quarta-feira, 29 de outubro de 2008

FORA, BANDO DE ENTREGUISTA!

29 DE OUTUBRO DE 2008

Saudosos do Proer, tucanos não se conformam com MP 443


Após a publicação da Medida Provisória 443, a oposição saiu reclamando que, ao contrário do Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional (Proer), as ações adotadas pelo governo Lula possibilitam que os bancos públicos participem do controle acionário de bancos privados que, eventualmente, venham a ter problema de liquidez. “O critério mais transparente seria um semelhante ao Proer, em que o governo financiaria bancos privados para comprarem outras instituições. Agora está se partindo para a estatização sem licitação”, disse o deputado Paulo Renato de Souza (PSDB-SP).


Segundo o parlamentar tucano, “a negociação era no mercado. Agora, o governo vai comprar diretamente o banco. Estão injetando dinheiro público diretamente na veia. O Proer era um programa com início, meio e fim”.

Para o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), o Estado ter controle sobre o sistema financeiro é “um passo atrás”, bom mesmo era o Proer, instituído por Fernando Henrique em 1995, que tinha início, meio e fim: “sanear” os bancos para possibilitar a concentração e a desnacionalização do setor. O programa consumiu oficialmente R$ 20,359 bilhões, mas os cálculos feitos pelos economistas Pedro Saínz e Alfredo Calcagno, da Cepal, apontam um total de R$ 43,4 bilhões. Em ambos os casos, em números da época.

Foi com base nesse “critério transparente” que o Excel Econômico foi transferido compulsoriamente pelo BC ao espanhol BBV pelo valor de um real, com o restante sendo lançado como prejuízo, e o Bamerindus, tomado pelo inglês HSBC.

Parlamentares do DEM, linha-auxiliar do PSDB em assuntos econômicos, também reclamaram do "poderamento" do Estado. O líder do DEM no Senado, Agripino Maia (RN), propôs ao ministro da Fazenda Guido Mantega a fixação de limite de um ano para a vigência da Medida Provisória 443. O DEM quer ainda fixar limite de recursos que serão usados e estabelecer critérios para a definição de instituições que poderão ser compradas. Além disso, o partido insistirá em deixar com o Tesouro Nacional, e não com o Banco do Brasil e com a Caixa Econômica Federal, as aquisições autorizada pela MP. O líder do governo na Casa, Romero Jucá (PMDB-RR), ironizou a proposta. Segundo ele, para dar prazo à MP a oposição vai ter que "combinar com o mercado" a data para o fim da crise.

"Não vamos dar prazo de validade porque não temos prazo de validade para a crise. Se a oposição combinar com o mercado internacional e tiver prazo de validade da crise nós também colocaremos prazo de validade nos mecanismos brasileiros", alfinetou Jucá.

O senador Antonio Carlos Júnior (DEM-BA), filho de ACM, foi mais explícito. Para o parlamentar, dar tal poder a esses bancos (BB e Caixa) "é politicamente perigoso e pode ser economicamente desastroso", já que estaria envolvido dinheiro público.


Contudo, problema mesmo para a oposição é o fato de que os bancos privados estrangeiros, verdadeiro farol para os tucanos e assemelhados, estão agora todos no limbo, com suas montanhas de derivativos valendo tanto quanto uma nota de três dólares.

A grita dos tucanos e demistas ganhou força depois que o jornal O Estado de S. Paulo, porta-voz do conservadorismo da elite paulista e do sistema financeiro deu a ordem em editorial: "A reviravolta no cenário de bonança, entre outros efeitos, obrigará o presidente a governar, como diz o deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA), e desafiará a oposição a assumir finalmente esse papel, o que a rigor só aconteceu na era Lula quando a questão em jogo dizia respeito à corrupção. Agora, caberá ao bloco oposicionista formular alternativas para circunscrever até onde é possível o contágio da crise, começando pela apresentação de mudanças substanciais à MP 443, a que dá ao Banco do Brasil e à Caixa o poder de comprar instituições financeiras e empresas em geral", ordena o Estadão.

Lula defende papel do Estado como regulador

Na contra-mão dos neoliberais tucanos e demistas que têm alergia ao protagonismo do Estado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta terça-feira (28) que "chegou a hora da política", ao defender papel do Estado como regulador do sistema financeiro. Em Salvador, onde participou da 9ª Cúpula Brasil-Portugal, Lula se colocou contrário aos que defendiam o liberalismo econômico sem a interferência do poder público.


“Teve uma época, por muito tempo, em que os políticos andaram de cabeça baixa diante do neoliberalismo. O que estou defendendo não é o Estado se intrometer na economia, mas é o Estado que tenha força política para regular o sistema financeiro”, disse o presidente no pronunciamento que fez, ao lado do primeiro-ministro de Portugal, José Socrates.


“Fomos eleitos, assumimos compromissos com o povo, e o Estado, diante da crise mundial, volta a ter papel extraordinário, porque todas essas instituições que negaram o papel do Estado na hora da crise procuram o Estado para socorrê-las da crise que elas mesmo criaram”, afirmou Lula.


Lula enfatizou que os setores da economia devem concentrar seus esforços em ganhar dinheiro com a produtividade. “O sistema financeiro tem obrigação de ganhar o seu dinheiro em coisas que gerarão empregos, produtos, riqueza. Não podemos permitir que o sistema financeiro mundial brinque com a sociedade. Não podemos admitir que alguém fique rico apenas trocando papéis e poucas vezes se gerou um paletó, uma bota e um alfinete”.


O primeiro-ministro de Portugal, José Socrates, apoiou a colocação do presidente Lula e disse que em Portugal a ação do governo foi a mesma tomada no Brasil, com o objetivo de minimizar os efeitos da crise na economia interna: a de dar mais liquidez aos bancos.


“Concordo com o presidente Lula quando ele diz que chegou a vez da política. Esse é um momento decisivo e Portugal e Brasil querem ação, não inação, fingir que nada aconteceu”, afirmou o chefe de Estado de Portugal, ao se referir às ações para o combate à crise econômica.


Para Socrates, a crise mundial funcionou como um divisor de águas. Ele ressaltou que não se trata de uma crise cíclica e sim de uma crise grave, “que acontece apenas uma vez na vida de cada pessoa”.

“Existe um antes e um depois da crise mundial. Antes, existia um pensamento único de que qualquer intervenção do Estado seria de forma burocrática, com finalidade de aumentar imposto. Hoje há o entendimento de que é necessária a ação da política para construir essa nova ordem mundial econômica de uma globalização mais justa”, ressaltou.

Da redação,
Com agências

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