segunda-feira, 27 de outubro de 2008

O PT NA FASE ADULTA



“O PT de 1988 sabia aonde queria chegar. O de 2008 quer apenas permanecer onde está”

Por Gustavo Krieger - Correio Braziliense



Há 20 anos, acompanhei a eleição de Olívio Dutra para a prefeitura de Porto Alegre. Foi a primeira vez que experimentei uma sensação que depois se tornaria familiar. A de estar assistindo a um momento importante da história, daqueles que deixam marcas e mudam o futuro. O bigodudo Olívio, que saíra do Sindicato dos Bancários para fundar o PT, era um dos primeiros integrantes do partido de Lula a conquistar uma fatia importante de poder. Ao mesmo tempo, outra petista, Luiza Erundina, conquistava a prefeitura de São Paulo e colocava o partido no comando da maior cidade do país. O PT começava a se tornar protagonista da política nacional.

Hoje, de volta a Porto Alegre para cobrir uma nova eleição municipal, volto a sentir que algo importante está acontecendo. Desta vez com as derrotas do PT. Em Porto Alegre, cidade que governou por 16 anos, entre 1989 e 2004, o partido nunca conseguiu dar a impressão de que tinha chances de vencer. Sua candidata, Maria do Rosário, considerou uma vitória chegar ao segundo turno. Em São Paulo, a ex-prefeita Marta Suplicy passou todo o segundo turno sem sequer ameaçar a liderança de Gilberto Kassab (DEM), um político que chegou à prefeitura como vice do tucano José Serra e era um desconhecido da cidade que governava até o início da campanha. Nas duas cidades, o partido teve dificuldades para mobilizar militantes e enfrentou um significativo contingente de voto antipetista, em especial na classe média.

Além dessas duas derrotas, o PT ficou de fora do segundo turno no Rio de Janeiro. Em Belo Horizonte emplacou apenas o candidato a vice de Márcio Lacerda (PSB), em um polêmico acordo com o governador Aécio Neves (PSDB), que rachou a legenda. Diante desses resultados, se poderia pensar que o PT começa a perder aquele protagonismo iniciado em 1988, certo? Errado. O PT sai dessas eleições mais forte do que entrou. Ganhou 150 novas prefeituras, além de centenas de outras em alianças. Cravou sua estrutura com muita força no interior e nas cidades médias.

Na Região Metropolitana de Porto Alegre, conquistou quase todas as cidades importantes. Fez o mesmo na Grande São Paulo e na região do ABC. Aumentou o número de vereadores e as cidades nas quais está representado. Tudo indica que essa estrutura ajude a aumentar ainda mais sua bancada nas eleições de 2010.Nos anos 80, o PT era o partido da classe média e dos grandes centros urbanos. As legendas mais conservadoras ficavam com o interior, que os petistas tratavam como “grotões”. Também controlavam uma parcela importante dos votos dos brasileiros mais pobres, em grande parte pela troca de favores e por política clientelistas.

Duas décadas depois, o PT está numa transição entre os dois mundos. Cresceu nos grotões, mesmo que ainda não tenha se tornado a força majoritária neles. E enfrenta problemas nas maiores cidades, embora seus candidatos sejam competitivos, capazes de alcançar vitórias ou pelo menos garantir uma vaga no primeiro turno. O PT de 1988 era sustentado pela militância. O de hoje tem acesso aos grandes doadores de campanha. Na campanha presidencial de 2006, as pessoas físicas foram responsáveis por apenas R$ 500 mil dos quase R$ 105 milhões gastos para reeleger Lula. O partido de hoje é maior, tem mais votos e muito mais dinheiro. Mas também está mais velho e desgastado.

O PT de 1988 sabia aonde queria chegar. Tenho a sensação de que o de 2008 quer apenas permanecer onde está.

Transferência

Quando Márcio Lacerda (PSB) não conseguiu vencer em primeiro turno a eleição em Belo Horizonte, o resultado embasou muitas análises sobre a dificuldade de transferir votos. A candidatura de Lacerda é resultado de uma aliança entre o governador Aécio Neves (PSDB) e o prefeito Fernando Pimentel (PT), com o apoio do presidente Lula. Três padrinhos com excelente avaliação e altos índices de popularidade. O fato de o candidato apoiado por eles ter de enfrentar o segundo turno foi tomado por muitos como um sinal de que o poder de transferência de votos tinha limites claros.

Pois veio o segundo turno e Lacerda, que era considerado morto há três semanas, venceu com boa vantagem. A mesma que se esperava que ele obtivesse no segundo turno. Das duas uma: ou ele adquiriu uma impressionante musculatura política própria em poucos dias ou voto se transfere sim.

As eleições municipais deste ano foram a vitória do continuísmo. Prefeitos candidatos à reeleição ou os nomes apoiados por quem comanda a cidade ou o estado ganharam a maior parte das cidades importantes. De Gilberto Kassab em São Paulo a Márcio Lacerda. O presidente Lula e os governadores tucanos José Serra e Aécio Neves saem fortalecidos como eleitores.

Um comentário:

O TERROR DO NORDESTE disse...

João Sérgio, pois é. Ah! estou precisando de sua ajuda pra fazer um banner contra a indicação de José Jorge Apagão para o TCU.