segunda-feira, 27 de outubro de 2008

O IMPRENSALÃO FEDE

Pois é. Eu disse a vocês que a Veja me deu uma assinatura grátis. Nas últimas capas, a Veja transformou-se em revista de saúde e beleza. A anterior falava sobre câncer de próstata, a atual sobre mulheres. Espertinha, a revista, lobo se vestindo de cordeiro. Mas o lobo está no conteúdo. Não perco meu tempo lendo matéria nenhuma, mas conferi o índice e fiquei (tolamente) curioso sobre uma sessão intitulada blogosfera. Para quê? Eles reproduzem ali um trecho do blog do Reinaldo Azevedo, e de um comentarista de seu blog. O título é: país dos assassinos impunes. Mas o trecho não fala de Pimenta Neves, homicida confesso que matou fria e calculadamente a sua jovem namorada, a jornalista Sandra Gomide. Não, claro que não. O texto acusa o pai de Eloá, a menina morta recentemente em São Paulo com um tiro na cabeça, por seu ex-namorado. O pai de uma menina que acaba de ser assassinada! E por incompetência notória da polícia de São Paulo. Incompetência tão brutal que nem a mídia corporativa, caninamente serrista, conseguiu esconder.
A preocupação em blindar o governador José Serra atinge tal paroxismo de ridículo e desespero, que o pai da vítima, um sujeito já destroçado pela morte brutal de sua filha, agora é perseguido pela mídia por um crime que cometeu em Alagoas, há muitos anos, e sobre o qual a imprensa possui escassa informação. Um crime talvez político, talvez em legítima defesa, não sei. O que me espanta é a despudorada tentativa de desviar a atenção do público de uma colossal incompetência de hoje para um crime antigo. Para mim, o pai da Eloá deveria inclusive ser anistiado pela Justiça brasileira, em paga ao sofrimento de ter sua filha morrido de forma tão estúpida nas mãos de um jovem imbecil. Se o Pimenta Neves nunca foi preso por ter matado uma jovem jornalista, bonita, pura e inteligente porque o pai de Eloá, que acaba de ver sua filha ser morta pela inépcia da polícia serrista, deve sê-lo por matar um delegado?

E tudo isso depois da mídia, Globo à frente, ter dado, por incrível que pareça, um final feliz à tragédia da família Eloá. O confete jogado sobre a doação dos órgãos da vítima pode ter o efeito positivo de estimular outras famílias a seguirem o mesmo exemplo, mas é um caso inédito na tv brasileira e só ocorreu quando a reputação de José Serra se viu sob suspeita.

Os fariseus, vocês lembram, eram uma seita judaica, da época anterior e contemporânea à Cristo, que se caracterizava pelo excessivo (e apenas aparente) rigor no cumprimento às normas escritas. No Velho Testamento, e depois na literatura ocidental, os fariseus foram imortalizados como símbolo da hipocrisia, do individuo que aparenta ética e santidade, não a tendo. Vendo a indignação de Reinaldo Azevedo para com a impunidade do pai de Eloá, não posso deixar de compará-lo aos velhos fariseus de sempre. Os quais, dizem os livros sagrados, tanto sofrimento trouxeram à humanidade, que acabaram condenados, por Deus, à danação eterna.

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