sábado, 25 de outubro de 2008

PALAVRA DE QUEM ENTENDE DO ASSUNTO

País não é município


Mauricio Dias

O cientista político Jairo Nicolau, do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), tem uma má notícia para os especuladores, jornalistas ou acadêmicos que olham os resultados das eleições municipais e prevêem o futuro.

“Não existe relação nenhuma entre uma eleição e outra. As tentativas de nacionalização das eleições municipais e o esforço para municipalizar as eleições nacionais atestam um fracasso desastroso para essa especulação”, afirma Nicolau.

Especialista em sistemas eleitorais, ele testou as correlações entre as últimas três eleições presidenciais (1998, 2002 e 2004) com os pleitos municipais anteriores (1996, 2000 e 2004) e não encontrou nenhuma consistência, nada que sustente esse mito.

Quando se trata de voto, o futuro não depende do presente. Mas a imprensa serrista tem insistido nesse ponto. O exemplo mais emblemático é o caso de São Paulo. O objetivo é transformar uma eventual derrota de Marta Suplicy em um fato capaz de abalar o projeto futuro de Lula e aliados.

Nesse sentido especula-se, também, com o caso de uma vitória de Fernando Gabeira (PV), no Rio de Janeiro. Mas também há suposições sobre Belo Horizonte, com a derrota de Márcio Lacerda (PSB) – apoiado pelo governador Aécio Neves (PSDB) e pelo prefeito Fernando Pimentel (PT). A vitória e a derrota, nesses dois casos, levariam água para o moinho do tucano. É uma tese suspeita.

Pode ser que dentro do arraial tucano isso tenha importância para alavancar a escolha do governador paulista como o melhor candidato à Presidência da República, em 2010. Para o eleitor, o efeito é nulo. Mesmo agora, quando o vento em Minas e no Rio parece ter mudado a direção, a conseqüência será a mesma.

Eleições municipais não são sinais do futuro político-eleitoral. Jairo Nicolau testou os casos do PT e do PSDB, os dois partidos que disputaram com chances reais as três últimas eleições presidênciais. “É isso que o teste mostra. Não há nenhuma relação entre os votos municipais do PT, em 2004, e a votação presidencial do PT em 2006. O mesmo acontece com as votações de Serra e Alckmin, do PSDB”, afirma Jairo Nicolau.

Ele fala com ironia da insistência dos jornalistas. E sobre eles joga um comentário ácido: “São risíveis quando insistem em falar da influência das eleições municipais nas eleições presidenciais”.

“A derrota ou a vitória não determinam rigorosamente nada. Acham importante Serra ter o apoio de Gabeira, por exemplo. Se ele for eleito e daqui a dois anos for mal avaliado, vai ser péssimo para o Serra subir no palanque com ele. O mesmo raciocínio se aplica ao candidato da coligação de Paes, caso seja ele o vencedor no Rio”, considera Nicolau.
Fonte:CartaCapital.

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