Rareiam análises objetivas sobre a nova configuração eleitoral. A ansiedade ideológica e partidária mancha jornais de azul e amarelo e a esquerda, encurralada nos recantos obscuros (ou nem tanto) da web, entoa hinos de vitória. Por outro lado, creio que as pessoas minimamente esclarecidas já desenvolveram um criticismo saudável para navegar neste nevoeiro.
O linguista Noam Chomsky ensina que é possível se informar através da mídia corporativa, desde que se o faça filosoficamente, com estoicismo, evitando paixões e úlceras. Outra grande descoberta de Chomsky: ouça o que seus adversários têm a dizer. Acredite neles. Deixe-os tropeçar em suas contradições. Em se tratando de imprensa, não existe nada mais constrangedor do que entrar em contradição. Quer dizer, até pouco tempo atrás a imprensa tocava suas contradições tranquilamente. A internet surgiu como um dedo acusador, um gigantesco, ubíquo, onisciente e incansável umbudsman. A internet é o verdadeiro umbudsman da imprensa, visto que por mais que os jornais contratem pessoas idôneas para desempenhar esse papel, todos os conceitos lógicos sobre o homem, sua psicologia e sua inexorável dependência de proteínas, apontam a dificuldade de ser independente perante quem lhe paga o salário.
Há um fato novo político que os analistas ainda não detectaram: a interpretação dos resultados eleitorais escorregou das mãos corporativas da mídia e caiu no colo de blogs e sites independentes. Independência de opinião, lembre-se, não significa apartidarismo ou neutralidade e sim liberdade política, financeira e profissional. Analistas políticos profissionais muitas vezes não são independentes porque dependem da mídia para sobreviverem e, por isso, sacrificam sua liberdade em troca de pão.
Os fatos são os seguintes: a oposição perdeu votos, perdeu cidades, e os partidos da base aliada ganharam eleitorado e ganharam mais cidades. Simples. Se Lula deu um banho em 2006 do jeito que as coisas estavam, agora terá um arsenal partidário e administrativo ainda mais vigoroso para vencer novamente em 2010. As chances de Lula eleger um sucessor, portanto, fortaleceram-se. A batalha pelo poder no Brasil já começou. A mídia tem seu lado, o que tornam as vitórias da esquerda ainda mais saborosas, com implicações sociológicas ainda mais profundas não apenas sobre a economia brasileira, mas também sobre o futuro dos meios de comunicação.
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