Caiado (DEM-GO), está entre os 91
incluídos pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) na atualização
semestral da relação de empregadores flagrados com trabalho escravo,
a chamada “lista suja”. Ele foi considerado responsável por submeter
quatro pessoas a condições degradantes e a jornadas exaustivas na
produção de carvão em sua fazenda em Nova Crixás, cidade localizada a
400 km de Goiânia e um dos redutos eleitorais da família. Os resgatados
afirmaram que foram obrigados a cumprir jornadas de até 19 horas
seguidas, “das 2h às 21h”, nas palavras de um dos trabalhadores.
Os carvoeiros trabalhavam no local há cerca de um ano quando equipe
de fiscais do MTE, procuradores do Ministério Público do Trabalho (MPT) e
agentes da Polícia Rodoviária Federal chegaram ao local, em abril de
2013. Os trabalhadores produziam carvão vegetal em 12 fornos,
sem qualquer equipamento de proteção individual como máscaras ou luvas.
Eles trabalhavam vestindo chinelos e bermudas, sujeitos a contato direto
com o pó e a fumaça resultantes da queima do carvão.
Os trabalhadores também moravam no local, mas seus alojamentos
estavam em condições precárias. A fiscalização apurou que eram barracos
construídos “com placas de cimento e telha de amianto” próximos às
carvoarias, “situação que somada ao forte calor da região (36º C) e à
falta de ventilação dos locais, deixava quase insuportável a permanência
dos trabalhadores”, de acordo com o relatório produzido. Além disso, as
camas eram improvisadas e os colchões fornecidos estavam “imundos”. Os
auditores fiscais também verificaram que as jornadas de trabalho iam
muito além do regular. Uma das vítimas afirmou que trabalhava “das 2h às
21h e ainda acordava algumas vezes durante a noite para ‘corrigir os
fornos’”
Na fazenda em que os trabalhadores foram resgatados são criadas 2.500
cabeças de boi ao longo de 6.400 hectares – o equivalente a 15 mil
campos de futebol. O pecuarista nega ter responsabilidade sobre as
condições a que os carvoeiros foram submetidos. Ele afirma que a área
havia sido cedida em regime de comodato a um terceiro, e que nunca
sequer foi ao local em que a produção de carvão acontecia. Afirma ainda
que a madeira é resultante de árvores que pegaram fogo na fazenda e que
foram vendidas por 10 mil reais para o carvoeiro, que escravizou o grupo
para processar o material.
De acordo com o relatório de fiscalização, porém, “não há nenhum
indício de que tal contrato fora firmado contemporaneamente à
pactuação”, e que, além disso, ele não poderia ser considerado legal,
porque não havia licença ambiental para a extração de madeira na área. A
fiscalização concluiu ainda que o acordo “mais se assemelha à figura
jurídica da parceria extrativista, em razão da existência de partilha de
produtos e lucros da atividade desenvolvida”, já que o pecuarista
também tirou proveito econômico da situação. Segundo os auditores, o
produtor de carvão também removia árvores da fazenda de Antônio para
transformar em carvão e, consequentemente, aumentar a área do pasto.
Na Justiça
O tio do deputado defende que a fiscalização tem cunho político. “Querem criar caso comigo, prejudicar talvez o Ronaldo [Caiado]… Não sei a origem dessa história”, diz o fazendeiro, que nega que lucrou com a escravidão de pessoas em sua fazenda. “É tudo mentira. Não vão provar nunca, se quiserem me responsabilizar por isso, vão responder”.
Após o flagrante, os advogados de Antônio entraram com processo na Justiça do Trabalho
contra a Superintendência do Trabalho e Emprego de Goiás (SRTE-GO) e
tentaram, via liminar, impedir que Antônio fosse incluído na “lista
suja”, a exemplo do que fizeram a OAS e o grupo GEP. O pedido, no entanto, não foi aceito pelo juiz do caso. Ao entrar na relação, Antônio e os demais empregadores ficam
impossibilitados de receber financiamentos públicos e de diversos
bancos privados, além de não conseguir fazer negócios com as empresas
signatárias do Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo.
Deputado denunciou “escravidão” de médicosRonaldo Caiado fez denúncias em fevereiro deste ano de que médicos do programa Mais Médicos, do governo federal, estariam sendo “escravizados”. Ele e seu partido, o Democratas, ofereceram abrigo para a médica cubana Ramona Matos Rodriguez, que abandonou o programa. O uso do termo “escravidão” para definir a situação dos profissionais do programa é considerado exagerado por quem atua no combate a este crime no Brasil. |
Família Caiado
É o segundo caso de trabalho escravo envolvendo a família do parlamentar. Em 2010, 26 trabalhadores foram resgatados em fazenda de propriedade de Emival Ramos Caiado, primo do deputado e irmão de Antônio. O parlamentar, que cumpre sua quinta legislatura, foi um dos 29 deputados que votaram contra a PEC do Trabalho Escravo em 2012, e tem se pronunciado em favor da mudança da definição de escravidão contemporânea na lei brasileira. Hoje, este crime está previsto no Artigo 149 do Código Penal, que inclui a caracterização de escravidão por condições degradantes e jornadas exaustivas.
É o segundo caso de trabalho escravo envolvendo a família do parlamentar. Em 2010, 26 trabalhadores foram resgatados em fazenda de propriedade de Emival Ramos Caiado, primo do deputado e irmão de Antônio. O parlamentar, que cumpre sua quinta legislatura, foi um dos 29 deputados que votaram contra a PEC do Trabalho Escravo em 2012, e tem se pronunciado em favor da mudança da definição de escravidão contemporânea na lei brasileira. Hoje, este crime está previsto no Artigo 149 do Código Penal, que inclui a caracterização de escravidão por condições degradantes e jornadas exaustivas.
Deputados e senadores da Frente Parlamentar da Agropecuária, a
chamada Bancada Ruralista, da qual Ronaldo Caiado faz parte, têm
defendido uma nova definição mais restrita, que contemple apenas ameaças
físicas e medidas diretas de cerceamento de liberdade. A pressão por
mudanças na definição levou a Organização Internacional do Trabalho
(OIT) a se posicionar, em novembro de 2013, a favor do conceito atual.
A aprovação da PEC do Trabalho Escravo, promulgada como Emenda Constitucional 81,
é considerada uma ameaça pelos ruralistas porque a medida prevê a
expropriação de propriedades onde for flagrado o trabalho escravo.
Ronaldo Caiado, além de integrante da Bancada Ruralista, é um dos
fundadores e ex-presidente da União Democrática Ruralista (UDR),
entidade criada com o objetivo de garantir e proteger a propriedade
privada no campo.
Procurado pela Repórter Brasil, o deputado informou, por meio de sua assessoria, que não tem relação com o caso e não iria se posicionar s sobre o assunto.
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