sábado, 25 de outubro de 2008

UMA TRAGÉDIA DE ERROS


24/10/2008

Redação CartaCapital

Os fatos teimam em expor a fragilidade da política de segurança do governo de José Serra. Depois de 40 dias de impasse e um incidente que causou mais de 20 feridos na porta do Palácio dos Bandeirantes, a administração estadual finalmente saiu da letargia e decidiu negociar com a Polícia Civil em greve. Mandou cinco projetos de lei para a apreciação dos deputados, com previsão de aumento de 6,5% em janeiro de 2009 e igual porcentual em janeiro de 2010. Os policiais, que reivindicam 15% de aumento imediato e novos reajustes em 2009 e 2010, decidiram continuar parados. Na quarta-feira 22, os grevistas foram à Assembléia Legislativa pressionar os parlamentares.

No caso da adolescente Eloá Pimentel, de 15 anos, mantida refém pelo ex-namorado, em Santo André, na região do ABC, o desfecho trágico foi o final de uma história cheia de desacertos da parte dos responsáveis pela arrastada negociação. Ao fim dos quatro dias em que Eloá foi mantida em cativeiro, a decisão do Batalhão de Choque da Polícia Militar de invadir o apartamento, na sexta-feira 17, resultou na morte da refém, vitimada por um tiro na cabeça supostamente disparado pelo seqüestrador.

A ordem de invasão foi dada após os policiais localizados no entorno do prédio terem ouvido dois estampidos que teriam saído do apartamento. Após o primeiro, o comando da PM à frente das negociações conversou por telefone com o seqüestrador. A resposta foi que estava “tudo bem”. Quando ouviram o que seria o segundo tiro, horas após o primeiro, decidiram invadir. Imaginaram que Lindemberg Alves, o ex-namorado de 22 anos, atirara em Eloá ou em sua amiga, Nayara Rodrigues, outra mantida em cativeiro e atingida no rosto durante a ação policial. E também porque Lindemberg se comportara “de forma agressiva” durante as negociações. Na hora de explodir a porta para entrar no apartamento, calcularam mal a carga e foi preciso gastar mais alguns preciosos segundos até que enfim fosse derrubada.

Em depoimento, Nayara afirmou que Lindemberg não havia disparado nenhum tiro. Segundo a adolescente, o som lembrava mais o de um chute na porta, do lado de fora do apartamento. “O Gate tem a minha confiança, a da sociedade e a do governo. Respeito as declarações dela (de Nayara), mas se trata de uma jovem de 15 anos que pode estar confusa”, afirmou o coronel Eduardo Félix, comandante do Batalhão de Choque. Mais tarde, Félix admitiu que a polícia também pode estar enganada em relação ao ruído.

Especialistas em segurança criticaram principalmente o fato de a PM ter permitido a volta ao cativeiro de Nayara, uma das exigências do seqüestrador. A decisão da polícia levou ao desespero os pais da menina, que não foram consultados previamente.

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