segunda-feira, 27 de outubro de 2008

PERFIL DOS ELEITORES DO DEMO-TUCANO


Endinheirados paulistanos fazem do dia de eleição uma tarde de lazer


Domingo de eleições. A movimentação começa nos arredores da região que compreende a Praça Vilaboim, no bairro de Higienópolis, vizinha à casa do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, um dos metros quadrados mais caros de São Paulo. Pessoas deixam seus carros na porta de bares e restaurantes sofisticados e o trânsito das ruas Avaré e Armando Penteado perde velocidade até parar. Carros altos, imponentes, com dois escapamentos, fazem fila dupla à espera de manobristas dos estacionamentos.

Jovens descolados exibem suas tatuagens, roupas de grife e gastam a tarde de 30 graus acompanhados de cervejas internacionais, prosecco, pratos leves, um peixe, um frango. Ali perto, no maior colégio eleitoral de São Paulo, a escola e faculdade presbiteriana Mackenzie, o exercício da cidadania é repleto de pompa e purpurina. Maquiagem e cabelo impecável parecem pré-requisitos para circular na região. Além da sofisticação e elegância, o voto é quase um passeio familiar para quem ia escolher entre a petista Marta Suplicy e o democrata Gilberto Kassab. Cachorros limpinhos e bem brancos esperam,presos ao portão do colégio, os donos votarem. O 2º turno não alegra apenas aos cães, aparentemente atônitos com tanto movimento. Traz felicidade e dinheiro ao bolso de comerciantes de rua. A barraca de pastel, o vendedor de milho, a moça da tapioca, a "tia" da pamonha fazem boca-de-urna, disputando não o voto, mas o estômago do eleitor

No 1º turno, o ex-governador e candidato à Prefeitura de São Paulo pelo PSDB, Geraldo Alckmin, fez uma breve visita ao bairro e se rendeu ao pastel de feira, definido por ele como o "verdadeiro e saboroso pastel".

O gosto popular é deixado de lado quando o assunto é política. As pessoas até tentam, mas não conseguem disfarçar a aversão ao Partido dos Trabalhadores e, como conseqüência, a rejeição à candidata Marta Suplicy.

Rodrigo da Silva Ferreira vota em Florianópolis, mas mora no bairro e não se intimida em defender a sua classe social. "A elite vai atrás de quem a represente melhor. Nessa região, poucas pessoas votam na Marta. Aqui é Kassab", afirma.

Falar com a imprensa não é algo que agrade os eleitores do Mackenzie. Preocupadas em revelar a idade, o voto, o nome, a profissão, inúmeros eleitores – com destaque especial para as mulheres - se recusaram a dar entrevista.

Muitos afirmam que votar é uma atitude protocolar, que atrapalha e diminui o tempo hábil para bater perna e fazer compras no shopping. Outros, entretanto, saem em defesa dos mais abastados e afirmam que os ricos votam com responsabilidade.

De salto alto, cabelos loiros arrumados, roupa impecável e moderna maquiagem, Stella Blandi foi à sessão eleitoral votar. Para ela, escolher um novo prefeito é algo extremamente burocrático. "Só voto para cumprir protocolo". Moradora do Higienópolis há mais de 20 anos, Blandi define Kassab como o "representante da elite".

A opinião de Freitas também é defendida por uma senhora que preferiu não se identificar. "A elite está, sim, muito interessada na política". Entretanto, a eleitora questiona até que ponto Higienópolis representa a elite paulista. "Será que essa região é a elite? Será que todo mundo aqui tem cultura, dinheiro?".
Colaboração da amiga Catarina Escobar.

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