quinta-feira, 30 de outubro de 2008

O FASCISMO PROSPERA



por Wálter Fanganiello Maierovitch

ROMA. A cada período do dia tem uma manifestação de rua contra o governo Sílvio Berlusconi. Com isso, o tráfego está ruim até para os que usam bicicleta. E nas calçadas tem sempre alguém para pedir a sua assinatura, isto a fim de conseguir quorum para postulação de uma consultação popular, tipo referendo. Em resumo, protesta-se 24 horas por dia e, à noite, têm os debates televisivos, sempre com auditórios cheios.

No particular, Berlusconi e alguns dos seus ministros dão de bandeja motivos para protestos. Mais ainda, a sua ministra para a Igualdade, ex-miss Itália e no passado de modelo com fotos nuas em revistas, anima, com o seu despreparo e foras monumentais, --bem maiores do que o Coliseu--, os programas de humorismo no rádio e na televisão.

O ministro da Justiça, por exemplo, encaminhou à maioria parlamentar berlusconiana um projeto que se transformou em lei e voltado a suspender os processos criminais emcurso contra o primeiro-ministro (Berlusconi), o presidente do Senado, da Câmara e da República. A propósito, e por evidente, apenas Berlusconi é réu em processos criminais. Num deles, a instrução e os debates estavam concluídos. Ou seja, ia sair a sentença, que, em face das provas, os operadores do Direito apontavam para a condenação de Berlusconi, em co-autoria, por tentar corromper juízes.

Como essa legislação “ad-hoc” (contempla Berlusconi), -- que levou o nome de “Lodo Alfamo” (laudo Alfamo, nome do ministro da Justiça) pode ser inconstitucional, a procuradoria de Justiça já postulou a manifestação da Corte Constitucional. Enquanto isso, o parlamentar Antonio di Pietro, que iniciou a Operação Mãos Limpas quando era do ministério Público de Milão, colhe assinaturas de cidadãos italianos. Isto para ter legitimação ao seu pedido de consulta popular sobre a revogação da lei “ad-hoc”, o tal Lodo Alfamo.

A ministra da Educação, por sua vez, conseguiu unir e colocar, contra ela, universitários, pais, e professores nas ruas. Eles protestam contra duas normas. A primeira, nas escolas, prevê um só professor por classe, ou seja, o mestre tem de ser um sabe-tudo em língua italiana e estrangeira, geografia, história, matemática, literatura, filosofia, etc. Para a universidade, a ministra quer reduzir as verbas para pesquisas, cursos de pós graduação, etc.
Não bastasse, veio o racismo. Ou seja, a infeliz idéia de separar, em salas de aulas diversas, os imigrantes dos italianos. A integração cultural, a troca de experiências, a solidariedade, tudo foi esquecido. Berlusconi e a ministra da Educação, com essa forma de racismo, mostram, na verdade e lamentavelmente, temer as diferenças.

Quando os estudantes iniciaram os protestos, Berlusconi declarou, em jornais e televisões, que colocaria a polícia na repressão. No dia seguinte, em face das críticas sobre essa postura neofascista, Berlusconi, que prima pelo caradurismo, afirmou “jamais ter falado em convocar a polícia para reprimir estudantes”.

Ontem, o ministro da Administração pública, que não tem nenhuma competência para questões sobre Justiça e Magistratura (juízes e representantes do Ministério público) saiu a proclamar que colocaria catracas eletrônicas (tornelli) nos fóruns e tribunais. Tudo para controlar o horário de trabalho dos magistrados, que, segundo ele, comparecem poucas vezes, e ficam poucas horas por semana, nas salas de audiências e nos ofícios judiciais. No momento, o sindicato nacional dos Magistrados lavra uma representação, a ser endereçada ao Conselho da Magistratura, sobre a intromissão do tal ministro, que desconhece a separação dos Poderes e o autogoverno da Magistratura.

PANO RÁPIDO. Com a divisão da esquerda e a traição dos centristas, caiu o governo do então premier Romano Prodi. Aí, o centro-direita, com apoio dos neofascistas da Aliança Nacional e dos separatistas da Padânia, elegeram Berlusconi, como primeiro ministro. De quebra e depois de sete anos, foi eleito, para prefeito de Roma, um ultradireitista, ex-integrante da Juventude neofacista.

Aos curiosos, desejosos de saber o que estou fazendo aqui há mais de 30 dias, respondo que o trabalho que faço não tem nenhum vínculo com o governo Berlusconi.

Fonte: Blog do Wálter Fanganiello Maierovitch

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