Coisas da Política - Rodrigo de Almeida
Jornal do Brasil - 03/08/2009
Com a experiência de quem trabalhou nas vitoriosas campanhas de Sérgio Cabral para o Senado e o governo do Rio, e de Eduardo Paes para a prefeitura carioca, o publicitário Renato Pereira engrossa o coro segundo o qual o PSDB enfrentará uma pedreira na sucessão presidencial do ano que vem. Os tucanos precisarão resolver um dilema para o qual não estão contando nem com a sorte, nem com o tempo. Não será fácil, diz Pereira, vencer a candidata apoiada por um presidente cujo governo conserva a popularidade nas nuvens, preservada em meio a uma crise econômica internacional, com uma cartela de programas bem-sucedidos e um discurso público afinadíssimo.
Estivemos juntos numa mesa-redonda na semana passada, ao lado do cientista político Marcus Figueiredo. Professor do Iuperj, Figueiredo coordena ali o Laboratório de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública, o Doxa, hoje referência na investigação de processos eleitorais e de comunicação política no Brasil. O debate com Renato Pereira voltou-se para as nuances da primeira eleição presidencial, desde a redemocratização, sem Luiz Inácio Lula da Silva.
A primeira e habitual dúvida é a capacidade do presidente de transferir votos para a candidata. “As pesquisas feitas tanto pelo PT quanto pelo PSDB estão mostrando que, no ritmo de crescimento e exposição dos últimos meses, Dilma deve alcançar José Serra até o fim do ano”, afirma o publicitário. O risco da ministra-candidata, por outro lado, é a zona de sombra existente sobre seu comportamento em plena campanha: ela reagirá bem às rudezas da disputa, aos eventuais ataques, aos embates com a mídia? “Dilma dá conta do recado”, sugere. “Tem dado conta até aqui, quando confrontada sobre problemas como sua saúde, seu currículo e a crise”.
Que tucanos – Serra ou Aécio Neves – terão dificuldades em 2010 não chega a ser novidade. O interessante são os argumentos para explicá-las. O publicitário lembra três fatores-chave numa campanha: a avaliação do governo; o potencial de crescimento do(a) candidato(a), em que se olha para o grau de conhecimento e a imagem junto ao eleitor; e as narrativas construídas. Dessa tríade, Dilma e Aécio saem-se melhor do que Serra, na avaliação de Renato Pereira.
Seus argumentos: Dilma pela avaliação do governo Lula, porque tem muita margem para crescer e um discurso bem aceito pelo eleitorado, o discurso da continuidade de um governo bem-sucedido. Aécio porque exibe uma imagem de conciliação (não será um anti-Lula, portanto), tem potencial para crescer (ainda pouco conhecido, mas com baixa rejeição) e uma narrativa de campanha possivelmente mais eficaz do que Serra, mais voltada para a novidade na forma de fazer política.
Acrescento: o PSDB deixou-se levar, por convicção ou pelas circunstâncias, por um projeto de poder de formato conservador. É um modelo que só tem espaço para crescer pelo que tem de negativo (o contra, o medo, o antilulismo, o antiestado) do que pelo que poderia ter de positivo (um Estado eficiente e moderno, projetos e gestão de longo prazo, etc.). Nesse formato, o partido tornou-se dependente de um desgaste do governo e do presidente para agregar votos.
Renato Pereira lembra que a crise era “a grande janela de oportunidade” do PSDB. No fim das contas, porém, mostra-se cada vez mais parecida com a marolinha defendida pelo presidente Lula no alvorecer da turbulência internacional. Recebida com ironia e galhofa na época, a metáfora tem adquirido ares de realidade. Para desgosto tucano.
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